O segundo dia da 30° Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizado nesta terça-feira (11) em Belém, manteve o foco em transformar ambição em ação, especialmente nas cidades, mas foi a ausência dos Estados Unidos que dominou os jornais internacionais.
Enquanto os corredores da Zona Azul ainda recebiam ajustes e sinalizações, os trabalhos seguiram com discursos sobre metas e financiamento climático. Mukhtar Babayev, presidente da COP29, destacou na abertura dos trabalhos a importância de cooperação internacional para atingir a meta de US$ 1,3 trilhão de financiamento climático.
“Agora precisamos clamar pelo espírito de Kyoto e Paris para conseguir o consenso para novos acordos para colaborar para o desenvolvimento do Sul Global”, afirmou, ao transferir a presidência para o diplomata André Corrêa do Lago, que comandará a COP30 até 2026. Babayev ressaltou que “US$ 1,3 trilhão é possível”, mas que “é preciso vontade política e ação global”.
Os dados mais recentes da ONU indicam aumento expressivo no engajamento climático. Segundo o Portal Nazca, o número de atores envolvidos em ações do setor subiu de 18 mil, em 2020, para mais de 43 mil neste ano, e as iniciativas integradas passaram de 149 para 243. O Anuário de 2025, divulgado nesta terça, apresenta indicadores socioeconômicos e ambientais voltados ao acompanhamento dos avanços.
O embaixador Maurício Lyrio, secretário do Clima da COP30, reconheceu a lentidão de alguns países em atualizar suas metas nacionais. “Este ano tivemos uma certa decepção com a lentidão com que as NDCs foram apresentadas, e em alguns casos, nem apresentaram”, afirmou à CNN Brasil. Até agora, 111 países entregaram seus planos, entre os 198 signatários do Acordo de Paris.
A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, falou em entrevista coletiva que consida um avanço a aprovação da agenda de ações, que definirá 145 temas prioritários até o dia 21, quando termina a conferência. “Abrir a agenda no dia certo pode parecer pouco, mas é importante lembrar que nas últimas quatro COPs não conseguimos fazer isso”, disse.
Ausência dos EUA na COP30
Mas o tom otimista contrastou com a crítica internacional à ausência dos Estados Unidos. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, opositor de Donald Trump, afirmou que a falta de representantes norte-americanos é “de cair o queixo”. “Não tem nenhum representante, nem mesmo um observador, nem alguém tomando notas sobre o que está acontecendo em Belém”, declarou durante o Simpósio Global de Investidores, em São Paulo. O democrata disse ainda que há “uma guerra ideológica no nível federal” e que “somos tão burros quanto quisermos ser”, referindo-se à política ambiental dos EUA.
Governador da Califórnia, Gavin Newsom (Foto: Reprodução)
A imprensa internacional também deu destaque à ausência norte-americana. O The Guardian publicou trechos do discurso de Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, que alertou: “Os governos que não conseguirem fazer a transição para uma economia de baixo carbono serão responsabilizados pela fome e pelos conflitos”. Em análise, o jornalista Oliver Milman escreveu que “Trump dificilmente fará falta em Belém para aqueles que levam a sério o enfrentamento de uma crise global”.
O Wall Street Journal preferiu uma abordagem crítica à escolha de Belém como sede, descrevendo a cidade como “difícil de chegar” e mencionando a ausência de líderes como Trump, Xi Jinping e Narendra Modi. Já o argentino Clarín destacou o apelo do presidente francês Emmanuel Macron em defesa da ciência “antes da ideologia”, lembrando que Trump costuma chamar o aquecimento global de “a maior farsa” da história.








