As crianças do CMEI Orlando Alves Carneiro, que funcionava em Campinas, começaram a ser transferidas nesta semana para outras instituições de ensino em Goiânia. Uma das unidades escolhidas foi o Centro de Educação Infantil (CEI) Luzeiro, que fica no Setor Cidade Jardim e é gerido pelo Ministério Filantrópico Terra Fértil. No entanto, o que era para ser uma solução provisória se transformou em motivo de indignação para pais e mães, que decidiram denunciar o que chamaram de instalações precárias da unidade conveniada à Secretaria Municipal de Educação (SME).
Após contestação da matéria “Pais denunciam situação precária de unidade que vai substituir CMEI”, publicada na edição 6.799, de quarta-feira (25), do O HOJE, pelo Ministério Filantrópico Terra Fértil, a reportagem foi ao CEI Luzeiro no início da tarde desta quinta-feira (26) para verificar a situação das instalações da unidade conveniada que recebeu parte das crianças do CMEI Orlando Alves Carneiro.
A nota de esclarecimento foi encaminhada ao jornal pelo diretor de comunicação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), Iuri Godinho. A reportagem apurou que o líder do Ministério Filantrópico Terra Fértil é Marcelo Baiocchi, também presidente da Fecomércio-GO.
Na nota, o Ministério Filantrópico Terra Fértil informa que “o CEI Luzeiro opera com absoluta regularidade, possuindo todos os alvarás, licenças e autorizações exigidos pelos órgãos competentes”. “A estrutura física, pedagógica e administrativa da unidade segue rigorosamente as normas legais e sanitárias, oferecendo um ambiente seguro, adequado e acolhedor para o desenvolvimento infantil.”
Além disso, o texto enviado pela entidade alega que “atualmente, o CEI Luzeiro conta com 150 crianças regularmente matriculadas, com 126 presentes na data de hoje (26/06/2025)”. “A unidade possui capacidade de atendimento para até 232 crianças, e recebeu até o momento apenas 4 crianças transferidas do CMEI Orlando Alves, conforme cronograma da Secretaria Municipal de Educação”, afirmam a diretora financeira do Ministério Filantrópico Terra Fértil, Rúbia Carla Souza Barbosa, e Navarro Xavier de Moraes Rodrigues, do departamento jurídico da entidade.
O que O HOJE constatou
Na chegada ao CEI Luzeiro, a reportagem constatou que obras para reforma de espaços frequentados por crianças que estudam na unidade de educação infantil estão em andamento. Mesmo impedido pela diretora financeira do Ministério Filantrópico de registrar as instalações por meio de fotos ou vídeos, O HOJE verificou que as crianças ficam expostas a poeira, latas de tinta e outros materiais de construção civil no refeitório.
De acordo com a diretora financeira da entidade, que acompanhou a visita da reportagem ao CEI Luzeiro, as crianças passam pelo local e continuam a usar o refeitório, mesmo com as obras em andamento. Não há, inclusive, qualquer tipo de isolamento das partes em que paredes estão quebradas, com tijolos danificados ficam à mostra e trechos nos quais o piso foi retirado, o que causa desnivelamento do chão.
Rúbia admitiu que há reformas em andamento, mas afirmou que o espaço já está apto a receber as crianças. “Estamos reformando e pintando algumas áreas para ampliar o número de vagas. Mas já temos espaços em funcionamento com estrutura adequada. O mobiliário está sendo adequado e os documentos obrigatórios – como alvarás e autorizações – estão disponíveis para consulta, embora neste momento estejam guardados por conta da reforma”, respondeu.
Reportagem foi impedida de entrar no banheiro da unidade
Nossa equipe foi impedida de acessar alguns ambientes no momento da visita. Um desses espaços é o banheiro da unidade, alvo de denúncia de pais e mães de alunos do CMEI Orlando Alves Carneiro que foram transferidos pela Secretaria Municipal de Educação (SME) para o CEI Luzeiro.
A reportagem de O HOJE não pôde verificar as instalações dos chuveiros. Vídeos gravados por pais e mães de alunos transferidos pela prefeitura para a unidade mostram que as crianças precisam subir um lance de degraus para chegar ao chuveiro, que não conta com proteção ou divisória na lateral esquerda, o que aumentaria o risco de quedas e acidentes mais graves durante o banho.
Na nota de esclarecimento enviada ao O HOJE, o Ministério Filantrópico Terra Fértil negou “veementemente qualquer irregularidade no funcionamento da referida unidade educacional”. Mas, segundo a diretora financeira da entidade, os registros fotográficos e vídeos não teriam sido autorizados à reportagem de O HOJE porque havia a presença de menores, cujas imagens são protegidas por lei.
O diretor de comunicação da Fecomércio-GO, Iuri Godinho, chegou a alegar, por telefone, que a foto publicada na matéria “Pais denunciam situação precária de unidade que vai substituir CMEI” mostrava, na versão do profissional, “bonecos”, e não crianças.
No momento da visita, equipes da Secretaria Municipal de Educação (SME) faziam uma vistoria nas instalações do CEI Luzeiro. Mas a reportagem não conseguiu entrevistar os profissionais da SME e, após pedido feito à pasta, não teve acesso aos documentos da visita técnica da secretaria.
A diretora financeira do Ministério Filantrópico Terra Fértil afirmou que a unidade conveniada à SME possui um projeto pedagógico consolidado, aprovado pelo Conselho Municipal de Educação, e que as atividades desenvolvidas pelo CEI Luzeiro têm como objetivo proporcionar “autonomia, senso de responsabilidade e aprendizado significativo para as crianças”.
Vereador critica conduta do Paço na transferência dos alunos do CMEI
Em entrevista ao O HOJE, o vereador Edward Madureira (PT) criticou a conduta da Prefeitura de Goiânia na transferência das crianças do CMEI Orlando Alves Carneiro para o CEI Luzeiro. Segundo o parlamentar, que é presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal, o processo desestrutura vínculos pedagógicos consolidados e causa transtornos às famílias.
“Apesar dos problemas estruturais, como as escadas, a comunidade escolar do CMEI aprendeu a lidar com a realidade do espaço. O ideal seria manter o funcionamento até a entrega do novo prédio ou alugar um imóvel próximo”, defendeu. A unidade conveniada fica a 3 quilômetros do prédio no qual funcionava o CMEI Orlando Alves Carneiro. Pais e mães de alunos querem que as crianças sejam transferidas para unidades mais próximas do local em que seus filhos estudavam. Houve até a sugestão do aluguel de um imóvel próximo ao antigo centro educacional, mas a comunidade escolar não obteve resposta da prefeitura.
Edward afirmou que ainda não visitou o CEI Luzeiro, mas viu vídeos e fotos enviados por pais que mostram crianças aglomeradas e estrutura inadequada. “Estamos trocando um prédio com problemas por outro com falhas possivelmente ainda maiores. Faltam nutricionista, clareza no projeto pedagógico e acesso à documentação da unidade”, observou.
Nota da SME
Em nota ao jornal O HOJE, a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia informou que o CMEI Orlando Alves Carneiro operou, por 16 anos, em um prédio com estrutura física inadequada, o que, segundo a SME, oferecia riscos à segurança de crianças e servidores.
Diante da gravidade da situação alegada pela atual gestão, foram adotadas medidas imediatas para “preservar a integridade de todos os envolvidos”. Como parte da solução, os alunos começaram a ser, gradualmente, transferidos para outras unidades da rede municipal, inclusive para centros de educação infantil conveniados, como é o caso do CEI Luzeiro.
Até o momento, cinco crianças foram encaminhadas ao Centro de Educação Infantil (CEI) Luzeiro, unidade que passou por vistoria técnica da própria secretaria. Segundo a pasta, o local foi considerado plenamente apto, com estrutura térrea, salas amplas, banheiros adaptados e área externa com espaço verde — condições que garantem mais conforto e segurança para o público da Educação Infantil. Mas a SME não enviou a documentação referente à vistoria que comprovaria a situação do CEI para a reportagem.
Resposta da entidade
Na nota de esclarecimento enviada ao O HOJE pela entidade, o Ministério Filantrópico Terra Fértil informa que atua há mais de 30 anos em Goiânia, “sendo referência em educação infantil de qualidade”. “Atualmente, atende regularmente mais de 1,5 mil crianças em suas unidades educacionais, por meio de um trabalho sério, transparente e comprometido com o desenvolvimento das crianças e o apoio às famílias”
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