Um dos maiores desafios da próxima década será lidar com as transformações no mercado de trabalho impulsionadas pela inteligência artificial (IA), automação e novas tecnologias. De acordo com o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, cerca de 92 milhões de empregos devem desaparecer até 2030, enquanto 170 milhões de novas vagas devem surgir, o que resultará em 78 milhões de oportunidades líquidas. No entanto, o alerta é claro: sem qualificação urgente da força de trabalho, milhões de pessoas podem ficar para trás.
As funções que mais correm risco são aquelas com rotinas repetitivas e de baixo nível de complexidade técnica, como caixas de supermercado, atendentes administrativos, telemarketing, escriturários, trabalhadores de impressão e até mesmo designers gráficos. Esses cargos estão sendo rapidamente substituídos por soluções digitais, algoritmos e robôs, que oferecem maior eficiência a um custo reduzido.
A economista Greice Guerra ressalta que, no Brasil, esse fenômeno ainda é mais evidente devido à carga tributária sobre o trabalho formal: “A tecnologia vem para diminuir o custo das empresas, principalmente em relação à mão de obra, que não é barata, ainda mais no Brasil, com tantos encargos sociais. Quando você contrata um trabalhador por um salário, no final ele sai pelo dobro”, explica. “Então, muitas empresas estão preferindo automatizar processos para reduzir seus custos.”
O relatório lista profissões com tendência de rápido declínio, como caixas de banco, atendentes de entrada de dados, secretários executivos, funcionários de contabilidade e folha de pagamento, condutores de transporte e vendedores ambulantes. A substituição por sistemas automatizados e interfaces digitais está cada vez mais presente no dia a dia.
Esse cenário já é visível em diversos setores. Em bancos, por exemplo, a redução das agências físicas e do número de funcionários é evidente. “Antigamente, víamos muitos caixas e filas nos bancos. Hoje, com o PIX, as transferências e os apps de banco digital, isso praticamente desapareceu. As tesourarias, que lidavam com grandes volumes de dinheiro, deixaram de existir”, comenta Greice.
Além disso, sistemas de portaria remota, supermercados com autoatendimento, trens sem condutores e lojas automatizadas são exemplos concretos da substituição da mão de obra humana por tecnologias. “Isso já acontece em países como Japão, China e Emirados Árabes, e está se espalhando pelo mundo. Não acredito em retrocesso. A tendência é de avanço constante”, diz a economista.
Apesar da perspectiva negativa para alguns setores, o relatório também aponta áreas em forte crescimento, como tecnologia da informação, segurança cibernética, IA e ciência de dados, além de funções humanas essenciais, como educadores, cuidadores e profissionais da saúde. A demanda por habilidades cognitivas, pensamento crítico e colaboração também tende a aumentar.
Outras profissões que devem ganhar relevância envolvem sustentabilidade, engenharia verde, marketing digital, design de experiência do usuário e gestão de projetos. O desenvolvimento de competências sociais e emocionais, como empatia e inteligência interpessoal, também será fundamental, sobretudo em cargos voltados ao relacionamento humano, que não podem ser replicados por máquinas.
Relatório destaca urgência da requalificação profissional
Mesmo com a criação líquida de 78 milhões de novos postos, há um grande obstáculo: a lacuna de habilidades. Segundo o estudo, cerca de 40% das competências exigidas atualmente devem mudar até 2030.
Ainda mais alarmante, 59% da força de trabalho global precisará de requalificação ou aperfeiçoamento, e 11% desses trabalhadores provavelmente não terão acesso a essa formação — o que representa mais de 120 milhões de pessoas em risco de obsolescência profissional.
A economista alerta para a responsabilidade individual e coletiva frente a esse desafio. “As pessoas precisam se preparar para essas novas mudanças, aprimorando seus conhecimentos, especialmente quem está ingressando agora no mercado. A pandemia mostrou que o trabalho remoto é possível e viável. Isso acelerou o uso da tecnologia e, consequentemente, a redução de equipes físicas e dos espaços empresariais”, pontua.
Greice também destaca o papel das empresas e do poder público nesse processo. “Se as organizações quiserem manter seus quadros atualizados e competitivos, terão que investir em capacitação. Governos, por sua vez, precisam criar políticas públicas que garantam acesso à educação técnica, cursos gratuitos e programas de incentivo à qualificação profissional. Do contrário, teremos uma legião de excluídos digitais”, adverte.
O relatório também reforça a necessidade de ação coordenada entre governos, setor privado e instituições de ensino para enfrentar esse momento de transição. Programas de upskilling (aperfeiçoamento) e reskilling (requalificação) devem ser priorizados para garantir que os profissionais consigam migrar para áreas mais promissoras e tecnicamente exigentes.
Para quem busca se manter relevante no mercado, a adaptação deve ser proativa. Entre as habilidades mais valorizadas até 2025 estão: alfabetização em IA, análise de dados, marketing digital, liderança em ambientes digitais, experiência do usuário e resolução de problemas complexos.
Além disso, segundo especialistas, trabalhadores devem apostar em habilidades transferíveis, ou seja, que possam ser utilizadas em diferentes funções e contextos. Saber trabalhar em equipe, ter pensamento analítico e boa comunicação são ativos cada vez mais valorizados.
“Não adianta se prender a uma única função ou depender apenas de um emprego. A diversificação é uma forma de blindar a carreira. Ter renda extra, projetos paralelos, conhecimento técnico e flexibilidade é o que vai fazer diferença daqui para frente”, recomenda Guerra.
Ela ainda conclui.“A automação é um caminho sem volta. Tanto empresas quanto pessoas precisam estar preparadas para essa nova modalidade de trabalho. Deter o progresso é impossível, o que podemos fazer é nos adaptar e evoluir com ele.”
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