Com a chegada do outono e a aproximação do inverno, o frio começa a impactar diretamente a produção e a comercialização de frutas, verduras e legumes em Goiás. Em especial, produtores e comerciantes que atuam nas Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa-GO), em Goiânia, já sentem os efeitos da queda nas temperaturas. Além dos desafios trazidos pelo clima, eventos tradicionais e grandes festas populares ajudam a reduzir ainda mais o movimento de vendas.
No início de junho, as bancas da Ceasa registraram uma movimentação abaixo do esperado para o período, e o motivo não está relacionado apenas à estação mais fria do ano. A combinação entre clima, festas e o comportamento do consumidor tem pressionado produtores a escoarem suas mercadorias a preços menores para evitar perdas ainda maiores.
Frutas e hortaliças que costumam ter boa saída sofrem com a queda na procura, e a expectativa de melhora nas próximas semanas depende da retomada das temperaturas mais amenas e do aumento na circulação de consumidores.
Para Goiás, o setor hortifrutigranjeiro desempenha papel estratégico na economia, tanto no abastecimento local quanto na geração de empregos e renda no campo. Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Goiás exportou mais de quatro milhões de toneladas de frutas em 2023, sendo destaque nacional na produção de melancia, por exemplo, além de outras culturas como abacaxi, manga e maracujá.
Nas últimas semanas, produtores e revendedores têm relatado variações expressivas nos preços de diversos produtos. Alguns hortifrutis, como jiló, brócolis e couve-flor, registraram redução na produção e consequente aumento no preço por unidade. Produtos como couve, que costumavam ser vendidos por R$ 7 ou R$ 8 a unidade, agora aparecem nas bancas por valores próximos a R$ 5.
O produtor Osmarino Motta, especializado em hortaliças como couve-flor e brócolis, relata que a queda na colheita tem atrasado o ciclo normal das lavouras. “A planta demora mais a se desenvolver e, quando colhemos, a qualidade nem sempre é a mesma. E aí, precisamos vender mais barato, senão encalha”, explica.
Já o comerciante Neyton, vendedor de tomates, estima que suas vendas caíram cerca de 40% desde o início do mês. A caixa de tomates que era comercializada entre R$ 140 e R$ 150 caiu para R$ 100.
Outro caso é o do revendedor Rubens Santos, que comercializa mamão e limão na Ceasa. Ele destaca que a caixa de mamão, que custava em média R$ 100, hoje é encontrada por cerca de R$ 70. O limão, ao contrário, subiu de preço, já que sua produção, mesmo afetada pelo frio, continua sendo procurada pelos consumidores para receitas típicas de inverno, como chás e caldos.
Segundo relatório da própria Ceasa-GO, produtos como tomate, vagem, cenoura e beterraba registraram quedas de até 50% no valor de venda. “É um momento de ajustes no mercado, e o frio é apenas um dos fatores”, observa Josué Siqueira, gerente de logística da central. Para ele, outros elementos como férias escolares e festas populares também influenciam o consumo e as vendas.
Entre os produtos que apresentaram as quedas mais expressivas nos preços nas últimas semanas na Centrais de Abastecimento de Goiás estão o tomate salada, com redução de 33,33%, a vagem e a cenoura, ambas com baixas de 50%, além da beterraba, que teve desvalorização de 30%.
O pepino japonês também registrou queda de 20%, enquanto o pimentão apresentou redução de 28,57%. Já a melancia, bastante consumida na região, teve baixa de 31,82% no valor de venda.
Para tentar contornar os prejuízos, produtores recorrem a práticas como o uso de estufas, irrigação controlada e proteção das lavouras. No entanto, como explica a produtora Valdeci de Jesus, os custos dessas tecnologias são elevados e muitas vezes inviáveis para pequenos agricultores.
“Como o período de frio em Goiás é relativamente curto, não compensa fazer investimentos altos em estruturas de proteção. A gente tenta driblar com técnicas mais simples, como irrigação em horários específicos e cuidados redobrados com as plantas”, conta.
Além dos custos de produção mais altos, o frio também exige atenção na conservação dos produtos após a colheita. Temperaturas baixas podem prolongar a durabilidade de alguns alimentos, mas também tornam outros mais suscetíveis ao ressecamento ou deterioração precoce.
Festas e férias escolares intensificam queda nas vendas
Além das baixas temperaturas, a realização de eventos de grande porte, como as festas juninas e a tradicional Romaria de Trindade, também influencia diretamente o mercado hortifrutigranjeiro. Em junho e julho, o foco da população goiana se volta para esses festejos, com parte do orçamento familiar sendo direcionado para lazer, viagens e gastos extras, deixando de lado as compras regulares de frutas e verduras.
Stênio Silva, produtor e comerciante na Ceasa, confirma que as festas populares sempre provocam uma retração momentânea nas vendas. “É uma época em que o pessoal deixa de comprar frutas e hortaliças para usar o dinheiro nas celebrações. A gente já está acostumado com isso, mas quando junta frio com festa, a situação aperta”, relata.
A Romaria de Trindade, considerada a maior festa religiosa do Centro-Oeste, atrai milhares de fiéis todos os anos. Durante o evento, muitos moradores da Grande Goiânia se dedicam exclusivamente à participação nos rituais e procissões, deixando de frequentar feiras, supermercados e centrais de abastecimento. O mesmo acontece com as festas juninas em bairros e escolas, onde o consumo prioriza itens como milho, amendoim, canjica e produtos típicos desse período.
Além disso, comerciantes apontam que as férias escolares de julho também têm um peso significativo. Muitas famílias viajam, esvaziam geladeiras e evitam compras maiores de alimentos frescos para não correr o risco de perdas durante o período fora de casa.
A expectativa entre os produtores e atacadistas é de que, com o fim das festas populares e o retorno das temperaturas mais amenas, a procura por frutas, verduras e legumes volte a crescer gradativamente. A proximidade das férias escolares pode impulsionar novamente a circulação nas feiras e mercados, especialmente entre famílias que permanecem na cidade.
Enquanto isso, a Ceasa-GO continua a fazer ações de apoio ao produtor e campanhas sociais, como a arrecadação de agasalhos em parceria com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG). O tradicional “Varal Solidário”, organizado anualmente no local, busca aliviar o sofrimento de famílias em situação de vulnerabilidade durante os períodos de frio mais intenso.
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