A saúde pública de Goiânia passa por um período de instabilidade foco da crise está na situação do Cais Amendoeiras e na reorganização da rede na Região Leste da Capital e passa pela interrupção de serviços em unidades de referência e insatisfação entre trabalhadores e usuários. A gestão municipal, sob o comando do prefeito Sandro Mabel, implementou mudanças na rede que culminaram na desativação de atendimentos de emergência em unidades de referência, provocando protestos populares e uma ruptura na base de sustentação do governo.
O Cais Amendoeiras deixou de atender urgências e emergências em Goiânia. A decisão gerou reação imediata da população, que se organizou para realizar um ato público contra o fechamento do atendimento emergencial da unidade. A mobilização busca reverter a medida, considerada um prejuízo ao acesso da comunidade.
Unidade passa a oferecer especialidades como dermatologia, urologia e gastroenterologia| Foto: Divulgação/SMS
Crise no Cais reforça o rompimento na gestão
A crise também se refletiu no campo político. O ex-líder do governo na Câmara Municipal, Igor Franco, tornou-se o principal opositor da medida e declarou que lutará “até o fim” para que o Cais Amendoeiras continue a funcionar 24 horas.
Em declarações públicas, Franco afirmou: “Eu não vou permitir que o prefeito Sandro Mabel acabe com o atendimento 24 horas do Cais Amendoeiras”. Para o vereador, a manutenção do serviço não é apenas uma questão logística, mas uma “questão de respeito e compromisso com quem mais precisa”.
Em outro momento, Franco disse que o prefeito “não entende a realidade de quem depende do Cais”, ao reforçar que Mabel “nunca precisou buscar atendimento de madrugada ou enfrentar fila no SUS”. Também acusou o prefeito de “trabalhar contra os goianienses, em vez de cuidar de Goiânia”.
O rompimento entre Franco e a gestão municipal foi confirmado. O vereador justificou sua saída da liderança do governo alegando que “não dá pra apoiar quem não está do lado da cidade”. Ele ampliou a crítica à situação dos trabalhadores da saúde.
Franco relatou que “eu vejo trabalhadores se ajoelhando para conseguir sustentar suas famílias, enquanto o prefeito persegue quem trabalha”. E reforçou que o Cais Amendoeiras “tem que continuar funcionando 24 horas”, além de prometer continuar a cobrança.
Enquanto isso, a Prefeitura de Goiânia promove a reorganização da rede de saúde na Região Leste. Dentro do processo, o Cais Chácara do Governador está sendo transformado em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
A medida teve reação imediata do Sindsaúde-GO (Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás). Em vídeo, a presidenta Néia Vieira e a diretora Marlene Soares denunciaram a “falta de respeito” da prefeitura com os trabalhadores.
Segundo o sindicato, a gestão municipal cometeu “mais um ato de desvalorização” ao obrigar a equipe da unidade Chácara do Governador a mudar “drasticamente sua rotina e local de trabalho”. A denúncia ressalta que a mudança foi feita sem considerar as condições dos profissionais.
Além disso, o Sindsaúde-GO aponta prejuízos para a população, já que “os usuários foram prejudicados com a interrupção de serviços que antes eram oferecidos” na unidade. Para a entidade, a situação representa um “retrocesso”.
O sindicato reforçou que “não aceitará retrocessos” e exige que a prefeitura “reconheça e respeite o trabalho fundamental” realizado pela equipe da Chácara do Governador. A mobilização sindical tem se organizado em torno dos slogans “valorização já!” e “nenhum direito a menos” para a preservação de direitos dos profissionais e o reconhecimento de sua atuação.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) informou que o perfil de atendimento do Cais Amendoeiras foi alterado, mas a unidade não foi fechada. Segundo a pasta, o Cais passa a concentrar atendimentos ambulatoriais especializados, com capacidade para a realização de mais de 700 novas consultas mensalmente, nas especialidades de dermatologia, urologia e gastroenterologia.
A SMS explicou que a mudança atende a exigências do Ministério da Saúde para a habilitação do Cais Chácara do Governador como UPA. Conforme as normas do ministério, as unidades de pronto atendimento devem oferecer exclusivamente serviços de urgência e emergência, sem atendimentos ambulatoriais. Por isso, o ambulatório de especialidades médicas do Chácara do Governador foi transferido para o Cais Amendoeiras, e o atendimento emergencial será realizado nas UPAs Novo Mundo e Chácara do Governador.
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