O mercado de brinquedos educativos e sensoriais tem ganhado força no Brasil, impulsionado pelo aumento dos diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e pela busca crescente de famílias por produtos que estimulem o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Segundo dados do IBGE e do Ministério da Saúde, o país já tem mais de 2 milhões de pessoas com diagnóstico confirmado, e o número de registros tem crescido cerca de 30% ao ano.
A expansão do mercado tem atraído empreendedores, grandes marcas e educadores que veem nos brinquedos sensoriais uma oportunidade de unir inclusão e rentabilidade. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), o setor movimentou R$ 8,4 bilhões em 2023, e os produtos voltados à estimulação sensorial já representam 12% desse total.
Crescimento impulsionado pela inclusão
Com a popularização dos brinquedos conhecidos como “fidget toys”, como o Pop It e o Cubo Mágico sensorial, o interesse por produtos que estimulam o tato, a visão e a audição aumentou. As vendas desses brinquedos cresceram 60% entre 2021 e 2023, segundo dados do e-commerce Mercado Livre.
Empresas especializadas em brinquedos pedagógicos também ampliaram a produção. A PlayEduca, por exemplo, registrou alta de 45% nas vendas de itens voltados ao público com TEA. “Percebemos que o consumidor está mais consciente sobre o desenvolvimento infantil e busca brinquedos que façam sentido para a rotina da criança”, explica a fundadora da marca, Aline Carvalho.
Empreendedorismo e inovação em brinquedos
O aumento da demanda abriu espaço para pequenos negócios e startups que desenvolvem produtos com foco em estímulos multissensoriais. Em Goiânia, por exemplo, a artesã e pedagoga Juliana Monteiro criou uma linha de brinquedos de tecido com diferentes texturas e sons. “Tudo começou para ajudar meu filho, diagnosticado com autismo, e acabou se transformando em um negócio. Hoje, envio peças para todo o Brasil”, relata.
A empresária diz que o crescimento da procura também tem relação com o fortalecimento do diagnóstico precoce. “Os pais estão mais informados e os pediatras mais atentos. Isso tem impacto direto no mercado, porque o brinquedo passa a ser visto não apenas como entretenimento, mas como ferramenta terapêutica.”
Demanda por brinquedos inclusivos cresce 45% entre 2021 e 2023. Foto: Divulgação
Educação e terapia
Especialistas reforçam que o uso de brinquedos sensoriais pode ser aliado na aprendizagem e no desenvolvimento emocional. A terapeuta ocupacional Marina Cardoso explica que esses objetos ajudam na regulação sensorial, essencial para crianças com autismo. “O brinquedo sensorial estimula o cérebro a processar melhor as informações do ambiente. É uma ponte entre o brincar e o aprender”, afirma.
Segundo ela, o ideal é que os brinquedos sejam utilizados de forma orientada, com acompanhamento de profissionais ou professores capacitados. “O mercado tem crescido, mas é importante garantir que os produtos sigam critérios pedagógicos e de segurança”, complementa.
Potencial de exportação
O avanço do setor também começa a despertar o interesse internacional. Fabricantes brasileiros têm participado de feiras nos Estados Unidos e na Europa, onde a demanda por produtos inclusivos é alta. A startup paulistana Sensorium Toys exportou cerca de 15% de sua produção em 2024 e prevê dobrar o volume até o final de 2025.
“O mercado externo busca produtos com propósito, e o brinquedo sensorial brasileiro tem um diferencial criativo e artesanal que chama atenção”, diz o CEO da empresa, Rafael Tavares.
Desafios e perspectivas
Apesar do crescimento, o setor ainda enfrenta desafios relacionados ao custo de produção e à regulamentação. Muitos brinquedos são feitos à mão, o que eleva o preço final. Além disso, há pouca padronização de certificações voltadas para brinquedos terapêuticos.
Para o economista e consultor de varejo Bruno Rocha, a tendência é de expansão contínua. “A economia da infância está mudando. O consumo consciente e a preocupação com o desenvolvimento emocional das crianças abrem espaço para novas marcas e modelos de negócio”, analisa.
Com o avanço do diagnóstico do autismo e a valorização da diversidade, o mercado de brinquedos sensoriais deixa de ser um nicho e passa a ocupar um papel estratégico na economia criativa e educacional do país.










