A celebração de Corpus Christi, que ocorre nesta quinta-feira (19), ocorre em um momento simbólico para a Igreja Católica, diante da queda no número de fiéis, a instituição religiosa tenta manter viva a tradição e, ao mesmo tempo, se reaproximar da sociedade contemporânea, em especial da juventude. Segundo dados do Censo 2022, os católicos representavam 56,7% da população brasileira, uma queda de 8,4 pontos percentuais em relação a 2010.
O jornalista e historiador João Victor Guedes, que acompanha a história da religião no Brasil, analisa que o afastamento progressivo dos fiéis tem relação direta com a ascensão das igrejas evangélicas, especialmente as neopentecostais, que se espalharam com força tanto em regiões periféricas quanto centrais. “A conversão nas igrejas evangélicas é tida como um momento transformador, de recomeço, de novas oportunidades. Isso tem atraído não apenas jovens, mas também adultos”, afirma.
Outro ponto destacado por Guedes é o desafio de lidar com uma tradição secular baseada em valores conservadores. “Apesar de algumas mudanças, a Igreja ainda encontra dificuldades para dialogar com os jovens.”
Diante desse cenário, o especialista acredita que o desafio da Igreja Católica é se adaptar à modernidade sem abandonar suas tradições. Ele cita o Papa Francisco como uma liderança que deu passos importantes nesse sentido ao promover maior abertura a grupos antes marginalizados, como a comunidade LGBTQIAPN+, e pautas como o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores. “A tendência é que a Igreja aumente o chamado aos jovens. Em julho teremos o Jubileu da Juventude e, em 2027, a Jornada Mundial da Juventude na Coreia do Sul.”
Com a recente eleição do Papa Leão XIV, membro da ordem agostiniana, Guedes aposta em uma nova fase voltada para a educação e a ciência. “A evangelização pode se fortalecer por meio dessas frentes. Toda novidade no papado é também uma tentativa de retomada dos valores cristãos.”
Em Goiás, a Igreja segue apostando na fé popular para manter a conexão com os fiéis. A Arquidiocese de Goiânia divulgou que as celebrações de Corpus Christi serão descentralizadas: cada paróquia ficará responsável por confeccionar os tradicionais tapetes de serragem e organizar missas e procissões em suas regiões. Não haverá evento central na Praça Cívica, como em anos anteriores.
A Catedral Metropolitana, no Centro de Goiânia, terá missas às 7h, 9h, 12h e 17h. Esta última será seguida de procissão com o Santíssimo Sacramento pelas ruas do entorno. Em Trindade, cidade conhecida como Capital da Fé, as atividades se concentram na Igreja Matriz do Divino Pai Eterno e no Santuário Basílica, com missas e procissões durante todo o dia. A confecção dos tapetes começa na noite de quarta-feira (18), às 22h, reunindo comunidades e pastorais locais.
“Celebrai”
Em Senador Canedo, a terceira edição do evento “Celebrai” promete reunir todas as paróquias da cidade na Praça Criativa Central. A programação inclui missa com o bispo auxiliar Dom Danival Milagres, procissão e show do cantor católico Thiago Brado. Em Jaraguá, a Paróquia Nossa Senhora da Penha inicia a programação com café comunitário, missas e procissão solene, que termina com uma carreata até a casa do novo Imperador.
Já em Pirenópolis, além das manifestações religiosas, o feriado será marcado pela 10ª edição do festival PiriBier, que conta com shows de artistas como Samuel Rosa, Marcelo Falcão, Ira! e Humberto Gessinger. A renda do evento será revertida para a restauração da pintura da Igreja Matriz da cidade.
Mesmo diante de desafios estruturais e da concorrência com outras expressões religiosas e culturais, a Igreja Católica segue apostando na força simbólica de datas como Corpus Christi para reafirmar sua presença e tentar recuperar espaço junto à população. “O futuro da Igreja depende da capacidade de dialogar com a realidade do seu povo sem perder de vista os valores essenciais da fé cristã”, resume Guedes.
Diante de um cenário marcado por concorrência religiosa e mudanças culturais, as celebrações em Goiás ilustram a busca por uma fé que dialoga com a tradição e as demandas do presente. A esperança é que, ao unir ritos históricos e renovação, a Igreja consiga manter seu espaço no coração dos brasileiros.
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