O aumento expressivo de fraudes e golpes digitais nos últimos anos tem mobilizado empresas, consumidores e especialistas em segurança da informação. Em paralelo ao crescimento desse tipo de crime, o mercado de seguros cibernéticos se expande no Brasil, impulsionado pela demanda de proteção frente aos prejuízos financeiros, jurídicos e reputacionais provocados por ataques cibernéticos.
De acordo com dados divulgados por uma plataforma de proteção ao consumidor, cerca de 5,6 milhões de tentativas de golpes com uso de dados pessoais foram registradas no país apenas entre janeiro e março de 2024. Os setores mais afetados incluem serviços financeiros, varejo, telecomunicações e transporte. A principal tática dos criminosos é a falsa central de atendimento, na qual a vítima é induzida a repassar informações sensíveis sob o pretexto de solucionar um problema bancário inexistente.
Setores mais vulneráveis e novas estratégias de ataque
Com os ataques cada vez mais sofisticados e personalizados, o mercado de seguros contra riscos cibernéticos passou a oferecer apólices com coberturas específicas para diferentes perfis de clientes, desde grandes corporações até pequenas empresas e pessoas físicas. A proteção pode abranger desde a restauração de dados, passando pelo pagamento de resgates em ataques do tipo ransomware, até a responsabilidade civil por vazamento de dados de terceiros.
A princípio, esse tipo de seguro era restrito a multinacionais e instituições financeiras com alto grau de digitalização. No entanto, nos últimos dois anos, o perfil de contratação se diversificou, acompanhando a digitalização acelerada de pequenas empresas e o aumento da vulnerabilidade de negócios locais. Profissionais liberais, como médicos, advogados e contadores, também têm buscado proteção diante do risco de sequestro de dados sensíveis de seus clientes.
Demanda cresce, mas obstáculos ainda persistem
Segundo levantamento do setor de seguros, a demanda por apólices cibernéticas cresceu cerca de 30% entre 2022 e 2023, e a expectativa é de um crescimento ainda maior em 2024, diante da popularização das fraudes digitais e do endurecimento das normas sobre proteção de dados. A entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ampliou a responsabilidade das empresas quanto ao armazenamento e tratamento de informações pessoais, o que contribuiu para o aumento na busca por seguros que ofereçam respaldo jurídico em caso de incidentes.
Apesar disso, o mercado ainda enfrenta desafios estruturais. A precificação das apólices, por exemplo, é considerada alta por muitos gestores, principalmente no setor de pequenas empresas. Além disso, a falta de cultura de prevenção e o desconhecimento sobre os riscos cibernéticos dificultam a adesão ao produto.
Seguro não substitui a segurança digital
Especialistas em segurança da informação alertam que o seguro cibernético não substitui a adoção de boas práticas de proteção de dados, como autenticação em duas etapas, atualização constante de softwares e campanhas de conscientização com os funcionários. Segundo eles, a apólice deve ser parte de um ecossistema mais amplo de segurança digital, que inclua medidas preventivas e respostas rápidas a incidentes.
Por outro lado, há um esforço crescente para ampliar o acesso e simplificar a contratação desses seguros, especialmente para pequenos negócios. A chegada de novas tecnologias de monitoramento e inteligência artificial também tem permitido uma análise mais precisa dos riscos, o que pode contribuir para uma redução dos custos de apólices nos próximos anos.
Divulgação
Golpes atingem também o consumidor comum
Além das empresas, o consumidor comum também se tornou alvo frequente de fraudes digitais. Golpes envolvendo mensagens falsas em aplicativos de conversa, compras em sites fraudulentos e perfis falsos em redes sociais tornaram-se recorrentes. Em resposta, têm surgido seguros voltados ao indivíduo, com cobertura para prejuízos decorrentes de transações fraudulentas, roubo de identidade digital e remoção de conteúdos lesivos na internet.
O crescimento das fraudes digitais também impacta outros segmentos econômicos. Instituições financeiras, operadoras de cartão de crédito e plataformas de e-commerce têm investido em sistemas de prevenção, biometria e verificação de identidade. No entanto, o dinamismo dos cibercriminosos segue como um desafio contínuo, alimentando um círculo de inovação, ataque e defesa que transforma o cenário de segurança digital em um campo cada vez mais estratégico para a economia.
Setor acompanha digitalização da economia
Por fim, o avanço do mercado de seguros cibernéticos no Brasil reflete a maturação de um ecossistema que responde não só às ameaças tecnológicas, mas também às exigências legais e comportamentais de uma sociedade hiperconectada. O cenário é de atenção e adaptação constante. Em um ambiente digital repleto de oportunidades e riscos, garantir proteção adequada se tornou parte essencial da gestão de qualquer atividade econômica.