O mercado brasileiro de furgões vive um momento de aquecimento — e bem acima da média do setor automotivo. De janeiro a setembro de 2025, foram emplacadas cerca de 35,5 mil unidades, um salto de 36% em relação às 26 mil registradas no mesmo período do ano passado. O ritmo contrasta com o desempenho tímido das picapes, que registram crescimento de apenas 1% no acumulado do ano.
Um ranking que muda — e mostra oportunidades
No ranking dos sete modelos mapeados pela Fenabrave, quatro registram aumento de vendas em 2025, dois apresentaram queda e um novo modelo entrou na lista — o Hyundai HR, que substitui o Kia K2500.
Na liderança, o Renault Master teve desempenho notável: alta de 49,5% nas vendas, saltando de 7,8 mil licenciamentos para quase 11,7 mil unidades. O destaque, porém, vai para o Fiat Ducato, que conquistou a vice-liderança ao mais do que dobrar as vendas — 2.059 unidades contra 1.349 no mesmo período de 2024.
Outros modelos que avançaram foram o VWCO Express (de 1.390 para 1.765 unidades) e o Iveco Daily (de 1.338 para 2.059). Em contrapartida, o Fiat Scudo recuou de 2.695 para 2.491 unidades, enquanto o Ford Transit caiu de 2.392 para 2.097. Já o Hyundai HR, estreante entre os mais vendidos, garantiu o terceiro lugar, com 2.730 emplacamentos.
O motor por trás do crescimento
De acordo com o presidente da Anfavea, Igor Calvet, o bom momento do agronegócio tem sido determinante para impulsionar a demanda por veículos de carga, especialmente os furgões. “O campo e a logística de alimentos e insumos continuam puxando o mercado de comerciais leves, que vem superando o ritmo dos automóveis”, afirmou o executivo em recente balanço setorial.
Outro fator relevante é o avanço do delivery urbano, que vem exigindo frotas mais ágeis, compactas e econômicas. O aumento das compras online e a expansão de centros de distribuição em regiões metropolitanas fazem dos furgões uma peça essencial para o transporte de cargas leves e médias. “As empresas buscam veículos versáteis, que possam circular em áreas restritas e tenham baixo custo operacional. O furgão se encaixa perfeitamente nesse perfil”, explica Calvet.
Demanda crescente no campo e nas cidades faz o segmento de furgões superar expectativas
Um setor que se destaca entre os comerciais leves
Entre os veículos comerciais leves, os furgões são hoje o segmento de maior expansão. Nos cinco primeiros meses de 2025, foram 28,6 mil unidades vendidas, alta de 54,4% em relação às 18,5 mil registradas no mesmo período de 2024.
Enquanto isso, o mercado de comerciais leves como um todo cresceu cerca de 6%, e o de automóveis de passeio manteve ritmo modesto, com avanço de apenas 5%.
A Fiat segue como a principal força desse nicho, com cerca de 41% de participação entre os comerciais leves. A montadora lidera entre os furgões pequenos com o Fiorino e aparece nas primeiras posições entre os médios e grandes com o Ducato e o Scudo. Já a Renault mantém sua hegemonia entre os furgões de maior porte, impulsionada pelo sucesso do Master, que ultrapassou 6,6 mil unidades vendidas até maio.
Desafios e perspectivas
Apesar da fase positiva, o setor de furgões ainda enfrenta desafios. A dependência do agronegócio e do setor logístico urbano pode gerar concentração de demanda em alguns polos regionais. A elevação dos juros e o crédito corporativo mais caro também podem limitar novas aquisições de frotas por empresas menores.
Para os fabricantes, o desafio é ampliar a capacidade produtiva e garantir uma rede de pós-venda eficiente, capaz de atender ao ritmo intenso de operação desses veículos. Já as concessionárias precisam se adaptar a um público cada vez mais profissionalizado, formado por transportadoras, produtores rurais e pequenos empreendedores que veem no furgão uma ferramenta de trabalho essencial.
Furgão, o novo protagonista
O boom dos furgões no Brasil demonstra que segmentos antes considerados de nicho podem assumir papel central no mercado automotivo. O crescimento expressivo de modelos como Ducato, Master e Daily evidencia um movimento consistente de modernização e diversificação da frota brasileira.
Mais do que um simples indicador de vendas, o avanço dos furgões reflete a transformação da economia real — do agronegócio à logística urbana — e aponta para um futuro em que eficiência, versatilidade e capacidade de entrega se tornam as novas palavras de ordem do setor automotivo nacional.









