Dia 18/9, o União Brasil deu o ultimato: seus filiados deveriam entregar os cargos no Governo Federal em no máximo 24 horas. Até ontem à tarde, nenhum dos ocupantes havia obedecido, foi quando Celso Sabino disse que vai retomar seu mandato de deputado federal pelo Maranhão e deixar o Ministério do Turismo no dia 2/10. O que seria um dia virou uma quinzena e ninguém mais se move para fora das funções. É um desrespeito à candidatura do governador Ronaldo Caiado a presidente da República, que vai enfrentar Lula, o chefe de seus colegas de partido. Poderia mudar de partido, mas ele demonstra fidelidade às causas: as siglas é que mudam, e já foram muitas transformações desde os anos 1980, mas Caiado permanece no nicho de atuação.
Se vai se manter no União, Caiado precisa ligar o f.-se, pois seu planejamento de manter a sigla clean tinha tudo para dar errado. E deu. O UB se juntou ao PP encabeçados pelo senador Ciro Nogueira, líder-mor pepista cuja reeleição está derretendo no Piauí, despontando de vice Antônio Rueda, o presidente do União Brasil. O resultado é a União Progressista, um saco de gatos que insistem em chamar de federação. Ciro, claro, nem pisca, de olho em atrair o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para ser seu companheiro de chapa rumo à Presidência da República. Rueda, dando uma de quem manda, mas sem mandar em coisa alguma, finge que briga com os lulistas filiados a sua sigla. Nenhum interessado em superavitar a pretensão de um companheiro, Caiado, que tem a maior aprovação do Brasil.
Na edição da revista “Veja” que vai circular neste fim de semana, a coluna Radar crava que o ex-presidente Jair Bolsonaro já fechou sua chapa com a própria mulher, Michelle de Paula, como vice de Tarcísio. Em resumo, os três grupos esperados na pré-campanha de Caiado deram-lhe as costas: o UB está preocupado com as posições no governo, o PP tem outros personagens no sonho e o bolsonarismo planeja lançar alguém com esse nome.
Bem que Caiado se esforçou para manter a unidade, pois abriga em sua equipe a fauna inteira dos autoproclamados conservadores que não pertencem ao PL. O PP em Goiás é presidido pelo ex-ministro Alexandre Baldy, presidente da Agehab, a Agência de Habitação, que está fazendo casas gratuitamente para famílias sem moradia própria. Irmão de Baldy, Joel de Sant’Anna Braga Filho é secretário estadual de Indústria, Comércio e Serviços. Baldy é um dos políticos mais próximos de Ciro Nogueira, que nem assim se esforça para apoiar o governador goiano e cavucar uma vaga de senador para seu amigo ao lado de Gracinha Caiado.
Ao mesmo tempo, Caiado tem um superpartido, o maior do Legislativo brasileiro, e nada. Pelo contrário, são amigos da onça (a do ouro), uma turma que articulou o isolamento do político que mais se opõe a Lula – inclusive, já na longínqua disputa de 1989, denunciou os rolos do petista no escandaloso Caso Lubeca. A direção do partido sequer foi ao lançamento da pré-candidatura de Caiado em Salvador. O maior cargo da União Progressista, fora meia dúzia de ministérios e o domínio da Caixa Econômica, é a Presidência do Congresso Nacional, com Davi Alcolumbre (UB/AC). Se alguém ficou de comunicar-lhe que o partido tem pretendente ao Palácio do Planalto, ou não se desincumbiu da tarefa ou o interlocutor fez ouvidos moucos e orelhas grandes: seus indicados ao Governo Lula não se movem 1cm sequer para fora dos cargos, apesar do ultimato do dia 18.
Mestre em ciências políticas detalha o motivo do isolamento
O cientista social Lehninger Mota, que fez mestrado em Ciências Políticas na Universidade Federal de Goiás, onde também se graduou, encontra no próprio Estado a origem do isolamento do governador: “Ronaldo Caiado ostenta 88% de aprovação e seria natural transferir parte desse percentual para seu candidato e vice, Daniel Vilela [que está na faixa dos 20%, empatado com Marconi Perillo e Wilder Morais]. Além do mais, nas pesquisas qualitativas, Daniel não é apontado como capaz de continuar o trabalho que Caiado desempenha, principalmente na segurança pública, que é o que os goianos mais citam para torná-lo o mais bem avaliado do País. Em grupos focais [método de pesquisas qualitativas], as pessoas não veem Daniel à frente desse legado”.
Seria uma das razões do desprezo do Centrão, que não pula em galho seco: se Caiado está com problemas para transferir votos em sua própria casa, sacrificaria muito mais quem o apoiasse em outras paragens. Um exemplo ocorreu em 2022 com as candidatas dos partidos de Daniel (Simone Tebet) e Caiado (Soraya Thronicke), ambas senadoras do Centro-Oeste: não houve esforços de Caiado para fazer de Soraya a vencedora no seu União Brasil (ficou em 5º), nem suor de Daniel para eleger Simone (em 3º e acabou no ministério de Lula) em seu MDB.
Alcides Rodrigues era tão diferente de Marconi Perillo quanto Daniel de Caiado e acabou reeleito governador em 2006. Dilma Rousseff nada tinha a ver com Lula, que a elegeu presidente da República em 2010 partindo do zero. Lehninger distingue os casos: “Hoje, existe um fator ideológico que freia essa transferência automática de apoios que cheguem a resultados nas urnas. É a ideologia, um atalho informacional para o voto. Então, várias pessoas que votam no Ronaldo Caiado teriam dificuldade em apoiar quem não identificam como de direita, com os mesmos princípios”.
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