Eventos religiosos realizados em Goiás têm provocado impactos cada vez mais expressivos na economia local, sobretudo nos setores de turismo, moda e comércio popular. A tradição católica enraizada no estado, somada ao crescimento do turismo de fé, tem transformado o vestuário cristão em um fenômeno comercial relevante, principalmente durante celebrações como a Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, e encontros como o Totus Tuus, em Goiânia.
Em 2023, a Romaria atraiu mais de 3 milhões de pessoas, segundo a Prefeitura de Trindade. Esse movimento massivo de fiéis também se refletiu na capital, onde está concentrada a Região da 44, polo de moda atacadista que hoje se adapta para atender às demandas de um público cada vez mais identificado com a chamada “moda cristã”.
Roupas de fé e identidade devocional
A chamada moda cristã é composta por vestimentas discretas, com cortes longos, tecidos mais fechados e, muitas vezes, estampas com frases de fé ou símbolos religiosos. De acordo com a Associação Empresarial da Região da 44, cerca de 40% das vendas realizadas durante os períodos que antecedem os eventos religiosos em Goiás correspondem a peças destinadas a esse público específico.
Vestidos de manga longa, saias midi ou longas, blusas com gola alta e estampas com ícones católicos figuram entre os produtos mais procurados. A estética do recato e do testemunho religioso tem se tornado central nas vitrines das lojas durante essas épocas.
A força da fé que move a economia goiana. Foto: Divulgação
Roteiros da fé movimentam o interior de Goiás
Além de Trindade, outros municípios com apelo devocional, como Muquém, Jaraguá e Goiás (antiga Vila Boa), também recebem milhares de visitantes em datas religiosas, o que fortalece a cadeia de turismo e comércio. Segundo a Goiás Turismo, o estado conta com mais de 60 destinos cadastrados como rotas do turismo religioso. Esses roteiros envolvem santuários, igrejas históricas, romarias e festas padroeiras, atraindo fiéis de diferentes partes do país.
A fé passou a influenciar não apenas o roteiro de viagem, mas também o vestuário. A escolha de roupas adequadas para participar das missas, procissões e novenas tornou-se parte do planejamento do público religioso. Para muitos, vestir-se com sobriedade e elementos devocionais é também uma forma de expressar publicamente sua espiritualidade.
Especialistas em comportamento de consumo religioso explicam que o fenômeno da “moda cristã” reflete a necessidade de identidade e pertencimento. O vestuário é visto como uma extensão da fé, especialmente entre as mulheres.
Comércio goiano se adapta à demanda religiosa
Com base em estimativas da Fecomércio-GO, durante o mês de julho de 2023 — quando ocorre a Romaria do Divino Pai Eterno — houve um incremento de até 18% nas vendas do setor de vestuário popular em Goiânia, na comparação com meses comuns. Grande parte desse crescimento foi atribuída ao turismo religioso.
Além da moda, outros setores se beneficiam: transporte, hospedagem, alimentação e produção de artigos litúrgicos. Muitas lojas da Região da 44 ampliam seus estoques e horários de funcionamento para atender à demanda. O volume de excursões e ônibus fretados vindos de vários estados também tem impacto direto nas vendas.
Religião e redes sociais criam novas tendências
As redes sociais também vêm desempenhando papel importante na disseminação da moda cristã. Fiéis, influenciadores e canais religiosos compartilham conteúdos que envolvem o “look da fé”, promovendo tendências ligadas à estética religiosa. Isso impulsiona ainda mais o consumo, especialmente entre o público jovem.
Muitas marcas locais passaram a incluir coleções inteiras voltadas ao público religioso. Peças bordadas com símbolos cristãos, roupas em tons neutros e cortes discretos compõem catálogos, principalmente nos meses que antecedem grandes festas religiosas.
Goiás se consolida como território estratégico para o turismo de fé e também para a expansão de um mercado que une espiritualidade e moda. A economia local se beneficia dessa movimentação, que vai além das celebrações religiosas e gera emprego, renda e circulação de pessoas.
Nesse cenário, eventos como a Romaria do Divino Pai Eterno não são apenas momentos de devoção, mas motores econômicos que colocam a fé no centro das estratégias comerciais do estado.