A prefeitura de Goiânia anunciou uma medida que promete gerar debate sobre mobilidade urbana: a instalação de cancelas automáticas em vias que frequentemente alagam, como a Marginal Botafogo e a Avenida 87. Segundo o prefeito Sandro Mabel (União Brasil), o objetivo é impedir que motoristas, motociclistas e pedestres circulem em áreas de risco durante fortes chuvas.
A Defesa Civil será responsável pelo acionamento das cancelas assim que forem detectadas chuvas intensas. “Temos que ter um trabalho ordenado. Notou a aproximação da chuva, o nosso pessoal já deve estar posicionado para o fechamento, a respeito do pico das chuvas que é, em média, de 30 minutos”, explicou Mabel.
Além do fechamento das vias, a prefeitura promete traçado de rotas alternativas, instalação de placas de alerta, intensificação da limpeza de bueiros e bocas de lobo e campanhas educativas. Segundo o prefeito, a medida ocorrerá durante as obras de drenagem, dando “tempo de resposta mais rápido nessas regiões de risco”. A iniciativa foi anunciada após o gabinete de crise da Capital analisar os problemas da última chuva, quando uma mulher e seus familiares ficaram ilhados na Avenida 87, com água subindo até a metade da porta do carro.
O urbanista Fred Le Blue avaliou a proposta e alertou que a solução é limitada e pode gerar efeitos colaterais graves. “As cancelas automáticas nas vias com risco de alagamentos serão acionadas pela Defesa Civil, que em interface com um novo radar meteorológico, vão permitir dar um tempo de resposta mais rápido nessas regiões de risco, o que pode evitar ou reduzir danos. Novamente, vemos o prefeito prometendo milagres como fez com sua grama sintética voadora, que não resiste nem à primeira enxurrada. Ocorre que essa solução é apenas paliativa com impacto expressivo para o fluxo normal de trânsito, já caótico, mesmo em dias solares, ainda mais na Av. 87 e Marginal Botafogo.”
Fred ressalta que a medida pode ter efeito contrário se não houver planejamento integrado: “A interdição de vias em períodos de chuva afetará a mobilidade urbana, especialmente em horários de pico, podendo aumentar congestionamentos e acidentes. Apenas fechar vias sem rotas alternativas pode causar caos, desviando veículos para áreas igualmente perigosas. A logística dessas cancelas ficará a cargo da Defesa Civil, que é alheia à Engenharia de Trânsito. Fica a impressão que será apertado um botão e as cancelas se fecharão, podendo provocar acidentes.”
Para o urbanista, o problema vai além do fechamento temporário: “Talvez seja mais interessante reconhecer que o projeto da Marginal Botafogo foi um equívoco. Interditar por tempo indeterminado para plebiscito de construção de parque linear pedestre ou reforma completa permitiria fluxo seguro e sustentável, deixando de ser um não-lugar, propenso a acidentes, desastres e drogadição.”
Fred também sugere alternativas mais seguras e econômicas: “Seria mais prudente optar por cancelas manuais acionadas por agentes de trânsito, como no Minhocão em São Paulo, e usar placas fixas alertando sobre riscos de alagamentos, conforme legislação de trânsito.”
Ele critica a prioridade da administração e propõe soluções educativas: “Se quiser investir mesmo, como parece gostar Mabel, a prefeitura poderia criar um aplicativo tipo Waze que sugerisse rotas alternativas em caso de congestionamento ou alagamento. Investir em educação de trânsito teria efeito muito maior, ainda mais com noções de geografia e cartografia urbana. Há pessoas em Goiânia que não conseguem se orientar nem no Centro. Conhecer a cidade permitiria criar roteiros próprios, evitando concentração em poucas avenidas e riscos desnecessários, podendo salvar vidas durante períodos chuvosos.”
O especialista alerta que, sem planejamento e alternativas reais, a cidade corre risco de aumentar congestionamentos, acidentes e insatisfação da população, tornando a medida mais uma ação polêmica do governo municipal.
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