A Marinha de Israel interceptou nesta quarta-feira (1º) embarcações da Flotilha Global Sumud (GSF), que levavam ajuda humanitária para Gaza. Entre os detidos estavam a ativista sueca Greta Thunberg, a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), o ativista brasileiro Thiago Ávila, ao menos outros dez brasileiros e um argentino residente no Brasil. O episódio gerou reações imediatas de governos estrangeiros, organizações humanitárias e protestos em diferentes países.
O governo israelense afirmou que as embarcações foram paradas de forma segura e que os passageiros estavam sendo levados a um porto para procedimentos de deportação. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores declarou que “Greta e seus amigos estão seguros e saudáveis”. Imagens divulgadas mostram a ativista recebendo água e um casaco de militares. A flotilha, formada por cerca de 50 barcos com mais de 500 participantes de dezenas de países, levava alimentos, água potável, medicamentos e brinquedos.
Nem todas as embarcações foram abordadas, mas navios como Alma, Surius e Adara foram interceptados. A GSF acusou Israel de agir de forma agressiva, relatando abalroamentos e disparos de canhões de água contra os barcos. O grupo classificou a ação como ilegal e acusou o governo israelense de tentar sabotar uma missão civil pacífica. Israel, por sua vez, alegou que a flotilha tentava entrar em uma zona de combate ativa e violava um bloqueio naval legal.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro emitiu nota expressando preocupação, lembrando o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais e qualificando a ação militar israelense como condenável: “O governo brasileiro deplora a ação militar do governo de Israel, que viola direitos e põe em risco a integridade física de manifestantes em ação pacífica”.
A reação internacional foi rápida. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, expulsou diplomatas israelenses, revogou o acordo de livre comércio entre os dois países e denunciou a operação como “crime internacional cometido por Netanyahu”. Ele também exigiu a libertação de dois colombianos a bordo.
O vice-primeiro-ministro da Irlanda, Simon Harris, afirmou que esperava que Israel respeitasse o direito internacional. Ao menos sete cidadãos irlandeses, entre eles o senador Chris Andrews, estavam entre os detidos. França e Itália disseram ter recebido garantias de que não haveria violência.
Protestos ocorreram em países como Itália, Turquia, Tunísia, Grécia e Argentina. Em Roma, Pisa, Florença e Turim, manifestantes tomaram as ruas, enquanto um sindicato italiano convocou uma greve geral, para essa sexta-feira (3), em solidariedade à população de Gaza. Em Istambul, a chancelaria turca classificou a interceptação como “ato de terrorismo”. O Hamas chamou o episódio de “ataque traiçoeiro” e “ato de pirataria”.
A interceptação ocorre em meio ao aumento da ofensiva israelense em Gaza e à discussão sobre um novo plano de paz apresentado dias antes em Washington pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado do premiê Benjamin Netanyahu. Israel defende que bloqueios como o imposto à flotilha são necessários para impedir que suprimentos cheguem ao Hamas, enquanto agências humanitárias alertam que a população de Gaza sofre com fome e falta de medicamentos.
A GSF afirmou que pretendia chegar a Gaza na manhã de quinta-feira (2). O comboio havia partido de Barcelona em agosto e foi reforçado por barcos ativistas de outros países ao longo da rota. Não era a primeira tentativa: em junho e julho, Israel já havia interceptado missões semelhantes.