Luiz Inácio Lula da Silva completou 80 anos no último 27 de outubro, pouco menos que a soma dos presidentes da Câmara (Hugo Motta, 36) e do Senado (Davi Alcolumbre, 48). Em vez de os mais novos aprenderem (sabe-se lá o quê) com o octogenário, ele é que tem penado no Congresso. Seu refresco é servido em outro prédio da Praça dos 3 Poderes, o Supremo Tribunal Federal, onde a média de idade é 18 anos menor que a do chefe do Executivo. Porém, maior que todos eles é a surpresa que provocam.
O Judiciário nem chega a ser um poder, pois o 1º artigo da Constituição da República Federativa diz que poder é o que “emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Ninguém vota para juiz ou integrante de Tribunal. A distorção é tamanha que um componente do TSE ou TRE pode tirar do cargo alguém eleito por milhões de eleitores. E cassam do nada, com uma canetada, monocraticamente, na linguagem dos bacharéis.
A campanha suja também valeu
Em 2014, Dilma Rousseff (PT) foi reeleita presidente com 54.501.118 votos, em uma campanha suja – morreu Eduardo Campos (PSB) num acidente de avião até hoje pouco explicado, Marina Silva (à época, no PSB) sofreu as mais terríveis baixarias atiradas pelos petistas do Escritório do Ódio, Aécio Neves (PSDB) foi chamado de cocainômano pelo exército do PT culminando com a Operação Lava Jato trucidando-o injustamente. Mas Dilma teve 54.501.118 votos. Bastaram 367 deputados para cassar a opinião de 54.501.118 eleitores. Vale para as distintas ideologias: igual ocorreu com Fernando Collor em 1992.
No quadro atual, o chefe do Executivo conta com o apoio de 1,5 dos poderes, pois o do Judiciário fez campanha para o PT no Paraná e no Legislativo se divide entre o lulista fanático Alcolumbre e o cambaleante Motta, que não domina a Câmara – é um pêndulo que vai do bolsonarismo nostálgico do poderoso Arthur Lira (PP-AL) à indecisão absoluta de um Plenário movido por emendas e cargos. Assim, o que a Constituição prevê como presidencialismo se torna na marra um parlamentarismo assoberbado pelo cheiro ruim das notas de dinheiro vivo. Ou do PIX, que ninguém é de ferro – e, se for, vira aço.
O general brutamontes e o gay casado
Tome-se o caso das Comissões Parlamentares de Inquérito. O governo e a oposição mostram músculos para eleger o presidente e o relator, com resultados que só os trópicos proporcionam ao folclore político mundial. Um general brutamontes, Hamilton Mourão (Republicanos-RS), disputou no Senado a liderança da CPI do Crime Organizado com seu antípoda: Fabiano Contarato (PT-ES) é de esquerda, homossexual casado com outro homem.
Mourão foi do Exército e Contarato é delegado da Polícia Civil capixaba. O que isso tem a ver com a investigação sobre as facções que viraram máfia e estão mandando no Brasil? A princípio, nada, mas quem falou que alguém está aí para princípios? De qualquer forma, as entrevistas na Comissão terão perguntas de esquerda e direita. Se quiserem realmente respostas, haverá método.
Descubram os ladrões, sigam o dinheiro
Se a do Crime Organizado será apenas mais uma comissão a dar comichão nos lacradores, não se sabe, o que ninguém duvida é do fracasso da CPMI (o M é de mista, pois tem deputados e senadores) do INSS. Seus integrantes se reduzem a meros alunos de 5ª série (que os estudantes perdoem essa associação indevida). Ficam batendo sobre quem começou a roubar dos aposentados. Espera-se de parlamentares federais que descubram os ladrões e recuperem o dinheiro. Os bandidos tomaram mais de R$ 6 bilhões de velhinhos que recebem salário de fome e, como não havia mecanismo para pegar de volta, o governo devolveu para as vítimas fazendo outras – o contribuinte.
A iminência do período deve tornar cada CPI um pântano com lama para espirrar de forma generalizada, já que integrante não vem de íntegro. O senador pode ser velhinho igual a Lula, o deputado pode ser jovem como Hugo Motta, o depoente pode estar chegando a cinquentão como Alcolumbre, não importa, será uma gritaria ao arrepio das gerações. Sim, faz parte da democracia. Não, não é para isso que o suor do brasileiro sustenta os 3 Poderes.
Lula está pendendo cada dia mais para a esquerda
A nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) para ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República cumpre uma etapa do que Lula anunciou na tática do “haverá sinais”. E são muitos antes e depois. O antes começou na posse, com a subida de rampa inédita ao lado do fatiamento que o PT considera o retrato do Brasil. O depois está em curso neste momento, com o chefe do Executivo marcando campo à esquerda na questão da segurança pública.
Quando Lula soube da operação que matou 117 bandidos no Rio de Janeiro, estava voando de volta da Ásia. Soube no trajeto, mas aproveitou para planejar em que fronteira iria estabelecer. O AeroLula pousou em Brasília e ele ainda não havia decidido como se posicionar. O tiroteio na Serra da Misericórdia deve ter sido menos belicoso que a zona de guerra petista para influenciar o presidente. Os auxiliares postaram algumas frases acerca do nada enquanto se aguardava o contato. E o contato veio.
Lula optou pela extrema esquerda, a que considera o bandido uma vítima da sociedade. Sua bancada jurídica foi novamente ligeira e passou de aparições ao lado do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), a algoz do coitado – está a um passo de perder o mandato e depende de pessoas que tiveram exatamente nenhum voto. Em vez de tentar fazer de Castro seu aliado, o governo federal pretende conversar com seu sucessor, já que o vice, Thiago Pampolha (MDB) agora é conselheiro do Tribunal de Contas, e o presidente da Assembleia fluminense é Rodrigo Bacellar (União Brasil), outro desafeto dos petistas. Aí volta mais uma daquelas invencionices e o comando do Rio de Janeiro pode cair nas mãos de alguém do terceiro poder, sem voto popular algum, o presidente do Tribunal de Justiça, Ricardo Couto de Castro. Por isso, Deus nos deu algo tão lindo como o Rio, para compensar esses poderes.








