Um levantamento revela que Goiás teve mais de 74,7 mil tentativas de golpes em compras online ao longo de 2024, o que representa 1,5% dos pedidos realizados por meios digitais – percentual acima da média regional (1,2%) e da média nacional. Com um ticket médio de R$ 1.241, os prejuízos potenciais chegaram a R$ 92,6 milhões.
As principais categorias visadas foram eletrodomésticos (2,8% de tentativas de fraude), calçados (1,5%) e produtos de beleza (1,3%). O método de pagamento preferido pelos golpistas foi o cartão de crédito, embora modalidades como financiamentos tenham registrado os maiores valores por transação fraudulenta, com ticket médio de R$ 2.297. Também houve destaque para golpes aplicados com vales, como cartão presente e vale-alimentação.
Segundo Washington Reis, especialista em Direito do Consumidor (UFG) e em Direito Econômico (USP), os consumidores devem redobrar os cuidados ao fazer compras online. “Sites falsos, perfis de redes sociais clonados, boletos adulterados e preços irreais são sinais claros de alerta. Desconfiar é essencial. Sempre verifique o CNPJ da empresa, busque informações em plataformas como Jusbrasil, Reclame Aqui e, se possível, conte com a ajuda de um profissional ou familiar mais experiente.”
Ele ressalta que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, bancos e plataformas digitais têm responsabilidade objetiva em casos de falhas que resultem em fraudes. “Mesmo quando o golpe ocorre fora da plataforma, se houver negligência quanto à segurança das transações, elas podem ser responsabilizadas. O consumidor deve reunir provas, registrar um boletim de ocorrência e acionar os órgãos de defesa do consumidor.”
Reis alerta ainda sobre a importância de evitar compras por meio de links patrocinados desconhecidos, desconfiar de preços muito baixos, utilizar cartões de crédito virtuais (de uso único), nunca realizar pagamentos fora das plataformas oficiais, verificar se o site possui certificado de segurança e sempre guardar todos os comprovantes de transação. “O consumidor deve saber que tem direito a ressarcimento quando comprovada a falha na prestação do serviço. A responsabilidade dos bancos e das plataformas é objetiva”, reforça o especialista.
A dona de casa Leila, de 50 anos, já foi vítima de vários golpes. “Comprei uma chapinha de uma loja que apareceu no Instagram, parecia confiável. Paguei por Pix e nunca mais tive notícia. Sumiram com meu dinheiro.” Ela relata que também já caiu em golpe de loja de roupas. “Diziam que tinha troca fácil, entrega rápida… mas era tudo mentira. Fiz o pagamento e nunca recebi nada. Talvez eu tenha caído nesses golpes porque não tenho o costume de desconfiar das pessoas. Também não entendo muito de tecnologia. Agora, depois de tanto prejuízo, aprendi a pesquisar bem as empresas antes de comprar.”
Enquanto consumidores como Leila tentam se proteger e aprender com as experiências negativas, a Polícia Civil de Goiás atua no combate direto a quadrilhas especializadas. Em abril de 2025, a corporação realizou a “Operação Bogus”, com apoio da PC de Mato Grosso, para desmantelar um grupo que causou prejuízos de cerca de R$ 55 milhões. Foram cumpridas 40 ordens judiciais em Goiânia, Cuiabá e Várzea Grande, incluindo prisões, buscas, bloqueios de bens e quebras de sigilo bancário.
As investigações começaram após uma vítima perder R$ 190 mil ao tentar comprar um apartamento por meio de uma plataforma online. O golpe, conhecido como “do intermediário”, consiste em simular uma negociação entre comprador e vendedor. O golpista recebe o pagamento e desaparece. Os valores são rapidamente transferidos entre contas para dificultar o rastreio, tornando o ressarcimento da vítima ainda mais difícil.
A Operação Bogus revelou um esquema altamente estruturado, com múltiplas contas, documentos falsificados e uso de aparelhos eletrônicos para enganar as plataformas e as autoridades. A quadrilha utilizava técnicas sofisticadas para abrir contas bancárias fraudulentas e movimentar o dinheiro obtido ilicitamente, dificultando o rastreamento pelas instituições financeiras. Em um ambiente cada vez mais digital, a atenção, a informação e a denúncia são as melhores armas contra os criminosos virtuais.
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