A cadeia produtiva do leite em Goiás vive um momento de expansão, mas também de cautela. O setor vem apresentando indicadores sólidos de crescimento, impulsionados pela tecnologia, genética e eficiência produtiva. De acordo com o informativo Agro em Dados, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), o Estado produziu cerca de 1,15 bilhão de litros de leite no primeiro semestre de 2025, o que representa um aumento de 7,6% em relação ao mesmo período de 2024. No cenário nacional, a produção foi de aproximadamente 13 bilhões de litros, com alta de 6,9%, consolidando Goiás entre os três maiores produtores do país.
Produção cresce, mas preços ao produtor sofrem pressão
O aumento da oferta trouxe efeitos imediatos sobre os preços pagos ao produtor. Segundo dados do Cepea/Esalq, o valor médio do litro de leite em Goiás foi de R$ 2,54 em julho de 2025, após registrar quedas sucessivas nos meses anteriores. O avanço da produção, combinado à demanda doméstica ainda moderada, resultou em pressão sobre as margens e maior necessidade de controle de custos.
O boletim da Seapa alerta que o cenário exige gestão mais rigorosa dos insumos e das práticas produtivas. Custos com ração, energia e mão de obra continuam pesando no orçamento das fazendas, e a eficiência operacional tornou-se essencial para garantir rentabilidade. “O crescimento da captação reforça a importância de estratégias voltadas à eficiência dos custos de produção”, destaca o informativo.
Goiás aposta em leite A2A2 e inovação para sustentar crescimento. Foto: Divulgação
Comércio exterior ainda deficitário
Mesmo com o bom desempenho interno, o comércio exterior de lácteos segue como um dos principais desafios do setor. Em agosto de 2025, as exportações brasileiras somaram US$ 7,3 milhões, enquanto as importações ultrapassaram US$ 79 milhões, ampliando o déficit da balança. No caso de Goiás, as exportações chegaram a US$ 93,7 mil, contra US$ 452,4 mil em importações, revelando uma diferença significativa entre o valor médio por tonelada exportada (US$ 2.122,23) e importada (US$ 7.250,00).
A dependência de produtos importados, especialmente de leite em pó e queijos, pressiona a competitividade da cadeia local e reforça a necessidade de investimentos em industrialização e diferenciação de produtos. O governo estadual e o setor privado buscam alternativas para fortalecer a base produtiva e ampliar a presença internacional dos lácteos goianos.
Oportunidades em produtos de valor agregado do leite
Mesmo em um cenário de oscilação de preços, há nichos promissores sendo explorados por produtores e indústrias. Um deles é o leite A2A2, produzido por vacas geneticamente selecionadas que não possuem a fração A1 da proteína β-caseína — característica associada a melhor digestibilidade. O produto vem ganhando espaço em mercados de maior valor agregado, especialmente entre consumidores que buscam alimentos mais saudáveis e diferenciados.
De acordo com o Agro em Dados, esse tipo de leite representa uma oportunidade estratégica para diversificar a produção e aumentar a margem de lucro. Além do A2A2, segmentos como o leite orgânico, sustentável e artesanal também vêm se consolidando, atraindo indústrias que apostam em qualidade e diferenciação como diferencial competitivo.
Caminhos para um crescimento sustentável
O avanço de Goiás na produção de leite é inegável, mas os desafios de médio prazo permanecem. O Estado precisa ampliar a industrialização local, fortalecer a logística e estimular a integração entre produtores e cooperativas para agregar valor ao produto final. O uso de tecnologias de precisão, o melhoramento genético e o manejo eficiente são elementos-chave para garantir produtividade e reduzir custos.
A bovinocultura leiteira está presente em todos os municípios goianos e é uma das principais fontes de renda de pequenos e médios produtores. No entanto, transformar volume em rentabilidade depende de políticas de estímulo à inovação, acesso a crédito e estabilidade de preços. O futuro do setor passa por um tripé essencial: escala, qualidade e eficiência.
Se bem administrado, o crescimento atual pode colocar Goiás em um novo patamar competitivo, com capacidade não apenas de abastecer o mercado interno, mas de reduzir o déficit comercial e abrir portas para exportações de produtos com maior valor agregado.









