O Complexo Oncológico de Referência do Estado de Goiás (Cora) foi oficialmente inaugurado na última quinta-feira (25), em Goiânia, após mais de três meses de funcionamento antecipado. Desde junho, a unidade realizou 225 procedimentos cirúrgicos, registrou 119 novos diagnósticos de câncer infantojuvenil e contabilizou 181 internações.
O investimento total foi de R$255,9 milhões, dos quais R$192,6 milhões em obras e R$63,2 milhões em equipamentos. A manutenção anual está estimada em R$81,6 milhões, o que representa R$6,8 milhões mensais.
O hospital será administrado pela Fundação Pio XII, entidade que também mantém o Hospital de Amor, em Barretos (SP). Em nota enviada ao O HOJE, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) afirmou que a Fundação foi escolhida por meio de Termo de Colaboração aprovado pelo Tribunal de Contas do Estado, pelo Ministério Público de Contas e acompanhado por órgãos de fiscalização. A entidade ficará responsável por insumos, medicamentos e contratação de profissionais. A previsão é de 2.500 atendimentos mensais e 26 cirurgias eletivas.
O governador Ronaldo Caiado (UB) afirmou que o funcionamento antecipado seguiu uma diretriz de sua gestão. “Nós temos de ter responsabilidade com a vida. Nada mais gratificante do que retribuir a uma criança aquele olhar de esperança. Por isso, entregamos o Cora em atividade antes da inauguração oficial”, declarou. O discurso contrasta com os atrasos na obra, iniciada em 2020 e concluída apenas neste ano.
O hospital conta com 60 leitos pediátricos, centro cirúrgico, UTI, pronto-atendimento 24 horas, unidade de transplante de medula óssea, farmácia hospitalar e robôs de reabilitação. O projeto inclui ainda ressonância magnética integrada ao centro cirúrgico, além de ambientes lúdicos para amenizar o impacto da internação. “É muito melhor vir para um lugar bonito, colorido, do que para um hospital cinza. Isso tira o medo do paciente e melhora a adesão ao tratamento”, afirmou o diretor-técnico Mário José Aguiar de Paula.
Apesar do impacto positivo, a entrega do Cora trouxe de volta o debate sobre a atuação de Organizações Sociais na saúde pública. Em Goiânia, grande parte dos hospitais estaduais e municipais já é administrada por esse modelo, incluindo maternidades e unidades de urgência. Para entidades sindicais, a prática fragiliza o Sistema Único de Saúde (SUS) e amplia a precarização do trabalho.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde/GO), Néia Vieira, anteriormente já havia tecido críticas duras à expansão das OSs em Goiás.
Em entrevista declarou: “O Sindsaúde historicamente tem se mostrado contrário à entrada das organizações sociais na gestão pública. Nós temos acompanhado já ao longo desses últimos 20 anos a ação dessas organizações sociais, e a gente tem observado que isso tem sido um motivo para a fonte de desvio de recursos, para a pejotização, pela má gestão da grande maioria das unidades e não resultou em melhoria do acesso aos usuários. Nós tivemos muito maior gasto de recursos sem essa consequência que era esperada. Esse tipo de vínculo trabalhista fragiliza as relações de trabalho, não fortalece o sistema único de saúde e adoece mais os trabalhadores. O único benefício que elas trazem é para empresas e empresários. Não é para o Estado, não é para o usuário e não é para o trabalhador”.
O vice-governador Daniel Vilela também participou da inauguração e afirmou que a unidade representa um marco para Goiás. “Por muitos anos, famílias inteiras precisaram ir a Barretos para buscar tratamento. Agora, os pacientes podem ser atendidos perto de casa, com estrutura moderna e gratuita”, declarou.
A Fundação Pio XII, escolhida para gerir o hospital, atua desde 1967 em Barretos e expandiu sua rede para várias regiões do País. Reconhecida pela expertise em oncologia, mantém suas atividades com recursos públicos e privados. A presença em Goiás amplia sua atuação, mas também insere a instituição no centro da polêmica sobre a dependência crescente do Estado em contratos milionários com Organizações Sociais.
Enquanto isso, Araújo Jorge enfrenta filas e busca novo acelerador linear
O Hospital de Câncer Araújo Jorge, referência em oncologia em Goiás e no Centro-Oeste, enfrenta um cenário crítico em seu serviço de radioterapia. Apesar de realizar cerca de 320 sessões diárias, das 6h da manhã às 2h da madrugada, pacientes ainda aguardam semanas para iniciar o tratamento.
“Se esse equipamento parar definitivamente, será um verdadeiro colapso. Não há outra instituição pública em Goiás habilitada pelo SUS para absorver essa demanda”, alerta Paulo Moacir Campoli, vice-presidente do Conselho de Administração da Associação de Combate ao Câncer em Goiás, mantenedora do Araújo Jorge.
Em 29 de agosto, representantes do Ministério da Saúde visitaram o hospital para anunciar a aquisição de um novo acelerador linear, aprovado pelo Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon 2025). O equipamento de alta tecnologia ampliará a capacidade de atendimento e reduzirá as filas de espera, que atualmente somam 170 pacientes apenas no setor de radioterapia.
“A quarta máquina vai atender uma demanda reprimida que já temos, de 170 pacientes que estão aguardando para fazer o tratamento. Somente vamos reduzir essa fila de espera quando o novo equipamento estiver em funcionamento”, afirmou Paulo.
O CEO do hospital, Kleber Rosa, destacou a necessidade de mobilização do empresariado: “Apoiar esse projeto é apoiar a luta pela vida. Cada real destinado via Imposto de Renda representa mais pacientes tratados, menos filas e mais esperança. Por isso, convoco o empresariado goiano e nacional a apoiar essa iniciativa”. Rosa assumiu a direção executiva recentemente, após atuar como diretor-executivo da Fundação Pio XII, responsável pelo Hospital de Amor em Barretos (SP).
O novo acelerador linear, cujo valor aprovado pelo MS é superior a R$ 9,9 milhões, depende da captação de recursos junto a empresas tributadas pelo Lucro Real, que podem destinar até 1% do Imposto de Renda devido ao projeto, sem custo adicional. Caso a meta não seja atingida até 25 de novembro de 2025, a instalação ficará inviabilizada em 2026.
“Até o dia 25 de novembro é o limite. Por isso a gente pede muito a mobilização do empresariado goiano e da região, porque a gente não atende só Goiás, atendemos o Centro-Oeste inteiro também. Esse acelerador linear vai facilitar muito o tratamento dos nossos pacientes”, explica Lucas Rafael, analista de captação de recursos do Araújo Jorge.
Atualmente, o hospital funciona com três aceleradores lineares. Dois foram adquiridos com recursos próprios da ACCG há 12 anos, e um veio do governo federal há 25 anos. “Ela tem uma defasagem imensa, tanto do ponto de vista de tecnologia quanto de capacidade de atendimento”, explica Campoli. Quando um dos equipamentos quebrou em abril de 2025, pacientes precisaram ser redirecionados para a unidade de Anápolis.
A unidade atende pacientes de 246 municípios goianos e de outros Estados. Kleber reforça que a prioridade é ampliar o acesso à radioterapia sem comprometer a humanização e a qualidade do atendimento. “Temos um déficit e temos demanda”, afirma, destacando que o hospital opera em ritmo intenso, chegando a 23 horas diárias quando necessário.
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