O setor cervejeiro brasileiro alcançou um novo marco em 2024, com 1.949 cervejarias registradas em funcionamento no país, segundo o Anuário da Cerveja 2025, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O número representa um crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior, quando havia 1.847 estabelecimentos. Apesar de positivo, o índice revela uma desaceleração no ritmo de expansão, já que em 2023 o crescimento foi de 6,8%, e em anos anteriores, os percentuais superavam dois dígitos.
A tendência de desaceleração aponta que o setor começa a dar sinais de maturidade, conforme explica o consultor de projetos industriais Carlos Alberto Zem: “A indústria vem se consolidando e atingindo uma fase de estabilidade. O que antes era um movimento de explosão de novas marcas agora exige permanência, inovação e solidez para se manter competitivo.”
Panorama nacional: expansão com novos perfis de consumo
Nos últimos 20 anos, o Brasil passou de menos de 50 cervejarias para quase 2 mil, impulsionado pela valorização de produtos artesanais, regionais e voltados para públicos específicos. Atualmente, 55 mil marcas e 43.176 tipos diferentes de cerveja estão registrados no país, evidenciando a busca por diferenciação e diversidade de portfólio.
Embora o número de estabelecimentos tenha aumentado, a produção ainda é concentrada nas grandes indústrias, que respondem por mais de 98% do volume total. Em 2024, foram produzidos 15,34 bilhões de litros de cerveja, uma leve queda de 0,11 bilhão em relação a 2023. Especialistas atribuem a oscilação a fatores como as enchentes no Sul do país, que impactaram diretamente os centros de produção.
A pluralidade de estilos e rótulos tem se consolidado também como elemento cultural e turístico, fomentando festivais regionais, rotas cervejeiras e redes de bares especializados. A produção de cervejas sem álcool, por exemplo, cresceu 536,9% no último ano, alcançando quase 5% da produção nacional e refletindo mudanças de hábito no consumo, com maior preocupação com saúde e moderação.
Goiás perde espaço no setor
Na contramão da média nacional, Goiás foi o estado com maior redução no número de cervejarias. Em 2023, o estado contava com 43 estabelecimentos, mas caiu para 39 em 2024. A perda de quatro unidades faz com que o estado fique atrás de outras unidades da federação no ranking nacional, ocupando a 8ª posição em densidade cervejeira, com uma cervejaria para cada 205 mil habitantes.
A concentração segue em Goiânia, que abriga 10 das cervejarias goianas, enquanto as demais estão distribuídas por 29 municípios do interior. O estado também conta com 854 cervejas registradas e 993 marcas comerciais patenteadas, o que revela uma média de 29 rótulos por estabelecimento, número acima da média nacional, que é de 22,2.
Apesar da redução no número de fábricas, especialistas destacam que o setor ainda possui potencial de crescimento em Goiás, especialmente em cidades turísticas e polos gastronômicos. Segundo a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal, a manutenção e o estímulo ao setor dependem de políticas públicas que diferenciem microprodutores de grandes conglomerados.
43 mil tipos de cerveja foram registrados no Brasil
Desafios tributários e gargalos do setor
Um dos principais entraves enfrentados pelas microcervejarias é o arcabouço tributário complexo e oneroso, que inclui bitributação, cobrança de ICMS substituição tributária e exigências regulatórias desproporcionais. Segundo representantes do setor, a ausência de dados sobre o fechamento de empresas também dificulta a formulação de políticas públicas eficazes. Ao contrário de países como os Estados Unidos, o Brasil ainda não divulga indicadores sobre encerramentos de atividades no setor cervejeiro.
Para Gilberto Tarantino, representante do segmento artesanal, “há uma diferença fundamental entre uma microcervejaria de bairro e uma grande indústria com presença nacional. Políticas fiscais que tratam ambos da mesma forma colocam os pequenos negócios em desvantagem competitiva.”
Expansão regional e exportações em alta
A concentração de cervejarias segue predominante nas regiões Sudeste (45,6%) e Sul, com São Paulo liderando com 427 unidades, seguido por Minas Gerais (221) e Rio Grande do Sul (217). No entanto, os maiores crescimentos percentuais ocorreram em estados como Tocantins, Rondônia e Distrito Federal, demonstrando expansão para regiões historicamente pouco exploradas pelo setor.
Atualmente, 790 municípios brasileiros contam com pelo menos uma cervejaria. Cidades como Porto Alegre, Curitiba e São Paulo concentram os maiores números de estabelecimentos, enquanto o Rio Grande do Sul lidera em densidade, com uma cervejaria para cada 32 mil habitantes.
No cenário internacional, o Brasil também ganhou destaque: exportou 332 milhões de litros em 2024, um crescimento de 43% em relação a 2023, com superávit comercial recorde de US$ 195 milhões. A América do Sul, especialmente o Paraguai, segue sendo o principal destino.
Futuro da cerveja no Brasil passa pela inovação
Diante de um consumo per capita estabilizado, da concorrência com outras bebidas e da saturação de alguns mercados urbanos, o futuro da indústria cervejeira no Brasil passa por inovação, sustentabilidade, regionalização e políticas públicas equilibradas.
A força da cadeia produtiva é inegável. De acordo com o levantamento, mais de 2,5 milhões de empregos diretos, indiretos e induzidos são movimentados pelo setor, que envolve desde a agricultura até o turismo.
A manutenção desse ecossistema depende da sensibilidade dos formuladores de políticas públicas e da capacidade das pequenas empresas de se reinventarem frente aos desafios. “A cerveja artesanal brasileira não é só produto; é cultura, economia local e identidade regional”, conclui Zem.
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