A Chapada dos Veadeiros, no nordeste de Goiás, enfrenta uma das piores temporadas de incêndios dos últimos anos. De janeiro a outubro de 2025, mais de 44 mil hectares foram devastados, segundo o Painel do Fogo do governo estadual. As queimadas, que se intensificaram em setembro e outubro, já atingiram áreas próximas ao território quilombola Kalunga e comprometem espécies nativas, nascentes e cursos d’água do Cerrado.
O parque nacional, criado em 1961 para proteger 240 mil hectares, engloba cinco municípios e concentra algumas das paisagens mais conhecidas do país. A pressão do fogo, no entanto, coloca em risco tanto a biodiversidade quanto a base econômica da região, sustentada pelo turismo em trilhas e cachoeiras como Vale da Lua, Mirante da Janela e Santa Bárbara.
O problema é recorrente. Em 2024, as chamas destruíram mais de 20 mil hectares, sendo 10 mil dentro do parque, o que levou ao fechamento temporário da unidade e à abertura de inquérito da Polícia Federal para apurar possível incêndio criminoso. Neste ano, episódios em agosto e setembro já haviam mobilizado brigadistas e bombeiros em áreas como a Serra de Santana e os Alpes Goianos.
O avanço das queimadas em Goiás acompanha a tendência registrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): entre 2023 e 2024, o número de focos aumentou mais de 130%. Um levantamento do Instituto Mauro Borges (IMB) estimou prejuízos de até R$ 1,5 bilhão para a economia goiana até o fim do ano passado, somando impactos sobre agricultura, turismo e saúde pública.
Reconhecida pelo Ministério do Turismo como um dos dez destinos mais procurados por brasileiros, a Chapada dos Veadeiros se tornou um retrato das dificuldades do país em conter incêndios recorrentes. Entre a preservação ambiental e a sobrevivência de comunidades tradicionais, a região vive sob a ameaça do fogo que avança ano após ano sem resposta estrutural capaz de conter o ciclo.