Apesar dos avanços na coleta de resíduos e na criação de espaços adequados para o descarte, Goiânia e outras cidades da região metropolitana ainda enfrentam um problema antigo e persistente: o descarte irregular de lixo e entulho. Mesmo com fiscalização intensificada, campanhas educativas e infraestrutura de apoio, muitos moradores continuam despejando resíduos em locais públicos ou inadequados, o que configura crime ambiental e impacta diretamente a saúde, o meio ambiente e a qualidade de vida da população.
Segundo dados do Consórcio Limpa Gyn, somente no mês de março de 2025 foram recolhidas 170.947 toneladas de entulho e 103.297 toneladas de lixo domiciliar em Goiânia. Os recicláveis somaram 5.791 toneladas, enquanto o serviço Cata-Treco realizou 4.114 atendimentos.
Esses números, ainda expressivos, foram registrados quando a fiscalização era conduzida pela Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), que mantém ações regulares para coibir práticas irregulares e conscientizar a população.
A Amma reforça que o descarte inadequado de resíduos configura infração ambiental e pode gerar multas a partir de R$ 5 mil, podendo chegar a R$ 100 mil, dependendo da gravidade e do volume do material descartado. Além disso, há possibilidade de apreensão de equipamentos utilizados no crime, como carretinhas ou caminhões.
Entre janeiro e abril de 2025, a agência contabilizou 294 autuações, 268 notificações e 15 apreensões. Em comparação ao mesmo período de 2024, houve aumento significativo nas autuações — de 166 para 294 — indicando maior rigor na fiscalização, mas também o agravamento da prática.
As regiões com maior incidência de descarte irregular estão concentradas na zona noroeste da capital. Apenas nos primeiros quatro meses do ano, foram identificados 95 pontos de descarte, resultando em 66 infrações e 11 apreensões. Para combater o problema, a prefeitura instalou oito pontos de descarte provisórios em bairros estratégicos como Vale do Araguaia, Jardim Europa, Solar Ville e Recanto do Bosque, além dos cinco ecopontos fixos já existentes.
Esses espaços recebem até 3m³ de resíduos secos por morador — o equivalente a uma carretinha — incluindo móveis velhos, restos de poda, entulho de construção e pneus. Os ecopontos fixos, localizados em bairros como Jardim Guanabara II e Parque Eldorado Oeste, também aceitam eletrônicos e óleo de cozinha usado.
Segundo a Secretaria Municipal de Eficiência, essa estrutura busca oferecer alternativas acessíveis à população e evitar que materiais inservíveis acabem em calçadas, lotes baldios e margens de córregos.
“É uma questão de empatia. A prefeitura faz a parte dela, mas é preciso que a população também colabore”, afirma Renato Medeiros, gerente de controle e recuperação fiscal da pasta. Ele explica que os canais de denúncia continuam ativos e que a participação popular é essencial para monitorar áreas críticas. Os números para contato são o 161 (Amma) e os telefones fixos (62) 3524-2115, 2121 e 2125.
O engajamento da comunidade é, de fato, um diferencial. No Jardim Guanabara, por exemplo, uma área antes usada como depósito irregular foi reflorestada no fim de março. A ação, organizada pela Amma, contou com o plantio de 120 mudas por estudantes da rede municipal, após visitas educativas às casas dos moradores.
A iniciativa faz parte da estratégia de educação ambiental desenvolvida pela Vila Ambiental e pelas chamadas Zonas de Desenvolvimento Sustentável, que também incluem instalação de lixeiras, pontos de entrega voluntária e campanhas de conscientização.
Apesar das iniciativas, muitos moradores ainda insistem em descartar resíduos em locais proibidos. A servidora pública Bruna Isecke, moradora da região leste, relatou ter flagrado o despejo de um sofá, dois colchões e várias sacolas de lixo a poucos metros de um ponto provisório no Setor Vale do Araguaia.
“A população precisa ajudar. As autoridades estão fazendo sua parte, mas não é possível resolver tudo se as pessoas continuam ignorando as orientações”, desabafa.
A legislação ambiental é clara: o descarte inadequado é crime, previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) e regulamentado pelo Decreto nº 6.514/2008. Além da multa, o infrator pode ser responsabilizado civil e criminalmente.
A prefeitura de Goiânia incentiva que qualquer cidadão registre denúncias, especialmente em locais com reincidência de casos. A meta das autoridades municipais é ambiciosa: reduzir drasticamente o descarte irregular até o final de 2025.
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