Devido ao crescente endividamento dos produtores rurais goianos, o setor tem cobrado medidas urgentes para conter a crise financeira que atinge o campo. Na última segunda-feira (3), a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) realizou uma reunião presencial da Comissão de Agricultura e Política Agrícola.
Convocado pelo presidente José Mário Schreiner, o encontro reuniu representantes de Sindicatos Rurais de todo o Estado e teve como objetivo discutir a situação do endividamento dos produtores rurais e o cenário atual da safra 2025/2026.
Entre os principais pontos da pauta estavam o aumento da inadimplência e das dificuldades de renegociação. Segundo dados apresentados, o índice de endividamento rural chega a 4,1% no Brasil e 5,3% em Goiás. Além disso, os produtores rurais enfrentam mais exigências dos bancos e restrições na liberação de novos créditos, o que agrava a situação financeira no campo.
Esse cenário pode impactar diretamente o plantio da safrinha de 2026 e até a safra 2026/2027. “A grande preocupação é que esses produtores rurais não consigam executar suas renegociações e prorrogações, e não tenham crédito novo para plantar a safrinha do ano que vem e a próxima safra. Por isso, a gente está trabalhando para adequar essas condições à realidade de negócio dos produtores de Goiás”, explicou o gerente técnico da Faeg, Edson Alves.
Alves afirmou que o endividamento e a inadimplência atingiram um ponto preocupante. “Essa reunião foi para a gente poder apresentar, discutir e debater a situação de endividamento que estão passando os produtores rurais do Estado de Goiás. A gente está numa situação hoje com grau de inadimplência e de endividamento muito grande, com produtores com dificuldades para renegociar e prorrogar suas dívidas. Então a reunião serviu para debater e encontrar ações para melhorar as condições, inclusive de renegociação desses produtores.”
Faeg articula ações em Brasília para alterar MP de renegociação e orienta produtores rurais
Segundo Alves, a Faeg está atuando em duas frentes. A primeira é política, em articulação com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), pedindo mudanças na Medida Provisória 1314, criada pelo governo federal para renegociação de dívidas dos produtores rurais.
“Nós temos hoje uma medida provisória 1314 do governo federal, que estabelece mecanismo de renegociação para os produtores. Essa medida tem uma linha de renegociação com juros subsidiados, com valor de R$ 12 bilhões. E uma outra linha, que é a de juros livres, onde todos os produtores rurais podem renegociar suas dívidas. Uma ação foi adequar essa medida provisória de forma que os produtores consigam renegociar com juros subsidiados, e não com juros livres. Isso está sendo tratado no Congresso Nacional, pela CNA e pela Frente Parlamentar Agropecuária, para que a gente consiga mudar essa questão.”
Enquanto a discussão segue em Brasília, a federação tem orientado os produtores rurais a procurar os bancos e negociar com base nos contratos atuais, evitando juros mais altos. “E uma outra medida da gente poder orientar os produtores rurais para que possam buscar os agentes financeiros é renegociar ou prorrogar suas dívidas com base nos juros e nas condições do contrato vigente, e não com juros de 16%, 17% e 19%.”
Sobre as causas do endividamento, o técnico explicou que não há um único motivo. “Nós temos uma conjuntura de fatores. Tivemos quebra de safra nas três últimas safras, redução do preço das commodities e elevação dos custos de produção. Foi um conjunto de fatores que fizeram com que os produtores ficassem nessa situação. Não foi um fator específico. Vários fatores culminaram nessa situação de endividamento.”
A Faeg considera o cenário preocupante para os produtores rurais e tem pressa em buscar soluções para evitar um colapso financeiro no campo. “É muito preocupante. Porque é um percentual de inadimplência muito grande. O Banco Central soltou um nível de inadimplência de Goiás com dívidas em até 90 dias e acima de 90 dias em 5,3%, mas nós acreditamos que isso é bem maior, pode estar entre 10% e 15%. São inúmeros produtores em dificuldade, e isso impede que eles tenham acesso a novos créditos para plantar novamente.”
De acordo com o gerente técnico da Faeg, Goiás tem hoje cerca de R$ 9 a R$ 10 bilhões em dívidas vencidas, considerando atrasos de até 90 dias e acima desse prazo. “Isso é de modo geral no Estado de Goiás, e não só aqui. O endividamento preocupa também outros Estados brasileiros, principalmente os do Sul e grandes produtores como Goiás e Mato Grosso.”
Outro tema discutido foi o Plano Safra 2025/2026, que, segundo dados da Faeg, teve redução de 22% na liberação de recursos em nível nacional e 25% em Goiás, o que impacta diretamente na capacidade de investimento e custeio dos produtores rurais.
A reunião também abordou a preocupação com o andamento do plantio da safra no Estado, que até o momento atingiu apenas 15% da área prevista, devido ao atraso das chuvas e à dificuldade de acesso ao crédito.
