Francisco Hitalo Costa do Nascimento, de 23 anos, morreu após sofrer três paradas cardíacas enquanto aguardava transferência na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Setor Colina Azul, em Aparecida de Goiânia. O jovem, que tinha anemia falciforme, doença hereditária que altera a forma dos glóbulos vermelhos do sangue, estava internado na unidade havia dois dias, enquanto esperava uma vaga em leito de UTI.
Segundo familiares, em entrevista para o repórter Rafael Freitas, a morte do jovem foi consequência de falhas no atendimento, atrasos na regulação e falta de preparo das equipes envolvidas na transferência. “Meu mundo desabou. Nunca imaginei perder meu filho tão jovem. Morri por dentro”, lamentou emocionada a mãe Eliane Costa Ferreira, única responsável pelo rapaz.
Uma amiga da família, Maria dos Santos, estava na UPA no momento da morte e gravou um vídeo denunciando o que classificou como negligência. De acordo com Maria, uma ambulância chegou a ser enviada para buscar o jovem, mas a equipe teria informado que o veículo não possuía os equipamentos adequados para fazer o transporte.
“A ambulância veio e foi embora por falta de equipamentos. O Francisco ficou na UPA esperando outra viatura que pudesse levá-lo. Nesse intervalo, ele teve outras paradas cardíacas e não resistiu. Quando a médica saiu da sala e avisou a família, foi um desespero total. Ali foi um desastre”, desabafou indignada Maria.
O vídeo, que circulou nas redes sociais, mostra familiares e pacientes revoltados com a situação. Uma mulher aparece enquanto afirma que “a vaga de UTI saiu, mas o Samu não chegou; e quando apareceu, não estava preparado para levar o jovem, que acabou perdendo a vida”.
Foto: Divulgação
Informações da SMS de Aparecida
Em nota ao jornal O HOJE, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia informou que o jovem deu entrada na UPA do Colina Azul no dia 7 de outubro, onde recebeu atendimento e foi identificada a necessidade de suporte especializado com acompanhamento hematológico.
A Secretaria explicou que a vaga de UTI foi solicitada à Central de Regulação e disponibilizada na noite de 9 de outubro, às 20h16, na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Ainda segundo o órgão, o jovem permaneceu sob cuidados da equipe multiprofissional, mas apresentou piora súbita e morreu antes de ser transferido, mesmo após tentativas de reanimação.
A SMS afirmou que instaurou uma apuração interna para esclarecer todo o percurso assistencial e as circunstâncias da morte. “O caso está sendo investigado para que sejam identificadas eventuais falhas e responsabilidades”, diz o comunicado.
Anemia falciforme
O Ministério da Saúde define a anemia falciforme é uma doença genética caracterizada pela deformação dos glóbulos vermelhos, que adquirem formato de foice e dificultam a circulação sanguínea. A condição pode causar crises de dor intensa, infecções e complicações cardíacas. O tratamento exige acompanhamento contínuo e, em casos graves, internação hospitalar.
As manifestações clínicas da doença falciforme podem afetar quase todos os órgãos e sistemas, ocorre a partir do primeiro ano e se estende por toda vida. As principais incluem: crises de dor; icterícia; anemia; infecções; síndrome mão-pé; crise de sequestração esplênica; acidente vascular encefálico; priapismo; síndrome torácica aguda; crise aplásica; ulcerações; osteonecrose; complicações renais; oculares; dentre outras, como complicações tardias relacionadas à sobrecarga de ferro secundária às transfusões.
O diagnóstico é feito, principalmente, no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), o “Teste do Pezinho”. Crianças a partir dos 4 meses de idade, jovens e adultos que ainda não fizeram diagnóstico para detecção da doença podem fazer o exame de sangue chamado eletroforese de hemoglobina.