O Dia dos Professores, celebrado em 15 de outubro, tem se consolidado como uma das datas de maior movimento no segundo semestre para o comércio de presentes e serviços personalizados. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas voltadas à data devem crescer cerca de 4,5% em 2025, movimentando aproximadamente R$ 680 milhões em todo o país.
O aumento é impulsionado pela busca por lembranças simbólicas — como livros, canecas, agendas e arranjos florais — e pela expansão do mercado de presentes corporativos. Segundo o Instituto Fecomércio de Goiás, micro e pequenos empreendedores locais têm aproveitado a data para lançar produtos temáticos e reforçar o relacionamento com escolas e instituições privadas. Em Goiânia, por exemplo, floriculturas e papelarias relatam alta de até 30% nas encomendas na primeira quinzena de outubro.
Presente simbólico e experiência personalizada
Embora o gasto médio por consumidor ainda seja modesto — cerca de R$ 85, segundo o Datafolha —, o comportamento do consumidor vem mudando. Há uma valorização crescente de itens com significado afetivo ou utilidade prática, reflexo de um mercado que prioriza experiências mais personalizadas.
Empresas de eventos, cafeterias e livrarias também registram aumento na procura por serviços para homenagens internas e confraternizações. “O público procura algo que demonstre reconhecimento. As escolas têm optado por experiências, como cafés especiais ou pequenas cerimônias, em vez de presentes individuais”, explica a economista Carla Nascimento, especialista em consumo e comportamento do Sebrae.
Mercado educacional busca adaptação
O cenário de consumo é apenas uma face de uma data que também reacende o debate sobre o valor econômico e social da docência. O Brasil possui 2,2 milhões de professores na educação básica, conforme o Censo Escolar 2024, com média salarial de R$ 4.580. Embora o piso nacional tenha sido reajustado para R$ 4.580,57 em 2025, estudos do Dieese indicam que o poder de compra da categoria ainda está abaixo da média de outras profissões com formação superior.
Em Goiás, o retrato é semelhante: levantamento da Secretaria de Estado da Educação (Seduc-GO) mostra que, apesar dos reajustes recentes, os docentes da rede estadual têm enfrentado desafios relacionados à sobrecarga de trabalho e à defasagem de estrutura escolar. Ao mesmo tempo, cresce o número de professores empreendendo em áreas paralelas, como reforço escolar, aulas online e consultorias pedagógicas, o que movimenta o mercado de serviços educacionais e tecnológicos.
Em Goiânia, pequenos negócios registram aumento expressivo nas encomendas para a data
Educação e negócios digitais
O avanço das plataformas digitais e da inteligência artificial também vem transformando o perfil econômico do setor. De acordo com a consultoria HolonIQ, o mercado global de tecnologia educacional deve alcançar US$ 404 bilhões até 2025, com destaque para o ensino remoto, plataformas de aprendizagem e ferramentas de avaliação digital.
Em Goiás, startups ligadas à educação têm ganhado espaço, sobretudo em Goiânia e Anápolis. “A pandemia acelerou a digitalização e abriu oportunidades para professores que transformaram conhecimento em produto. Hoje, muitos atuam como criadores de conteúdo e gestores de microempresas educacionais”, observa o consultor Eduardo Santana, da Associação Brasileira de Startups.
Desafios e perspectivas
Mesmo com o crescimento das oportunidades digitais, a profissão ainda enfrenta barreiras estruturais. A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis/OCDE) mostra que 82% dos professores brasileiros afirmam lidar com altos níveis de estresse e carga administrativa. Esses dados refletem um cenário de valorização simbólica, mas de reconhecimento econômico ainda limitado.
“Celebrar o Dia dos Professores é reconhecer o papel fundamental da educação na economia, mas também é o momento de repensar modelos de carreira e remuneração”, avalia o economista Marcos Azevedo, professor da Universidade Federal de Goiás. Para ele, a data deveria servir não apenas ao comércio, mas como oportunidade para discutir o investimento em capital humano e inovação educacional.
Um mercado que se renova
Enquanto o debate sobre valorização avança, o mercado do Dia dos Professores segue em expansão. Segundo projeção da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), o número de consumidores que pretendem presentear deve crescer 8% em 2025. O principal canal de compra continua sendo o varejo físico de bairro, responsável por 67% das transações, mas o comércio eletrônico ganha terreno com ofertas de personalização e entregas rápidas.
De forma simbólica e econômica, a data movimenta diferentes segmentos — do varejo à tecnologia educacional — e reafirma a relevância de um setor que, embora ainda careça de reconhecimento financeiro, permanece essencial para o desenvolvimento do país.