O setor de motocicletas no Brasil segue em forte ritmo de expansão e consolidação como peça-chave na mobilidade urbana e no setor de entregas. Nos seis primeiros meses de 2025, foram emplacadas mais de 1 milhão de motocicletas em todo o país, o que representa um crescimento de 10,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse desempenho marca o melhor primeiro semestre da história recente do setor e confirma a tendência observada ao longo de 2024, quando as vendas totais superaram os 1,8 milhão de unidades.
Produção nacional atinge melhor desempenho desde 2011
A produção nacional acompanhou esse avanço, com mais de 1 milhão de motocicletas saindo das fábricas brasileiras entre janeiro e junho. Esse volume representa um crescimento de 15,3% frente ao mesmo intervalo de 2024, sendo também o melhor desempenho para o período desde 2011. O Polo Industrial de Manaus, responsável por mais de 90% da produção de motos no país, segue como a principal base fabril da indústria, mas novas unidades em outras regiões, como no Nordeste, começam a ganhar relevância na cadeia produtiva.
Expansão chega às regiões menos tradicionais
O movimento de alta nas vendas não se restringe às capitais ou grandes centros urbanos. Regiões como o Sul e o Nordeste registraram os maiores avanços percentuais no semestre, com crescimento acima de 20% em comparação ao ano anterior. O Sudeste, ainda líder em volume absoluto de vendas, teve leve retração de 2,8%, reflexo de um mercado já saturado e da crescente adesão a modelos alternativos em cidades menores e médias. O Norte, onde a logística é mais desafiadora, também viu crescimento sólido, com alta próxima de 13%.
Marcas estrangeiras ganham espaço e desafiam liderança
Um dos principais vetores desse desempenho é a mudança no perfil das marcas que disputam espaço nas ruas brasileiras. Enquanto uma fabricante nacional segue na liderança do mercado com cerca de dois terços das vendas, o seu domínio vem sendo progressivamente reduzido diante da chegada e consolidação de marcas asiáticas, sobretudo da China e da Índia. Esse movimento é explicado tanto por fatores econômicos quanto logísticos. Com modelos mais acessíveis e produção em regime de montagem local, essas novas participantes conseguiram oferecer motos com bom custo-benefício, especialmente nos segmentos de baixa cilindrada, que concentram a maior parte da demanda.
No primeiro semestre de 2025, as cinco principais marcas do mercado concentraram mais de 90% das vendas, mas esse grupo passou a incluir fabricantes estrangeiras recém-chegadas, que antes ocupavam posições bem mais discretas no ranking nacional. As mudanças foram impulsionadas por novos modelos voltados ao uso urbano, de menor custo, muitas vezes adaptados às necessidades específicas do setor de entregas, que se tornou um dos principais consumidores de motos no país.
Exportações crescem 19% e somam mais de 18 mil unidades
Motos elétricas crescem, mas ainda enfrentam desafios
Outro dado relevante é o desempenho das motos elétricas, que, apesar de ainda representarem uma parcela muito pequena do mercado, apresentaram crescimento expressivo. Foram pouco mais de 5 mil unidades vendidas no semestre, o que equivale a 0,5% do total. O número é modesto em termos absolutos, mas representa uma alta de mais de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso indica que há uma tendência de expansão futura, embora o alto custo das baterias e a falta de infraestrutura para recarga ainda sejam barreiras para uma penetração mais robusta no mercado de duas rodas.
Expectativas positivas, mas com atenção ao crédito e à concorrência
A expectativa da indústria é de que 2025 encerre com novo recorde de produção, ultrapassando 1,8 milhão de unidades fabricadas. No varejo, a previsão é de mais de 2 milhões de motocicletas comercializadas, o que representaria uma alta de quase 8% em relação ao total de 2024. Segundo dirigentes do setor, esse crescimento está sustentado por três pilares principais: a busca por alternativas econômicas de transporte diante dos altos preços dos combustíveis, o aumento da demanda por entregas rápidas e a modernização da malha viária urbana, que torna o uso da motocicleta mais eficiente e seguro.
Contudo, o otimismo vem acompanhado de desafios. A concorrência mais acirrada exige das empresas melhorias em pós-venda, disponibilidade de peças e estratégias mais agressivas de distribuição. Além disso, o setor acompanha com atenção as recentes mudanças no comércio exterior, como a adoção de tarifas mais elevadas por parte dos Estados Unidos, que podem afetar o fornecimento de insumos e as exportações brasileiras, ainda que estas representem uma fatia pequena do total produzido. No primeiro semestre de 2025, o Brasil embarcou pouco mais de 18 mil motocicletas ao exterior, com crescimento de quase 19% sobre o mesmo período de 2024.
Outro fator a ser monitorado é o comportamento do crédito. Embora o financiamento ainda seja um dos principais meios de acesso à motocicleta nova, o cenário de juros elevados e o crescimento da inadimplência no país têm exigido cautela por parte dos consumidores e das instituições financeiras. Ainda assim, a demanda se mantém aquecida, sustentada em parte pelos microempreendedores e trabalhadores autônomos que usam a motocicleta como ferramenta de trabalho.
Especialistas avaliam que o setor está diante de uma nova fase, marcada pela diversidade de marcas e modelos, pelo crescimento das montadoras estrangeiras com operação local e pela consolidação da motocicleta como elemento estrutural da mobilidade e da logística urbana. A projeção para os próximos anos é de estabilidade com viés de alta, sobretudo se houver incentivo à produção de modelos sustentáveis e expansão da infraestrutura para eletrificação do transporte de duas rodas.
Em um país de dimensões continentais e desigualdades sociais profundas, a motocicleta se firma como uma alternativa viável de transporte individual e profissional. O que se vê em 2025 é o fortalecimento de um mercado maduro, competitivo e cada vez mais estratégico para a economia nacional.
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