O governo do Rio de Janeiro confirmou nesta quarta-feira (29) que 121 pessoas morreram durante a Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha contra o Comando Vermelho (CV). Segundo o secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, entre as vítimas estão quatro policiais e 117 suspeitos. A ação, que mobilizou 2,5 mil agentes, é considerada a mais letal da história do estado.
Contradições nos números oficiais
O balanço divulgado nesta quarta apresenta divergências em relação aos números informados anteriormente. Na terça-feira (28), o governo havia relatado 64 mortos, mas, pela manhã, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) falou em 58 vítimas. À tarde, a Secretaria de Segurança atualizou os dados para 121 mortes.
Enquanto isso, moradores da Penha relataram ter encontrado 74 corpos em uma área de mata e os levaram para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas. O secretário Felipe Curi, no entanto, afirmou que foram 63 corpos localizados na região.
Versões das autoridades e estratégia da operação
Durante coletiva de imprensa, o governador Cláudio Castro classificou a ação como um “sucesso” e afirmou que apenas os quatro policiais mortos são “vítimas”. Segundo ele, o governo só contabiliza corpos oficialmente após entrada no Instituto Médico-Legal (IML).
“A nossa contabilidade começa a partir do momento em que os corpos entram no IML. A Polícia Civil tem a responsabilidade de identificar quem eram aquelas pessoas”, declarou Castro.
O secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, explicou que os agentes criaram o chamado “Muro do Bope”, cercando os criminosos na Serra da Misericórdia e empurrando-os para a mata, onde equipes do Batalhão de Operações Especiais já estavam posicionadas.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, disse que o “dano colateral” foi “muito pequeno” e que apenas quatro civis inocentes morreram durante o confronto.
Reconhecimento das vítimas e relatos de violência
De acordo com o ativista Raull Santiago, que participou da retirada de corpos da mata, o cenário foi de brutalidade inédita.
“Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, nunca vi nada parecido. É algo brutal e violento num nível desconhecido”, afirmou.
Os corpos foram levados à praça para facilitar o reconhecimento por familiares, que identificavam parentes por tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença. Muitos apresentavam ferimentos de bala, e alguns estavam desfigurados.
A Polícia Civil informou que o atendimento às famílias ocorre no prédio do Detran, ao lado do IML do Centro do Rio. O local permanece restrito à atuação da polícia e do Ministério Público, enquanto necropsias sem relação com a operação estão sendo realizadas no IML de Niterói.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Moradores também relataram que seis corpos foram transportados em uma Kombi até o Hospital Estadual Getúlio Vargas, no início da manhã.










