A convivência de Ronaldo Caiado e Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados durante duas décadas, inclusive como colegas de partido, se aprimorou com duas coincidências: estrearam juntos no Legislativo (em 1991) e no Executivo (em 2018). Caiado foi um dos poucos políticos ouvidos na formação da equipe de Bolsonaro – indicou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Ninguém podia prever a pandemia nem os desentendimentos entre Mandetta e seu chefe, o presidente da República. Mas Caiado também teve rusgas com ele ao discordar do uso da vacina contra a Covid-19, mas voltaram às boas. Agora, chegou outra hora crucial, a de mostrar solidariedade. Ou de se afastar definitivamente desse espectro, concentrando-se no eleitor de centro ou da chamada direita analítica.
O Supremo Tribunal Federal já recebeu os embargos de declaração, que discutem defeitos da sentença da 1ª Turma na condenação do ex-presidente. Haverá outras tentativas de adiar a prisão de Bolsonaro, que está com os dias contados. Dentro do rito normal, pode ser ainda neste mês, talvez no próximo ou em janeiro, sabe-se lá o que os ministros do STF têm na cabeça, mas o óbvio é que virá e, quando vier, existem dois caminhos mais óbvios:
a) ser mantido em prisão domiciliar, como atualmente;
b) ir para um quartel das Forças Armadas ou sala da Polícia Federal; um menos provável, ir para a Papuda, a penitenciária de Brasília; outro impossível, livrar-se anistiado pelo Congresso Nacional.
Segurança de Goiás salva 199 vidas em outubro
Antes que o pior (a prisão) aconteça, Caiado tem a oportunidade de mostrar ao País que a condenação de Bolsonaro é um erro judiciário. Seria a mesma coragem apresentada ao concordar com a decisão do governador Cláudio Castro de enfrentar o Comando Vermelho. Em Goiás, o comando tem a cor da farda dos policiais militares, famosos pela pouca ou nenhuma afeição a bandido. E funciona. Além de garantir a Caiado aprovação na faixa dos 90%, salvou vidas: segundo o Observatório da Secretaria de Segurança Pública, no outubro que acaba de terminar houve 57 homicídios. Para a família de quem é assassinado, o índice de mortes é 100%, e deve-se lamentar toda vida perdida, mas esse dado é ultrarrelevante porque num só mês foram salvas 199 vidas. Como? Dez outubros atrás, em 2016, foram vítimas de mortes violentas 256 goianos; agora, 57. Nem é preciso ser muito inteligente para fazer a conta.
Caiado deu a cara a tapa e recebeu foi afago ao concordar com a operação nos complexos da Penha e do Alemão. Idealizou o Consórcio da Paz, formado pelos governadores, para peitar o crime organizado. Além de a pauta estar nos conformes dos bolsonaristas, vai além da bolha, pois a sociedade também tem tolerância zero com a criminalidade. Isso tudo acontecendo e Bolsonaro em casa dando milho aos pombos, observando qual dos pretendentes à Presidência da República seria destemido o suficiente para anistiá-lo, como os da direita se dizem capazes de fazer.
Impossível participar da campanha
Há diversas alternativas de manifestações esperadas pelos fãs de Bolsonaro para destinarem seu apoio. Assim como o lulismo, o bolsonarismo parece uma religião. São seguidores fiéis de verdade. O que o ídolo pedir, eles fazem. Se o ex-presidente estiver cumprindo pena em casa, quartel ou sala da PF, ficará impedido de fazer campanha política, desde as formas mais óbvias, como lives e gravações de vídeos, até a receber seus preferidos à presidência, aos governos estaduais e distrital, a senador e deputado. Estará impedido de falar em favor de um candidato nem o que já disse poderá ser usado em mídias sociais ou no Horário do Tribunal Eleitoral.
Foto: Reprodução
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi ministro de Bolsonaro, porém, a amizade com Caiado passou por diversos testes tanto nas duas dúzias de anos no Congresso Nacional (20 juntos na Câmara, 4 de Caiado no Senado e Bolsonaro ainda deputado). Raríssimos parlamentares se diziam de direita e eles estavam entre essas raridades. No momento, essa biografia conjunta só tem validade se for contada no vídeo em que Caiado disser a verdade, como é de seu feitio, sem rebatizar palavras: “Deixem Bolsonaro cumprir a pena em sua residência que no dia 1º de janeiro de 2027, dois minutos após tomar posse na Presidência da República, vou assinar a sua anistia”. 










