Trabalhar seis dias seguidos para folgar apenas um: essa é a realidade de milhares de brasileiros que vivem sob a chamada escala 6×1. Um modelo legalizado, mas cada vez mais contestado por trabalhadores e sindicatos. Neste 1º de Maio, data em que se comemora o Dia do Trabalhador, esse sistema de jornada foi alvo de críticas e protestos. Os trabalhadores pedem o fim dessa rotina considerada exaustiva e defendem a criação de escalas mais humanas, com mais tempo para o descanso, a saúde e a convivência familiar.
Para o jornalista Davi Galvão, de 23 anos, a escala 6×1 é um modelo injusto que priva o trabalhador do direito básico ao tempo livre. “De forma alguma sou a favor da escala 6×1. Isso significa que, durante seis dias da semana, vendemos nosso tempo para outra pessoa e não conseguimos planejar nada para nós mesmos ou para a família”, afirma.
Ele critica a naturalização do excesso de trabalho na sociedade brasileira. “Trabalhar até morrer virou sinônimo de sucesso. Qualquer tentativa de lutar por mais dignidade é logo rejeitada, ainda mais num país tão polarizado como o nosso”, diz. Davi também aponta a ansiedade que a rotina impõe: “Chega o fim de semana e, em vez de relaxar, a gente já está preocupado com a segunda-feira”.
Apesar de concordar com as pautas levantadas no 1º de Maio, ele confessa nunca ter participado de atos na data. “Não acho que uma caminhada vá resolver esses problemas”, conclui.
Andresa Cardoso, jornalista, compartilha sua experiência com a escala 6×1, destacando os desafios que esse modelo impõe, especialmente quando se tem outras obrigações além do trabalho. “Trabalhar na escala 6×1, quando você não tem filhos ou pessoas que dependem de você e nem precisa estudar, já é bem pesado. Agora, quando existem mais responsabilidades na rotina, piora bastante a situação”, explica. Segundo ela, o único dia de folga não é suficiente para dar conta das demandas diárias, e os dias de trabalho deixam um sentimento constante de exaustão. “Nos dias de trabalho, a gente se sente sempre bem cansado, muitas vezes até deprimido”, revela.
Andresa, que já trabalhou como garçonete e atendente de papelaria, é a favor de mudanças no modelo. “Sou a favor de uma escala mais flexível. A qualidade de vida aumenta bastante, existe mais vontade de fazer coisas além do básico para sobreviver”, diz. Ela afirma que o cansaço é uma constante: “Sempre existe a sensação de estar no limite”. Sobre a possibilidade de mudanças na jornada, ela acredita que é algo que pode ser debatido, mas destaca que, em muitas situações, quem trabalha nesse modelo estará em horário de serviço durante os atos. “Acredito que sim, mas, sinceramente, provavelmente quem trabalha em escala 6×1 estará em horário de trabalho durante o ato”, conclui.
Esther Sanches Pitaluga, advogada trabalhista, alerta para os impactos negativos da escala 6×1, que, embora legal, pode ser extremamente prejudicial à saúde física e mental dos trabalhadores. “A falta de descanso adequado pode levar a estresse, ansiedade, depressão e até burnout”, destaca. Para ela, o modelo também afeta o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, já que limita o tempo disponível para lazer, convivência familiar e desenvolvimento pessoal. “Nos dias de trabalho, o cansaço é constante, e a sensação de estar no limite se torna um problema diário.”
Sanches Pitaluga propõe alternativas que possam equilibrar melhor as jornadas de trabalho e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. “A escala 5×2, com cinco dias de trabalho e dois de folga, é a mais comum e pode ser uma alternativa mais equilibrada. Outra proposta seria reduzir a jornada para quatro dias de trabalho, com no máximo 36 horas semanais, garantindo mais tempo para descanso e lazer”, sugere.
Além disso, a advogada aborda a questão da justiça tributária, ressaltando a importância de um sistema mais justo e proporcional, onde os mais ricos contribuam mais. “É fundamental que as grandes empresas paguem sua parte, aliviando o peso dos impostos sobre os trabalhadores e as pequenas empresas. Quem ganha mais, deve pagar mais, e quem tem menos, paga menos”, afirma. Ela também conecta a questão tributária com os direitos trabalhistas, explicando que a sustentabilidade dos direitos, como aposentadoria e seguro-desemprego, depende de um sistema tributário justo, que financie adequadamente essas políticas públicas.
Por fim, ela reflete sobre a evolução da legislação trabalhista e a necessidade de adaptar as normas para proteger os trabalhadores em diferentes setores, especialmente diante do crescimento do trabalho informal e por aplicativos. “É necessário garantir direitos fundamentais, como a proteção social e condições de trabalho adequadas, independentemente do tipo de vínculo trabalhista”, conclui.
Ato pelo Dia do Trabalhador vai discutir fim da escala 6×1
Goiânia recebe, nesta quinta-feira (1º), um ato político-cultural em celebração ao Dia do Trabalhador. A programação começa às 8h, na Praça do Trabalhador, com entrada gratuita. Entre as atrações musicais estão a cantora Maíra Lemos, que fará uma homenagem à Marília Mendonça, e o Trio Federal, com repertório de sertanejo raiz.
Além dos shows, o evento dá voz a diversas pautas sociais e trabalhistas, como o fim da escala 6×1, a redução da jornada de trabalho sem diminuição de salários, a justiça tributária com isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e taxação dos super-ricos. Também serão defendidas bandeiras como o repúdio à anistia dos golpistas de 8 de janeiro, moradia digna, combate ao trabalho escravo, igualdade de gênero, raça e orientação sexual, reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar.
“O 1º de Maio é mais do que uma data simbólica. É o momento de dizer, nas ruas e nas praças, que o Brasil precisa valorizar quem constrói este país com trabalho e dignidade. É tempo de reafirmar que o povo trabalhador não aceita retrocessos, nem injustiças”, afirma Fernando César Mota, secretário-geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-GO) e coordenador-geral do Sint-IFESGO.
A celebração contará ainda com feira, barracas de alimentação, espaço para crianças, atividades comunitárias e sorteio de brindes em homenagem às trabalhadoras e trabalhadores.
Cem anos de feriado nacional
O Dia do Trabalhador, comemorado em diversos países, faz referência à histórica luta por uma jornada de 8 horas de trabalho. No Brasil, a data foi reconhecida oficialmente como feriado nacional em 1925. Nesta quinta-feira, o 1º de maio completa 100 anos como símbolo oficial da luta e da resistência da classe trabalhadora brasileira.
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