A indústria de games no Brasil atravessa uma fase de consolidação que a coloca entre os setores mais dinâmicos da economia criativa. Em dez anos, o número de estúdios de desenvolvimento saltou de pouco mais de 130 para mais de mil, avanço que indica a passagem do hobby para um segmento estruturado de negócios. No mesmo período, o país também viu crescer a quantidade de profissionais atuando formalmente na área, hoje estimados em mais de 13 mil desenvolvedores, artistas, roteiristas, designers, profissionais de áudio e programadores.
O movimento acompanha o aumento do consumo. Pesquisas nacionais mostram que aproximadamente três em cada quatro brasileiros afirmam jogar jogos digitais, e a maioria dos entrevistados considera os games uma das principais formas de entretenimento cotidiano. A popularização da internet móvel e a expansão do acesso a smartphones ampliaram o alcance do setor, especialmente entre públicos mais jovens, mas também entre adultos que incorporaram a atividade ao lazer doméstico.
Além do consumo interno, a internacionalização das produções brasileiras também se tornou um dado relevante. Boa parte dos estúdios nacionais afirma comercializar jogos ou prestar serviços para empresas no exterior. Isso evidencia um mercado que, embora ainda enfrente limitações de escala, começa a disputar espaço em cadeias globais de produção de conteúdo digital.
Ambiente de negócios e expansão regional de games
O Brasil já figura entre os maiores mercados consumidores de games do mundo, especialmente na categoria mobile, que responde por quase metade do faturamento global do setor. Em termos de receita mundial, a indústria de jogos supera, somadas, as receitas anuais das indústrias do cinema e da música, o que reforça o potencial estratégico do segmento para atração de investimentos, desenvolvimento tecnológico e formação de mão de obra qualificada.
No contexto regional, Goiás surge como um território em crescimento, ainda que em estágio inicial. A expansão de hubs de tecnologia, escolas profissionalizantes ligadas ao ensino de programação e eventos voltados ao universo gamer tem contribuído para ampliar o interesse local. Embora a maior parte dos estúdios esteja concentrada no Sudeste, há sinais de descentralização, com iniciativas em cidades como Goiânia e Aparecida de Goiânia, onde grupos de desenvolvedores começam a organizar ações colaborativas, campeonatos e protótipos autorais.
Indústria de games cresce e abre novas fronteiras no país. Foto: Divulgação
Empreendedorismo em jogo
Empreender no setor envolve mais do que a criação de um jogo. O negócio inclui etapas como licenciamento, distribuição, construção de comunidades, marketing digital e estratégias de monetização. Para quem cria jogos no Brasil, o acesso a editais públicos, incubadoras e programas de aceleração ainda é um diferencial importante para viabilizar projetos de médio e longo prazo.
Também ganha destaque o modelo de trabalho remoto e em rede, que permite a indivíduos e pequenas equipes atuarem em projetos internacionais sem precisar deslocar operações para grandes centros urbanos. Isso favorece regiões como Goiás, onde o custo de operação pode ser menor e o ecossistema de inovação passa por fase de expansão. No entanto, a formação de profissionais segue como uma das principais demandas. A oferta de cursos técnicos e superiores cresce, mas ainda não supre totalmente as necessidades do mercado.
Oportunidades de monetização e gargalos
O segmento mobile permanece como o principal caminho de monetização no país, tanto pela base de usuários quanto pela facilidade relativa de publicação em lojas digitais. Entretanto, o modelo de negócios baseado apenas em publicidade ou microtransações enfrenta limitações e alta competição. O fortalecimento da propriedade intelectual brasileira, a criação de marcas reconhecíveis e a capacidade de manter comunidades engajadas são fatores que diferenciam os estúdios com maior potencial de escala.
Entre os gargalos apontados por desenvolvedores estão a dificuldade de acesso a financiamento privado, a falta de políticas públicas contínuas e a necessidade de maior profissionalização das equipes de gestão. Enquanto a criatividade é uma marca do setor, a estruturação empresarial ainda é um desafio central.
Cenário para Goiás: visão de futuro
Com o crescimento da economia criativa, Goiás tem a oportunidade de consolidar sua presença no mercado de games ao incentivar parcerias entre instituições de ensino, estúdios independentes, coletivos culturais e hubs de inovação. A combinação de infraestrutura tecnológica, formação de talentos e articulação entre setor público e privado pode ampliar as condições de competitividade dos desenvolvedores locais.
Se esse ambiente for fortalecido, o estado poderá não apenas participar do mercado nacional, mas também exportar conteúdo digital com identidade cultural própria. Nesse sentido, a indústria de games representa um campo estratégico para geração de renda, inclusão produtiva e diversificação econômica em regiões que buscam ampliar seu posicionamento na chamada economia do conhecimento.










