Goiás deu um passo importante tanto simbólico quanto econômico ao aprovar o Projeto de Lei nº 22.899/24, de autoria do deputado estadual Coronel Adailton (SDD), que reconhece o arroz com pequi como Patrimônio Cultural, Gastronômico e Imaterial do Estado.
A aprovação, em segunda votação com 22 votos favoráveis, surge após críticas internacionais que apontaram o prato como um dos piores do mundo, mas agora formaliza oficialmente algo que já integra a identidade goiana e abre novas oportunidades para produtores, mercado e indústria.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa) mostram que, em 2023, a extração de pequi em Goiás alcançou 3,7 mil toneladas, um crescimento de 21,8% em relação ao ano anterior e o maior volume da série histórica. Essa produção gerou um valor estimado de R$ 5,65 milhões, representando 37,1% do total da extração vegetal do Estado.
Além disso, nas Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa-GO), a tonelada do fruto foi cotada em R$ 4.071 no mesmo período. Paralelamente, Embrapa Cerrados e Emater Goiás lançaram variedades melhoradas, com e sem espinhos, que proporcionam maior produtividade, polpa mais densa e facilidades no manejo, reduzindo custos e aumentando a competitividade no mercado interno e agroindustrial.
Mercado, oferta e preços
Segundo Josué Lopes, gerente do Ceasa-GO, a oferta inicial do pequi nesta temporada 2024/2025 chegou a R$ 120 por caixa de 30 kg, valor elevado devido à primeira remessa. Com o aumento da oferta durante a safra, a previsão é que os preços se ajustem entre R$ 50 e R$ 60 por caixa.
Para bandejas menores, voltadas à venda direta, o preço deve cair de R$ 15 para R$ 6 – R$ 7 quando a oferta se estabilizar. A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) destaca que a valorização do fruto pode fortalecer a cadeia produtiva local, incrementar a renda de agricultores familiares e promover o desenvolvimento econômico de municípios como Sítio d’Abadia, Damianópolis e Mambaí, que são cidades com maior número de plantação e venda do fruto, sendo que as duas primeiras estão localizadas no Estado de Goiás e a última cidade na Bahia.
O reconhecimento legal do arroz com pequi vai além do simbolismo. Ele abre espaço para políticas públicas, incluindo incentivos fiscais, programas de apoio à produção, verbas para eventos culturais e turísticos, além de certificações que atestem a origem e a qualidade do fruto.
A Embrapa vê nessa medida uma oportunidade de expandir pesquisas para melhorar cultivares, técnicas de cultivo e pós-colheita, fortalecendo o pequi sem espinhos, que facilita a colheita, transporte e processamento, reduz perdas e torna o produto mais competitivo.
Para indústrias de alimentos e mercado varejista, a valorização do arroz com o fruto pode gerar demanda crescente, especialmente fora de Goiás. Restaurantes, festivais gastronômicos, produtos prontos e até exportações podem se beneficiar da certificação e da regularidade na oferta, transformando o prato em uma oportunidade de negócio rentável. Com políticas de apoio e promoção do produto, o prato pode se consolidar como um diferencial econômico e cultural do Estado.
A agricultura familiar é essencial na cadeia de produção do pequi em Goiás, atuando desde a extração até a comercialização direta nos mercados e na Ceasa. A produção de pequi tem impacto direto na geração de renda para famílias do campo, contribuindo para o desenvolvimento econômico de regiões com potencial produtivo ainda pouco explorado, o que muitos agricultores vendem o fruto diretamente aos consumidores em margens de estradas e mercados municipais.
Além de gerar renda para famílias do campo, essa produção contribui para a conservação do Cerrado. Com o apoio em tecnologias e novas variedades, a produção familiar de pequi se mantém como um componente estratégico para o desenvolvimento econômico local e a valorização do patrimônio gastronômico do Estado.
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