Apesar de Goiás e sua capital liderarem o ranking nacional de iluminação pública, conforme dados do Censo 2022, a realidade do bairro Parque São Jorge, em Aparecida de Goiânia, desmente esse cenário positivo. Moradores enfrentam a escuridão há semanas, convivendo com insegurança, dificuldades de locomoção e ausência de respostas efetivas do poder público.
A equipe do jornal O Hoje percorreu a região e encontrou diversas ruas completamente às escuras. Postes sem funcionamento e iluminação limitada às residências são cenas comuns. A situação tem afetado principalmente quem precisa sair à noite, como trabalhadores e fiéis que retornam da igreja. “Tem muito tempo que tá assim. A gente já fez denúncia, ligamos, e até hoje nada. A rua fica perigosa. Tem criança aqui, tem gente que chega tarde, e não tem uma luz sequer”, relata João Batista, morador do setor há mais de vinte anos.
Segundo ele, alguns moradores improvisaram refletores por conta própria para tentar conter os riscos. “O pessoal mesmo colocou um refletor. Aqui estava tão escuro que dava medo de sair à noite. Já teve gente que quase caiu por não enxergar direito. Tiveram que limpar o mato com facão porque estava tudo tomado”, conta.
João Silva, outro morador da região, confirma que a situação se arrasta há muito tempo. “A gente vive com medo. Eu mesmo já quase fui assaltado voltando do serviço. O pior é que ninguém aparece. A gente paga imposto, mas parece que não existe. Só colocaram iluminação perto da entrada do bairro. Aqui dentro, nas ruas onde moramos, tá tudo escuro”, desabafa. Para ele, a ausência de luz afeta também o comércio local e impede que vizinhos convivam no espaço público. “Ninguém quer ficar na porta de casa à noite. Parece que a cidade acaba aqui.”
Cleonice Fogaça, moradora de longa data, também compartilha sua frustração. “Teria que vir aqui às 7 da noite para entender o que é isso. Tem lixo por todo lado, a prefeitura começou a limpar, mas largou o serviço pela metade. Aqui os impostos estão todos pagos, mas, na hora que a gente precisa de luz, não aparece ninguém.” Segundo outra moradora, Ana Alencar, os habitantes têm que arcar com os custos de instalação das lâmpadas. “A gente paga para colocar a lâmpada. Tem gente que pagou até 200 reais para colocar luz em frente de casa.”
Procurada pela reportagem, a Equatorial Goiás, concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica, esclareceu em nota que a iluminação pública é responsabilidade do poder executivo municipal.
Já a Prefeitura de Aparecida informou que o bairro está inserido no cronograma de modernização e deve receber as equipes responsáveis até a próxima semana. Desde março, o município iniciou um mutirão para reposição de lâmpadas queimadas, em ação coordenada pelo Consórcio Luz Pública Aparecida. A medida integra o programa “Ilumina Aparecida”, uma Parceria Público-Privada (PPP) que prevê a substituição de todas as lâmpadas de vapor de sódio por modelos LED, mais eficientes e econômicos.
Até agora, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, 1.980 pontos foram modernizados, incluindo a Praça da Juventude, transformando completamente o cenário noturno da região. Os bairros Cidade Vera Cruz (1.819), Jardim Tiradentes (1.008), Aeroporto Sul (783) e Madre Germana (403) somam juntos 5.993 novos pontos de LED. Nesta quarta-feira (23), as equipes devem iniciar os trabalhos em setores como Chácara São Pedro (755), Santa Luzia (698) e Parque das Nações (669). Apesar do avanço em outras regiões, o Parque São Jorge continua à margem das melhorias.
Enquanto Aparecida projeta modernizar mais de 60 mil pontos de luz e se posiciona como referência estadual no setor, muitos moradores seguem esperando por uma ação concreta. A meta da prefeitura é que a substituição por lâmpadas LED garanta mais segurança e economia para toda a população. “Mas pra quem tá aqui no escuro, tudo isso parece só conversa”, diz João Silva.
A promessa é de que todas as lâmpadas queimadas, cerca de 8 mil em toda a cidade, sejam substituídas. O projeto pretende transformar a paisagem noturna de Aparecida, mas enfrenta atrasos e lacunas em sua execução. Para os moradores do Parque São Jorge, a escuridão continua sendo uma realidade diária, que expõe não apenas a falta de infraestrutura, mas também a distância entre o discurso oficial e as necessidades reais da população.
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