A segunda edição da pesquisa “O impacto das Bets 2”, conduzida pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) e pelo Educa Insights, revela que 34% dos jovens com intenção de ingressar em instituições privadas no primeiro semestre de 2026 precisarão interromper os gastos com apostas online para conseguir iniciar a graduação.
Esse percentual representa aproximadamente 986.779 potenciais estudantes em risco de não efetivar a matrícula, com base em projeções do Censo da Educação Superior 2023, o que indica um entrave expressivo à continuidade dos estudos.
No primeiro semestre de 2025, 33,8% dos entrevistados também não iniciaram os estudos por causa dos gastos com bets. No segundo semestre, o percentual caiu para 24%. O impacto financeiro se estende à permanência: 14% dos matriculados em instituições privadas relataram atraso em mensalidades ou trancamento de curso devido ao comprometimento da renda com apostas. O índice é maior nas classes B1 e B2, cujas rendas familiares variam entre R$ 7 mil e R$ 13 mil, segundo a classificação utilizada pela pesquisa.
O estudo foi feito com 2.317 jovens entre 18 e 35 anos, distribuídos por todas as regiões do País e faixas de renda. Mais da metade (52%) declarou apostar regularmente, e a frequência mais comum é de uma a três vezes por semana. A média de gastos mensais com apostas online vai de R$ 421 nas classes D e E a R$ 1.210 na classe A. No Centro-Oeste, a média é de R$ 564, valor superior à mensalidade média de cursos privados da região, estimada em R$ 375 pela própria Educa Insights.
Em relação à proporção da renda comprometida, 80% dos entrevistados disseram destinar até 5% da renda mensal às apostas, mas 24% dos apostadores das classes D e E comprometem mais de 10%. A maioria afirma que consegue recuperar os valores investidos: 77% responderam já ter reavido parcial ou totalmente o dinheiro gasto nas plataformas, o que pode incentivar a continuidade da prática.
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O levantamento também identificou impactos no cotidiano dos apostadores: 28,5% deixaram de sair com amigos, 23,6% abandonaram atividades físicas ou esportivas, e 20,9% pararam de investir em cursos extracurriculares ou idiomas. Os efeitos das bets atingem, portanto, não apenas a trajetória educacional, mas também o convívio social e a qualidade de vida dos usuários.
Os dados mostram que os maiores percentuais de jovens que deixaram de iniciar a faculdade por causa das apostas estão no Nordeste (44%) e no Sudeste (41%) no primeiro semestre de 2025. Para o segundo semestre, os índices caem para 32% e 27%, respectivamente.
O Centro-Oeste apresentou os menores números: 18% no primeiro semestre e 14% no segundo. Em comparação com a primeira edição da pesquisa, feita em setembro de 2024, houve aumento de 7,76 pontos percentuais no Nordeste e 9,39 no Sudeste. Já o Norte e o Centro-Oeste apresentaram queda de 33,16% e 24,97%, respectivamente.
Também aumentou a proporção de pessoas que afirmam apostar com frequência: em setembro de 2024, o percentual era de 42,9%, e em abril de 2025 chegou a 52%. O grupo de jovens que compromete parte da renda com apostas subiu de 51,6% para 54,2%, indicando tendência de crescimento do comprometimento financeiro associado às apostas entre esse público.
O perfil mais comum dos apostadores inclui homens entre 26 e 35 anos, com filhos, trabalhadores e ex-alunos de escolas públicas do ensino médio. 87% dos entrevistados da classe A disseram já ter apostado online ao menos uma vez. Nas classes D e E, esse número é de 57%, o que evidencia a penetração da prática em diferentes faixas de renda, embora os efeitos sejam mais severos entre os grupos economicamente vulneráveis.
O estudo também revelou que 45,3% dos entrevistados já investiram mais de R$ 350 nas apostas, valor superior ao registrado na primeira edição (30,8%). Já o percentual de quem não conseguiu recuperar nenhum valor caiu de 30,3% para 22,9%.
Mesmo após a aprovação da Lei 14.790/2023, que entrou em vigor em janeiro de 2024, o cenário não apresentou recuo significativo. A legislação exige cadastro com CPF e biometria, proíbe o uso de cartões de crédito, estabelece limites de valor e tempo de apostas, e impõe taxação às empresas. Mais de 2 mil sites ilegais foram bloqueados, mas a prática das apostas online continua crescendo e afetando diretamente o acesso à educação superior privada no Brasil.
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