Bruno Goulart
O encontro reservado entre os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG), ocorrido na última semana, no Palácio dos Bandeirantes, na capital paulista, reacendeu as especulações sobre os rumos da direita em 2026. A sucessão presidencial entrou na pauta, mas Tarcísio reafirma publicamente que seu foco está na reeleição em São Paulo.
Zema, por sua vez, classificou como “prematura” a discussão sobre uma candidatura do paulista ao Planalto. Nos bastidores, entretanto, cresce a expectativa de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) oficialize até novembro seu apoio a Tarcísio — movimento que impacta diretamente as pretensões do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
O cientista político Lehninger Mota avalia que a eventual composição Tarcísio-Zema tem peso considerável pela soma de São Paulo e Minas Gerais, os maiores colégios eleitorais do País. “Quando se fala numa junção de Zema com Tarcísio, nós estamos falando dos dois maiores colégios eleitorais. Existe uma máxima na política de que quem ganha em Minas, ganha no Brasil. Então, ter esse apoio em conluio é uma força política muito forte”, disse ao O HOJE.
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Entretanto, Mota lembra que o poder de decisão não está nas mãos de Tarcísio ou Zema. “Bolsonaro é o grande coordenador da direita. É a pessoa que tem todo o respeito e a fidelidade do Tarcísio. Então, essa questão de decidir o vice vai ser discutida, não vai ser o Tarcísio que define. Ele pode opinar, mas é uma coisa maior”, destacou.
Caiado encolhe
Nesse tabuleiro, o espaço do governador goiano encolhe. “Caiado tem essa dificuldade, porque você vê, por exemplo, o [senador] Ciro Nogueira (PP-PI), que é um tubarão dentro dessa [federação] União Progressista, articulando para ser o vice do Tarcísio. Apesar de o [presidente do UB, Antônio] Rueda garantir que vai estar apoiando a pré-candidatura do Caiado, é muito difícil manter essa unidade do partido para que ele seja o candidato”, avaliou.
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Para Mota, o goiano teria dois caminhos: buscar legenda menor ou se recolocar como coordenador de campanha ou candidato ao Senado. “Eu acho que é o mais provável. Não vai querer ficar sem mandato, já que é um político atuante.”
Fator Lula
Outro ponto é o fator Lula. Para Mota, a melhora da avaliação do governo federal também influencia os cálculos da direita. “Esse afastamento do Tarcísio, de reafirmar que é candidato à reeleição em São Paulo, tem a ver com isso. Ele já estava em pré-campanha presidencial e, quando teve a PEC da Blindagem, que desgastou bastante a direita, resolveram tirá-lo de foco. No momento certo, vão lançar a candidatura dele sem que ele tenha esse desgaste”, explicou.
Já o especialista em marketing político Luiz Carlos Fernandes vê a união entre Tarcísio e Zema com impacto limitado. “Saiu uma pesquisa da Quaest mostrando que, se a direita sair unida, o Lula tem mais chance de ganhar no primeiro turno do que se ela sair fragmentada. Por quê? Porque o Lula fica com 40% e os outros não chegam nem a 20%. Agora, se sair com três candidatos, o Lula fica com 32% e aí eles vão achar que chegam perto de 20% também”, disse.
Para Fernandes, a conta mostra que a unidade da direita não necessariamente significa competitividade. “Se a direita sair unida, o Lula ganha no primeiro turno; se sair fragmentada, o Lula ganha no segundo. Então, de qualquer forma, essa união de Zema e Tarcísio não vai dar muita coisa no sentido de voto, porque quem pode mais se aproximar do Lula é o Bolsonaro. Mas, como o Bolsonaro está fora do páreo, o filho dele, o Eduardo (PL-SP), tem mais chance do que o Tarcísio e o Zema juntos”, avaliou.
Nesse cenário, Caiado aparece fragilizado. Fernandes resume: “Eu acho que essa eleição presidencial está praticamente consumada. Uma parte da direita está pensando, e acho que está correto, que eles têm que pensar no Senado e na Câmara, porque a viola já foi para o saco”. (Especial para O HOJE)