O apetite do brasileiro por novas experiências gastronômicas tem movimentado o mercado. Nos últimos seis anos, o número de lojas e operações ligadas ao setor cresceu 83%, segundo levantamento da HBR Realty, desenvolvedora de ativos imobiliários. A companhia, que administra os centros de conveniência ComVem e shoppings pelo país, registrou a expansão de 145 para 231 lojas entre 2019 e o primeiro trimestre de 2025 — um salto impulsionado pela reabertura pós-pandemia e pela busca crescente por lazer e conveniência no mesmo espaço.
Expansão guiada por conveniência e bem-estar
A estratégia da empresa acompanha uma tendência mais ampla. Pesquisas da Associação Brasileira de Franchising (ABF) indicam que o segmento de Alimentação – Food Service registrou crescimento de 13,7% no faturamento em 2024, mostrando que o brasileiro voltou a consumir fora de casa com força.
“O consumidor busca praticidade, mas também quer vivência e bem-estar. Por isso, os espaços gastronômicos tornaram-se pontos de encontro e lazer, não apenas de alimentação”, explica Alexandre Nakano, CEO da HBR Realty.
Atualmente, a empresa possui 37 centros ComVem em operação e prevê a inauguração de mais 25 unidades até 2027, totalizando 110 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL) nessa vertical. Somando os shoppings, o grupo deve chegar a mais de 230 mil m² de ABL dedicados ao varejo.
Restaurantes e centros gastronômicos lideram expansão do varejo brasileiro
Alimentação lidera expansão nos shoppings
O avanço também é confirmado pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Segundo dados de 2024, o segmento de alimentação lidera a ocupação desses centros comerciais, com 4.400 marcas distintas, o equivalente a 18% do total. Em seguida, vêm os setores de serviços e conveniência (15,4%) e o de vestuário (15,3%).
Para a Abrasce, a presença de operações gastronômicas reforça a vitalidade dos shoppings e o papel desses locais como espaços de convivência social e entretenimento.
Além dos grandes centros, restaurantes de rua e empreendimentos de bairro também têm se beneficiado da expansão do setor. De acordo com a ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o Brasil ultrapassou um milhão de estabelecimentos formais de alimentação fora do lar em 2025, gerando mais de 6 milhões de empregos diretos e indiretos. O setor representa 2,7% do PIB nacional e vem apresentando ritmo de crescimento acima da média do varejo tradicional.
Mudança de comportamento impulsiona crescimento
O desempenho está ligado a mudanças de comportamento e renda. O levantamento “Tendências do Consumo Alimentar”, da consultoria Kantar, mostra que 72% dos brasileiros frequentam estabelecimentos gastronômicos ao menos uma vez por semana, especialmente para socializar.
A pesquisa também aponta que o gasto médio com alimentação fora do lar cresceu 18% em 2024, impulsionado pela retomada econômica e pelo fortalecimento do delivery e das dark kitchens.
Esse movimento tem atraído redes, franquias e investidores. “O consumidor brasileiro é curioso e aberto a novidades culinárias. Isso torna o país um terreno fértil para novos modelos de negócio, desde operações rápidas até experiências premium”, avalia André Friedheim, presidente da ABF. Segundo ele, as franquias de alimentação respondem por 32% das unidades franqueadas no Brasil, sendo o segmento que mais cresce em número de marcas e faturamento.
Digitalização e novos hábitos consolidam o mercado
A digitalização também tem papel crucial nessa expansão. Plataformas de delivery, sistemas de fidelização e aplicativos de reservas transformaram o relacionamento entre restaurantes e clientes. Dados da ABRASEL indicam que o delivery representa cerca de 23% do faturamento médio dos estabelecimentos, consolidando-se como canal indispensável.
Com um público mais exigente e conectado, o desafio das marcas está em equilibrar preço, conveniência e experiência. “A concorrência é alta, mas quem oferece atendimento qualificado e ambiente acolhedor tem se destacado”, observa Nakano.
Para os próximos anos, o setor deve manter o ritmo de crescimento, impulsionado pela urbanização, novos hábitos de consumo e maior profissionalização dos negócios.
Em um cenário de retomada e expansão, o mercado gastronômico se firma como um dos pilares mais dinâmicos do varejo brasileiro — um prato cheio para investidores e consumidores.