O último prefeito a deixar o cargo e se eleger governador de Goiás foi Otávio Lage, de Goianésia. Iris Rezende também esteve nas duas cadeiras, mas com interregno de 13 anos. Antônio Gomide (Anápolis), Paulo Roberto Cunha (Rio Verde) e Vanderlan Cardoso (Senador Canedo) renunciaram aos Executivos municipais tentando alcançar o estadual, mas perderam. Mas no próximo ano haverá uma simbiose do Palácio das Esmeraldas com o poder local, pois a bandeira do municipalismo será decisiva. Observe bem a frase anterior: não é município, é municipalismo.
No ano passado, o único dos quatro principais pré-candidatos a governador a vencer em sua cidade natal foi Adriana Accorsi, do PT, que ganhou em Itapuranga, no Centro do Estado. Daniel Vilela, Marconi Perillo e Wilder Morais (PL) perderam respectivamente em Jataí, Goiânia e Taquaral. Porém, nenhum do quarteto tem onde nasceu a base principal: a de Adriana e Wilder é Goiânia, a de Marconi é Palmeiras e de Daniel, Aparecida. Tudo empatado nesse quesito, até porque o municipalismo vai além de certidão de nascimento.
A diferença está na temática. Mesmo que estejam embolados nas pesquisas, cada qual dispõe de peculiaridades. Não há como compará-los em números, porque Marconi teve quatro mandatos de governador e os demais não exerceram cargos executivos públicos, Wilder está no segundo de senador, Daniel e Adriana estão com quatro mandatos no Legislativo. No outubro da votação, Daniel estará no sexto mês substituindo Caiado, o que não é nada, não é nada… não é nada. Para o municipalismo, é vital transformar a vida das pessoas, o que é impossível conseguir mandando um recursinho ali, um discurso acolá.
Tudo isso para dizer que quem vai decidir a questão das obras, um dos muitos itens do municipalismo, são os prefeitos. A base do governador Ronaldo Caiado, estimada em 200 cidades, precisa se mobilizar em prol de Daniel. Para isso, essa multidão de gestores vai ser obrigada a exibir popularidade nos níveis da de Caiado – sempre superior a 80% de ótimo/bom. Atualmente, esse percentual é raro. Marconi e Adriana terão pouquíssimos administradores municipais, apesar de terem levado recursos para muitos. Wilder já mandou emendas para todos os 246 municípios, apesar de agora contar com a fidelidade apenas de uns 10%.
Além do chefe do Executivo de cada município, o exército acionado pelas campanhas eleitorais é engrossado ainda pelos vices, as primeiras-damas, os vereadores, os secretários e tudo isso aí com um ex à frente. Quanto aos ex, Marconi está bem servido: foi uma associação de prefeitos anteriores, a Agexp, a responsável pela festa de lançamento de sua pré-campanha a governador. São contados às centenas para Marconi, Daniel e Wilder. Adriana teria pouco.
Ex-prefeito consegue votos, cada qual deixa seu legado, e a quantidade depende do desgaste do atual. Quanto pior, melhor para o antecessor. Isso nada tem a ver com obras. Em 2018, Marconi perdeu a eleição de senador para Jorge Kajuru, então como zero obra, e Vanderlan, que se limitava a Senador Canedo, na Grande Goiânia. Em 2022, Marconi perdeu novamente – no caso, para Wilder, que tem seus serviços prestados, mas ficaria longe num balanço de construções.
Municipalismo inclui detalhes fundamentais como a mudança de perspectiva quando a população está cansada de um modelo. Foi o que ocorreu para Marconi vencer Iris Rezende em 1998 e para Caiado ganhar em 2018 com meia dúzia de prefeitos de pequenos municípios. Nos dois acontecimentos, estava-se em fim de ciclo. A pergunta é: como se reconhece que um ciclo está no fim? Não é o que se desenha neste momento.
Caiado acaba de passar no teste de público tanto ao ficar com aprovação na faixa dos 90% quanto a ser decisivo nas vitórias de seus aliados nas duas maiores cidades, Goiânia e Aparecida. Governador geralmente não elege o prefeito da Capital e Caiado ainda dobrou a aposta: tirou da aposentadoria um ex-deputado que nem era de seu grupo político, concorrendo com um jovem bolsonarista no lugar mais bolsonarista do Centro-Oeste, lançou-o de última hora e está aí Sandro Mabel prefeito. O mesmo enredo ocorreu em Aparecida: um ex-deputado que não concorria havia década, a 400km de seu domicílio eleitoral, adversário bolsonarista superfavorito e aí está Leandro Vilela prefeito.
O desafio de Délio, Vitor, Carlão, Itamar, Paulinho
A safra atual de prefeitos é bem jovem, quando não na idade, na experiência política. Por isso, os candidatos se cercam de personagens com acesso em todos os quadrantes do Estado.
Do lado de Daniel Vilela, além do municipalíssimo Ronaldo Caiado, estão quatro das maiores lideranças municipalistas da História, dois deles na novíssima geração e, não por coincidência, presidentes das duas entidades do setor: José Délio Júnior, prefeito de Hidrolândia e presidente da Associação Goiana de Municípios (AGM), e Paulo Vitor Avelar, prefeito de Jaraguá e presidente da Federação Goiana de Municípios). Os outros dois são seus antecessores nas duas entidades, Carlão Oliveira, ex-prefeito de Goianira e ex-presidente da AGM; Haroldo Naves, ex-prefeito de Campos Verdes e ex-presidente da FGM.
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Com Marconi estão Paulo Sergio de Rezende, o Paulinho, ex-prefeito de Hidrolândia e também ex-presidente da AGM, além de Itamar Leão, ex-prefeito de Sanclerlândia e um dos grandes mobilizadores de lideranças municipais.
Wilder e Adriana têm a seu lado diversos prefeitos, ex-prefeitos e outros antigos e atuais ocupantes de chefias de Executivos municipais. Como estão fora do poder no Estado, apesar de ela ser do partido com a Presidência da República, é mais difícil se apresentarem os ocupantes de cargos que mais dependem de governo.