O Brasil voltou a figurar entre os países com maior número absoluto de crianças não vacinadas no mundo. O dado consta do relatório divulgado neste mês pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com base no número de crianças que não receberam nenhuma dose da vacina tríplice bacteriana (DTP) em 2023. Segundo o levantamento, 229 mil crianças brasileiras não tomaram sequer a primeira dose do imunizante, que protege contra difteria, tétano e coqueluche.
Com esse número, o Brasil aparece na 17ª colocação mundial entre os países com mais crianças sem a DTP1. Em 2022, o país havia deixado esse ranking pela primeira vez, após alcançar redução no número de não vacinados. Em 2021, o pior ano da série recente, o país somava 562 mil crianças “zero dose”. A reincidência no levantamento acende alerta entre especialistas sobre a recuperação incompleta da cobertura vacinal, mesmo após o fim da pandemia de covid-19.
Apesar da queda em relação aos anos anteriores, o dado de 2023 revela que o Brasil não conseguiu manter o ritmo de melhora. O relatório alerta que a vacinação global tem apresentado avanços desiguais. Ao todo, o mundo ainda registra 14,5 milhões de crianças sem nenhuma dose de vacina essencial no primeiro ano de vida — número que, embora inferior aos 18,5 milhões de 2021, ainda representa um grande desafio para os sistemas de saúde.
O levantamento considera como “criança não vacinada” aquela que não recebeu nenhuma dose da DTP até o fim do primeiro ano de vida, um dos principais indicadores da cobertura infantil. Estar vacinado contra difteria, tétano e coqueluche representa o mínimo de proteção esperado em qualquer calendário nacional de imunização. Países como Nigéria (2,1 milhão), Índia (909 milhões), Sudão (838 mil), Republica Democrática do Congo (772 mil) e Etiópia (768 mil) lideram o ranking.
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O relatório destaca que, embora o Brasil tenha tradição em imunização pública, os impactos da pandemia e da desinformação ainda dificultam a recuperação plena da cobertura. Segundo a OMS, o Brasil registrou em 2023 uma taxa de 87% de cobertura para a DTP1, abaixo da meta de 95% recomendada para garantir a proteção coletiva. Essa taxa representa melhora frente a 2021 (75%), mas segue aquém do necessário.
Entre os principais fatores para a queda das coberturas vacinais nos últimos anos estão o enfraquecimento das campanhas públicas, a propagação de fake news sobre imunizantes e o acesso desigual aos serviços de saúde, especialmente em regiões Norte e Nordeste. O relatório também aponta que crianças pobres, indígenas, negras e quilombolas estão entre as mais afetadas pela ausência de vacinação, evidenciando desigualdades estruturais.
A OMS e o Unicef reforçam que os países devem priorizar estratégias para alcançar essas populações com ações de vacinação extramuros, busca ativa e integração com outras políticas públicas. A diretora de programas globais da Unicef, Etleva Kadilli, afirmou que “crianças não vacinadas vivem à margem da sociedade, sem acesso a serviços básicos de saúde, educação e nutrição. Precisamos chegar até elas”.
O Ministério da Saúde afirma que a vacinação infantil segue como prioridade, com campanhas de incentivo e parcerias com Estados e municípios. Em nota recente, a pasta informou que segue trabalhando para reconstruir a confiança nos imunizantes e fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973 e considerado referência internacional por décadas.
Além da DTP, outras vacinas do calendário infantil também apresentam coberturas abaixo do ideal, como poliomielite, hepatite B, pentavalente e rotavírus. A Unicef alerta que o atraso vacinal pode colocar em risco o controle de doenças erradicadas ou controladas, como ocorreu recentemente com surtos de sarampo em regiões brasileiras.
O Brasil ainda está fora do grupo dos dez países com mais crianças não vacinadas, mas a volta ao ranking global preocupa especialistas. A entidade, que completa 75 anos de atuação em 2025, defende que o direito à vacinação é também o direito à sobrevivência e ao desenvolvimento saudável. Segundo a Unicef, investir na imunização infantil é essencial para quebrar ciclos de pobreza e desigualdade.
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