A participação de micro e pequenas empresas no comércio exterior brasileiro tem crescido de forma constante e expressiva. Entre 2014 e 2024, o número de pequenos negócios exportadores mais que dobrou, passando de 5,4 mil para 11,4 mil, segundo levantamento do Sebrae com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Com isso, esses empreendimentos já representam 39,6% do total de empresas que venderam para o mercado internacional em 2024, um salto de mais de 11 pontos percentuais em uma década.
Além do crescimento no número de exportadores, o valor movimentado por esse segmento também registrou avanço robusto: em 2014, os pequenos negócios exportaram US$ 1,15 bilhão. Dez anos depois, esse número atingiu US$ 2,62 bilhões — um crescimento de 128%. O valor médio exportado por cada empresa passou de US$ 213 mil para US$ 226 mil, refletindo não apenas a maior quantidade de empresas, mas também uma ampliação na capacidade de operação de cada uma delas.
Ainda que respondam por apenas 0,9% do valor total exportado pelo Brasil, os pequenos negócios têm ganhado espaço. Em 2023, o segmento bateu a marca de US$ 2,8 bilhões em exportações, o melhor resultado da série histórica fora os anos excepcionais de 2021 e 2022.
Crescimento entre MEIs e produtores rurais e exportações
A presença de microempreendedores individuais (MEIs) nas exportações também se tornou uma realidade. Em 2024, 194 MEIs participaram do mercado externo. Embora operem em escala reduzida, esses dados indicam uma crescente democratização do acesso às exportações.
Os pequenos produtores rurais também estão entre os destaques. Em dez anos, as exportações desse grupo cresceram 336%, atingindo 18,5% do total exportado por pequenos negócios. Já a indústria extrativa viu sua fatia aumentar de 23% para 40% entre os pequenos exportadores, com um salto de 309% no volume exportado. A indústria de transformação segue como o setor dominante entre as pequenas empresas exportadoras, com 72,4% do total e um crescimento acumulado de 128% em dez anos.
Destinos e origem das exportações
A América do Sul continua sendo o principal destino das exportações realizadas por micro e pequenas empresas, respondendo por 29% dos negócios. Em seguida vêm América do Norte (22%), Europa (19%) e Ásia (15%). Outras regiões como América Central e Caribe (7%), Oriente Médio (4%), África (4%) e Oceania (1%) também aparecem com percentuais menores, mas importantes.
Os estados com maior número de pequenos negócios exportadores são São Paulo (40,8%), Rio Grande do Sul (11,7%), Paraná (9,7%), Minas Gerais (9,1%) e Santa Catarina (8,7%). O Sudeste e o Sul concentram a maior parte dos exportadores, mas há crescimento em outras regiões.
Importações também crescem
Além das exportações, o levantamento mostra que a participação de micro e pequenas empresas nas importações brasileiras aumentou. Em 2014, elas representavam 37,6% das empresas importadoras do país; em 2024, essa fatia subiu para 49,8%. Ao todo, 55,8 mil empresas importaram produtos no Brasil em 2024, com quase metade delas sendo de pequeno porte.
Participação das micro e pequenas empresas nas exportações brasileiras subiu 11 pontos
Estrutura de apoio e perspectivas
O crescimento dos pequenos negócios nas exportações está relacionado à ampliação de programas públicos voltados à internacionalização, que oferecem capacitação técnica, orientação jurídica e suporte logístico. Cursos voltados para promoção comercial, regimes aduaneiros especiais, câmbio e financiamento são oferecidos por instituições ligadas ao setor produtivo e órgãos de governo.
Consultores da área de comércio exterior ressaltam que, para além do entusiasmo com os bons resultados, é essencial que os empreendedores se preparem juridicamente para atuar no exterior. Especialistas alertam que muitos empresários ainda ignoram aspectos legais fundamentais nos países de destino, como exigências sanitárias, tributárias e contratuais. “O desconhecimento das normas internacionais pode comprometer toda a operação”, afirma uma advogada especializada em direito internacional. Ela recomenda atenção redobrada na elaboração de contratos, registro de marcas e cumprimento de legislações locais. “É um erro comum tentar adaptar contratos nacionais ao mercado internacional sem as devidas modificações. A atuação preventiva de um advogado evita litígios e garante maior segurança jurídica.”
Novos programas e incentivos
Medidas recentes devem acelerar ainda mais o ritmo de crescimento. Aprovado em fevereiro de 2025, o programa Acredita Exportação prevê a devolução de 3% das receitas de exportação para micro e pequenas empresas, inclusive as optantes pelo Simples Nacional. O impacto orçamentário da medida é estimado em R$ 51 milhões em 2025 e R$ 58 milhões em 2026.
Já o programa Exporta Mais Brasil, criado em 2023, planeja realizar 13 edições em 2025, cada uma dedicada a um setor diferente. A proposta é promover rodadas de negócios e abrir mercados em países estratégicos. Em 2024, iniciativas semelhantes conectaram centenas de empresas brasileiras com compradores internacionais e viabilizaram a entrada em mercados como Tailândia, República Dominicana e Filipinas.
Apesar da alta recente das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos — que estabeleceram alíquota de 10% sobre as exportações brasileiras — o cenário pode beneficiar alguns setores nacionais, como o agroindustrial, que tendem a ganhar competitividade frente a concorrentes mais afetados. A expectativa é que micro e pequenas empresas aproveitem essa janela de oportunidade para ampliar sua presença internacional.
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