A expansão da telessaúde e dos telediagnósticos está redefinindo a dinâmica da saúde pública e privada no país. A digitalização dos serviços médicos avança como vetor de eficiência e investimento, especialmente em regiões com carência de especialistas.
Mato Grosso aposta em teleoftalmologia
No Mato Grosso, o programa estadual de saúde digital foi ampliado para incluir um projeto de telediagnósticos voltado à oftalmologia. A proposta é encurtar distâncias e reduzir custos, integrando a Atenção Primária e o atendimento especializado.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, 250 retinógrafos portáteis já foram adquiridos — 75 deles prontos para implantação — capazes de capturar imagens de alta resolução da retina e dos vasos oculares. Os exames são enviados para uma plataforma em nuvem, com laudos emitidos em até 72 horas.
O programa estadual já atua em 42 especialidades médicas e seis tipos de telediagnóstico, entre eles telerretinografia, teledermatologia e tele-ECG. Até outubro de 2025, foram realizados mais de 520 mil telediagnósticos, 12,5 mil teleinterconsultas e 11,7 mil teleconsultorias, com economia estimada em R$ 270 milhões.
Mercado global cresce em ritmo acelerado
A transformação digital também se reflete nos números globais. Segundo levantamento da Precedence Research, o mercado de saúde digital deve movimentar US$ 420 bilhões em 2025, podendo atingir US$ 1,09 trilhão até 2034, com crescimento médio anual (CAGR) de 11,7%.
Outra projeção, da Grand View Research, aponta expansão ainda mais acelerada, chegando a US$ 946 bilhões em 2030, partindo de US$ 288 bilhões em 2024. No Brasil, o setor já movimenta US$ 6,3 bilhões e pode alcançar US$ 21,9 bilhões até 2030, com crescimento anual de 23,2%. A teleassistência é o segmento de maior peso nas receitas.
Eficiência e novos modelos de cuidado
A integração de tecnologias digitais cria oportunidades para o setor. No campo público, os telediagnósticos reduzem deslocamentos, agilizam resultados e melhoram a produtividade das equipes de saúde. No privado, abrem espaço para novos modelos de cuidado, baseados em acompanhamento remoto e atenção preventiva.
Empresas de tecnologia, software e análise de dados também encontram um ambiente de expansão. Estima-se que a teleassistência já represente cerca de 45% do faturamento global da saúde digital.
O mercado global de saúde digital deve alcançar US$ 1,09 trilhão até 2034
Desafios e perspectivas de mercado
Apesar do avanço, o setor ainda enfrenta obstáculos. A interoperabilidade entre sistemas e a segurança dos dados continuam sendo desafios centrais. Mais de 50% dos gestores de saúde relatam preocupação com riscos de violação de informações.
Além disso, a escassez de infraestrutura tecnológica e de capacitação em áreas remotas limita a adoção plena de serviços digitais. A regulação das soluções baseadas em inteligência artificial e a validação clínica de diagnósticos à distância também exigem atenção constante.
Mesmo com esses entraves, o Brasil desponta como ambiente estratégico para a consolidação de plataformas digitais em saúde. Experiências estaduais, como a de Mato Grosso, demonstram ganhos financeiros e operacionais com potencial de replicação nacional.
Negócios em transformação
Para investidores e gestores, a digitalização da saúde representa um campo de oportunidades que une tecnologia, políticas públicas e inovação. O avanço da telemedicina e dos telediagnósticos amplia o mercado para empresas de tecnologia e consultoria, e cria espaço para parcerias público-privadas.
A chamada “nova medicina conectada” já mostra resultados concretos: economia milionária em programas estaduais, maior eficiência no uso de recursos e alcance ampliado dos serviços. O setor caminha para se consolidar como um dos pilares da economia digital brasileira.