Os fios soltos pela Região Metropolitana de Goiânia têm representado riscos constantes à população e vem causando acidentes que poderiam ser evitados. Em um dos casos mais recentes, um motociclista perdeu um dos dedos ao se enroscar em fios pendurados na via, no Setor Cidade Jardim. O acidente aconteceu na quinta-feira (1º), feriado do Dia do Trabalhador, e levantou novos alertas sobre a desorganização dos cabos nos postes da capital.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra os fios espalhados pelo chão, em frente a uma caixa de energia no mesmo bairro, evidenciando a gravidade da situação e a falta de manutenção adequada por parte das empresas responsáveis.
O problema, que se repete em diversos bairros, é atribuído principalmente às operadoras de internet e telefonia, que utilizam a estrutura dos postes da Equatorial Goiás, mas muitas vezes deixam os cabos soltos, baixos ou abandonados, sem o devido cuidado. A desordem nos postes representa risco não apenas para motociclistas e pedestres, como também compromete a segurança elétrica e o aspecto urbano das vias.
Segundo João Peres Teodoro Rodrigues, diretor de fiscalização da Secretaria Municipal de Eficiência de Goiânia, a Prefeitura tem intensificado a atuação contra empresas de telecomunicações responsáveis pela desordem na fiação da cidade. A ação está amparada na Lei Municipal nº 9.785/2016, que regulamenta a instalação de cabos e equipamentos por empresas de telefonia e tecnologia.
“Estamos fiscalizando constantemente. Essa lei determina que as empresas devem manter a fiação organizada, sem contato com o solo e sem risco para a população. Quando isso não ocorre, autuamos e penalizamos as operadoras” explicou João.
A fiscalização se concentra em pontos com fios soltos, embaralhados, pendurados ou em contato com o chão. De acordo com o diretor, mais de 175 autos de infração foram lavrados somente no mês de abril. Cada multa equivale a 200 VFGs (Valor de Referência do Município de Goiânia), o que representa aproximadamente R$ 20 mil por infração.
“A cada ponto irregular identificado, a empresa tem um prazo de 30 dias para corrigir. Se isso não for feito, aplicamos nova multa com valor dobrado, conforme prevê a legislação. Estamos penalizando essas empresas de forma contínua, porque muitas delas não estão cumprindo seu papel”, disse.
Peres afirma que o número de pontos críticos na capital é alto, mas ainda não há um levantamento consolidado. “Fizemos ações em vários bairros e ainda assim continuamos recebendo muitas denúncias. A verdade é que as empresas colocam novos cabos e não retiram os antigos. Muitos ficam soltos e, às vezes, até energizados. Isso oferece riscos reais, como vimos nos casos recentes”, relatou.
Ele citou dois episódios graves: o do motociclista que teve o dedo decepado ao se enroscar em fios soltos no Setor Cidade Jardim, citado no início da matéria e outro envolvendo uma criança que caiu da bicicleta após um fio atingir seu pescoço, no Setor Guanabara.
A população pode denunciar fiações irregulares por meio do canal 156, acessando a seção de “calçadas” no sistema de atendimento. É possível enviar fotos e descrever a situação.
“Nosso objetivo é criar consciência e pressionar as empresas a cumprirem suas responsabilidades. Enquanto isso não acontecer, vamos continuar fiscalizando e penalizando”, concluiu.
Programa remove fios e cabos inutilizados dos postes da capital
O programa Poste Limpo, anteriormente denominado Cidade Segura, é uma iniciativa conjunta da Prefeitura de Goiânia, do Ministério Público de Goiás (MPGO), da Equatorial Energia e de empresas de telecomunicações. Seu objetivo é remover fios e cabos inutilizados dos postes da capital, visando reduzir riscos de acidentes, melhorar a segurança urbana e combater a poluição visual.
A execução do programa está amparada na Lei Municipal nº 9.767/2016, que obriga as concessionárias de energia elétrica a realizar o alinhamento e retirada dos fios inutilizados nos postes, além de notificar as demais empresas que utilizam os postes como suporte de seus cabeamentos.
Enquanto isso, cidades como Salvador vêm servindo de exemplo, com leis municipais ainda mais rígidas, como a Lei nº 9.219/2017, que obriga a retirada de cabos inutilizados sob pena de multa mensal. Lá, empresas reincidentes podem ser penalizadas em até R$ 20 mil por mês. Em ações conjuntas com a concessionária local de energia, já foram retiradas toneladas de fiação irregular das ruas, o que reduziu significativamente o número de acidentes.
Goiânia, por sua vez, ainda convive com um cenário preocupante. A ausência de fiscalização sistemática ao longo dos anos e a falta de responsabilização efetiva por parte das operadoras contribuíram para o caos atual nos postes da capital. A retomada das ações pelo poder público, no entanto, reacende a esperança de uma cidade mais segura, com menos fios soltos e mais respeito às normas urbanas.