O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), anunciou a intenção de investir cerca de R$ 20 milhões na compra de um radar meteorológico capaz de prever chuvas em um raio de até 100 quilômetros.
Segundo a prefeitura, o equipamento permitirá antecipar tempestades e reduzir os impactos de eventos climáticos extremos, como os recentes temporais que deixaram a cidade em alerta. A proposta ganhou força após a forte chuva de terça-feira (23), que provocou alagamentos, prejuízos a comerciantes e moradores, trânsito caótico e a morte de uma adolescente ao pisar em fio solto.
De acordo com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), 78 mm de chuva caíram em apenas 1h30, superando a média mensal de 52,8 mm. Ventos de até 35 km/h e granizo agravaram os danos.
A prefeitura mobilizou o Gabinete de Crise, envolvendo Defesa Civil, Seinfra, Comurg e SET, mas as medidas emergenciais evidenciam a reação tardia da gestão frente a problemas estruturais crônicos. Até o dia seguinte, foram registradas 32 quedas de árvores e rompimentos de adutoras em áreas como a Avenida Vera Cruz, provocando alagamentos em várias regiões.
O radar meteorológico, segundo especialistas, pode melhorar a previsão e monitoramento das condições climáticas, mas seu impacto é limitado sem obras estruturais.
“Radar meteorológico permite alguma previsibilidade sobre regiões em que chuvas serão mais intensas, possibilitando que agentes de trânsito interrompam a circulação de carros em vias comprometidas e a Defesa Civil emita alertas em áreas de risco. Mas não previne nem elimina os infortúnios climáticos e ambientais”, afirma o urbanista Fred Le Blue, em entrevista exclusiva ao jornal O HOJE.
Fred Le Blue critica especialmente a Marginal Botafogo: “A Marginal Botafogo não é mais segura nem mesmo com céu de brigadeiro e deveria ser totalmente interditada até que estudos técnicos verifiquem se as chuvas de setembro e janeiro comprometeram a canalização do córrego. A ponte da Avenida Universitária apresenta armaduras de pilares rompidas e corrosão generalizada. O projeto original de Attílio Côrrea Lima previa um cinturão verde preservado em toda extensão do córrego, mas invasões, grilagens e doações de terras públicas, somadas à construção da marginal sem planejamento sustentável, destruíram essa visão”.
O especialista alerta que o radar pode reduzir riscos apenas de forma emergencial e pontual. “Trata-se de uma solução preventiva de curto prazo importante, que pode salvar vidas, mas não toca na raiz do problema, que é a falta de permeabilização do solo. Apenas com o Plano Diretor de Drenagem Urbana e implantação de uma ‘cidade espongiária’, com jardins de chuva, parques alagáveis e telhados verdes, será possível mitigar os impactos das chuvas”, explica Le Blue.
Segundo o urbanista, um sistema de previsão mais preciso poderia reduzir riscos não apenas no trânsito, mas também em moradias e serviços públicos. Para isso, é necessária integração com ferramentas como o sistema federal “Defesa Civil Alerta”, que permite disparar mensagens de aviso e orientações via telefonia celular em áreas de risco iminente.
“É essencial que os dados meteorológicos sejam vinculados a uma ação coordenada de prevenção, não apenas monitoramento”, acrescenta.
Os recentes danos mostram que a cidade segue vulnerável. Na Marginal Botafogo, contenções de concreto cederam, causando trincas no asfalto e interdição parcial da pista. A Seinfra realiza obras emergenciais, enquanto a Comurg cuida da remoção de entulhos.
Especialistas também alertam para impactos ambientais, como o arraste de grama sintética nos canteiros da Avenida Castelo Branco e da Rua 44, substituindo vegetação natural e comprometendo a infiltração e qualidade do solo.
O prefeito reforça cuidados durante chuvas intensas. “Essas chuvas passam em meia hora, 45 minutos. Não continuem o caminho. E, ao parar, nunca fiquem debaixo de fios ou coberturas frágeis. Quarenta e cinco minutos podem custar uma vida”, disse Mabel.
O coordenador da Defesa Civil, Robledo Mendonça, também alertou a população: “Árvores podem cair sobre veículos, ruas podem ficar alagadas com enxurradas capazes de arrastar carros e pessoas. Se estiver em segurança, permaneça até tudo se acalmar”.
Para Fred Le Blue, mudanças climáticas exigem reflexão sobre planejamento urbano. “Investimentos em tecnologia são bem-vindos, mas sem planejamento sustentável, drenagem eficiente e recuperação de áreas naturais, os riscos continuarão. Precisamos pensar cidades como ambientes capazes de mediar o construído com o natural, e não apenas em equipamentos que avisam quando o desastre já está a caminho”.
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