O setor de beleza e bem-estar vive um ciclo de forte expansão e diversidade. O que antes era um território dominado pelo público feminino agora se abre, de forma consolidada, aos homens. O conceito de well-aging — envelhecer bem e com qualidade de vida — passou a guiar um comportamento que vai muito além da vaidade.
De acordo com a Zion Market Research, o mercado global de estética movimentou US$ 520 bilhões em 2022 e deve ultrapassar US$ 900 bilhões até 2030. No Brasil, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) aponta que, só em 2023, foram realizadas 3,3 milhões de aplicações de procedimentos minimamente invasivos, o que consolida o país como o segundo maior mercado do mundo.
Homens no espelho: o novo público da estética
Nos consultórios e clínicas, o perfil masculino está cada vez mais presente. “Há dez anos, tínhamos cerca de 5% de homens entre nossos pacientes. Hoje, eles representam quase 30%”, conta a dermatologista Carolina Ferraz, especialista em estética facial em São Paulo.
A procura por tratamentos não invasivos, como toxina botulínica, bioestimuladores de colágeno, peelings e laser facial, é crescente. “Os homens querem resultados discretos e naturais. O foco é parecer descansado, não transformado”, explica Carolina.
A mudança cultural é visível também nas redes sociais, onde artistas e influenciadores têm assumido publicamente seus cuidados. O ator João Vicente de Castro, por exemplo, revelou ter feito um procedimento para estímulo de colágeno e destacou: “Não é sobre vaidade, é sobre autocuidado. Me sentir bem reflete em todas as áreas da minha vida.”
Cirurgias plásticas masculinas ganham força
O Brasil é referência em cirurgias estéticas — e os homens já representam uma fatia importante desses procedimentos. Segundo a ISAPS, 13% das cirurgias plásticas realizadas no país em 2023 foram feitas em pacientes do sexo masculino. As mais procuradas incluem lipoaspiração de alta definição, blefaroplastia (retirada de excesso de pele nas pálpebras), rinoplastia e cirurgia de ginecomastia.
“Há uma busca por contornos corporais mais definidos e rejuvenescimento facial sem exageros”, observa o cirurgião plástico Renato Meirelles, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Ele ressalta que o interesse masculino cresceu especialmente após a pandemia, com mais homens trabalhando em home office e se vendo nas telas durante reuniões virtuais.
O segmento masculino cresce mais rápido que o mercado de estética como um todo na beleza. Foto: Divulgação
Um negócio em expansão
O público masculino tornou-se uma das apostas mais promissoras para o setor de beleza. Um relatório da Arizton Advisory & Intelligence aponta que o mercado de estética médica no Brasil foi avaliado em US$ 425 milhões em 2023 e deve chegar a US$ 838 milhões até 2029, com crescimento médio anual de 11,9%. Dentro desse cenário, o segmento voltado aos homens cresce ainda mais rápido, com taxa estimada de 13,7% ao ano.
Grandes marcas de cosméticos já ampliaram suas linhas específicas para pele masculina, enquanto clínicas de estética criam espaços exclusivos para atender esse público. “O homem de hoje é um consumidor atento, que quer entender o que está sendo aplicado e busca resultados sustentáveis”, afirma Andréa Castro, diretora de uma rede de franquias de estética em Goiânia.
Além de tratamentos faciais, cresce também a demanda por terapias capilares, depilação a laser e protocolos corporais combinados, impulsionados por uma geração que associa aparência a bem-estar e performance.
O novo significado da vaidade masculina
Mais do que modismo, o movimento reflete uma transformação de valores. O termo “vaidade masculina”, antes tratado com certo tabu, ganhou contornos de autocuidado e autoestima. Pesquisas do instituto Mintel mostram que 65% dos homens brasileiros entre 25 e 45 anos afirmam se sentir mais confiantes quando cuidam da aparência.
“A estética deixou de ser fútil e passou a ser vista como parte da saúde integral. É um investimento em si mesmo”, analisa o sociólogo Marcos Mendes, pesquisador em comportamento do consumo. Para ele, o avanço do well-aging sinaliza uma mudança geracional: “Homens estão entendendo que envelhecer bem é um projeto de longo prazo, que envolve corpo, mente e estilo de vida.”
Entre o espelho e o mercado da beleza
Com mais de 38 milhões de procedimentos estéticos realizados no mundo em 2024, segundo a ISAPS, a indústria da beleza masculina movimenta cifras bilionárias e promete continuar crescendo. O desafio agora é equilibrar expectativas, segurança e autenticidade — tanto para os consumidores quanto para os profissionais do setor.
Enquanto o mercado se reinventa, uma nova masculinidade se consolida diante do espelho: menos resistente à estética, mais conectada à saúde e ao bem-estar. O reflexo é claro — e o negócio, promissor.










