O crescimento acelerado das apostas esportivas digitais no Brasil gerou efeitos colaterais que vão além da economia e do consumo: os impactos sobre a saúde mental e a trajetória educacional de milhares de jovens. Com a popularização das bets, surgem novos perfis de dependência ligados ao jogo compulsivo, que têm afetado diretamente o desempenho acadêmico, a permanência em cursos e o abandono precoce dos estudos.
O Ministério da Saúde já reconhece a ludopatia como um transtorno que pode ser tratado no Sistema Único de Saúde (SUS), mas a estrutura disponível ainda não é suficiente para dar conta da demanda. A compulsão por apostas tem se manifestado entre estudantes universitários e vestibulandos, que recorrem aos serviços da Rede de Atenção Psicossocial após perdas financeiras, crises de ansiedade e dificuldades emocionais associadas à rotina de apostas. Muitos relatam queda no rendimento escolar, dificuldade de concentração e abandono de projetos profissionais.
Nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), especialmente os especializados em álcool e drogas (Caps AD), os profissionais enfrentam o desafio de lidar com pacientes que não se enquadram nos perfis tradicionais de dependência. Jovens que antes estavam focados nos estudos agora buscam ajuda para lidar com sintomas como insônia, depressão, irritabilidade e impulsividade. Em diversos casos, o dinheiro que seria usado para pagar mensalidades ou materiais acadêmicos foi comprometido em jogos online.
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A ausência de protocolos específicos para tratar a ludopatia nos serviços públicos de saúde mental contribui para o agravamento do problema. Além disso, a maioria das unidades ainda carece de profissionais capacitados, enquanto estudantes e familiares relatam dificuldades para identificar onde buscar apoio. Em capitais como Goiânia e Salvador, Caps que atendem esse público funcionam com equipes reduzidas e alta rotatividade, o que dificulta o acompanhamento contínuo.
Outro ponto crítico é a ausência de campanhas educativas específicas sobre os riscos da dependência em apostas digitais. Influenciadores promovem a prática como uma atividade inofensiva ou lucrativa, sem alertar sobre os danos à estabilidade emocional e aos planos de vida dos jovens. Sem políticas públicas voltadas à prevenção, a exposição constante à publicidade de plataformas de apostas contribui para um ambiente propício ao vício.
Especialistas defendem que, para conter os danos sobre o percurso educacional da juventude, é necessário fortalecer os vínculos entre escolas, universidades e a rede de saúde mental.
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