O primeiro fim de semana pós-julgamento passou e não houve as manifestações aguardadas — nem de lulistas comemorando, nem de bolsonaristas xingando. Jair Bolsonaro foi mais notícia por ter ido ao médico, acompanhado de um batalhão de seguranças mobilizados pelo Supremo Tribunal Federal, do que pela iminência de começar a cumprir os 27 anos a que foi condenado. Pegou o triplo da pena média para assassinos, que é de 9 anos; a máxima para estupradores é de 10 anos.
As conversas já tratavam do pós-Bolsonaro, com a chapa composta pelos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP) e Romeu Zema (Novo/MG). Zema entraria não por causa do Novo, um nanico de gente qualificada, mas devido ao gigantismo de Minas, com 21,5 milhões de habitantes — três vezes mais que Goiás.
Para o Centrão, tudo é morango do amor
Nesta segunda-feira, 15/9, Tarcísio passa a dar expediente em Brasília. O propósito oficial é juntar apoio no Congresso Nacional para aprovar a anistia aos envolvidos no 8/1. Porém, só pensa naquilo: a Presidência da República.
O Centrão transforma mandioca em morango do amor, pois, ao mesmo tempo em que reivindica a anistia, ela está na mesa de dois de seus filiados: o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), e Davi Alcolumbre (UB). Por que não agem? Vai lendo.
Anistia à parte, a realidade é que o governador “carioca de São Paulo” trata de limpar o beco, eliminar resistências e se apresentar palatável ao centro — sem o aumentativo. Há outras duas tarefas principais: uma que foi chamada de impossível e já está resolvida (ser o escolhido do bolsonarismo) e outra que está difícil, colocar no mesmo grupo seu Republicanos, o PL de Bolsonaro e a federação União Progressista, do governador Ronaldo Caiado (UB) e do senador Ciro Nogueira (PP/PI).
Que fazer com os demais sonhadores
Os outros governadores que sonham com a Presidência da República ficariam com a incumbência de atender à reivindicação de Jair Bolsonaro e qualificar o Senado, atualmente nivelado por baixo, tanto à esquerda quanto à direita.
Ronaldo Caiado (UB/GO) e a dupla do PSD, Eduardo Leite (RS) e Ratinho Jr. (PR), se candidatariam a senador com vitória garantida e qualidade assegurada. Falta combinar com os russos, conforme se lê mais à frente.
Um caso especial é o de Leite, que bate recordes em cima de recordes: é o primeiro governador reeleito da História do Rio Grande do Sul, o primeiro homem casado com outro a chefiar um Executivo estadual e, em 2021, chegou a renunciar ao cargo para tentar o Palácio do Planalto. Perdeu, porém, para João Doria (53,99% a 44,66%) na consulta interna do PSDB, sua sigla à época.
Essa turma inteira, fora o PL, tem ministérios com Lula — três do UB, três do PSD e um do PP (que também comanda a Caixa, maior que qualquer outro ministério). Além de fazer do coração tripas, o Centrão precisa ser estudado pelos professores dos engenheiros da Nasa, porque dá expediente na Esplanada dos Ministérios, atravessa a rua para articular a anistia dos bolsonaristas e pede audiência com integrantes do STF, reafirmando-se obediente ao Judiciário.
Papel estranho também é o de seus presidenciáveis, que não demonstram autoridade sequer para tirar do governo os colegas de legenda — nem Ciro, que ainda deseja a vice de Tarcísio, pois enfrenta dureza na reeleição ao Senado no Piauí.
A estranha quietude dos bolsonaristas
Depois da estupefação inicial com as penas excessivas da 1ª Turma do STF para Bolsonaro e sete de seus ex-auxiliares, as abóboras foram se acomodando em cima do caminhão. Três dias depois, nota-se redução na grita inicial — nada de paralisação de aeroportos e rodovias, nada de parlamentares acorrentados no Congresso, nada de explosão nas mídias sociais.
Deu a entender que Bolsonaro é ruim de amigo, pois foi decisivo na eleição de 120 deputados federais, mais de 200 estaduais, 20 senadores, centenas de prefeitos, milhares de vereadores — e nada desse exército se movimentar em prol de seu capitão.
A quietude faz entender que, além da esquerda, muita gente na própria direita lucra com o fato de Bolsonaro sair do páreo. Grande parte dos aliados quer a sua bênção, não a sua companhia; deseja suas bases, não os seus discursos.
Qualquer dos governadores que virar presidente (para isso ainda terão de vencer um tal de Lula, que retomou o favoritismo), ou até seu filho Eduardo ou sua esposa Michelle de Paula, nenhum será igual a Bolsonaro em relação a negociar com partidos (ou seja, não negociar, pois ele é radical) e passar a mão na cabeça de malandro (ele prefere passar fogo).
Difícil fazer governadores, fácil se eleger ao Senado
Dos governadores pré-candidatos a presidente, o único tranquilo para 2026 é o próprio Tarcísio de Freitas, com reeleição assegurada em São Paulo. Ratinho Jr., Eduardo Leite e Romeu Zema estão com problemas para fazer o sucessor no Paraná, no Rio Grande e em Minas. Em Goiás, o candidato de Ronaldo Caiado empata nas pesquisas.
O oposto ocorre quando a pretensão é a deles mesmos para o Senado: serão eleitos sem gastos exagerados. A complicação será na hora de convencê-los a desistir da Presidência.
Em 2022, deu tempo de Leite voltar a Porto Alegre, recompor a equipe e se eleger governador novamente. No próximo ano não haverá essa possibilidade. O caso mais sui generis é o de Caiado, que tentou em 1989 e agora aparenta distância de arregar.
Algo de que se orgulha é da própria coragem. Em particular, diz aos mais próximos que não vai desistir, não abre mão nem da cabeça de chapa para ser vice e, muito menos, para voltar ao Senado, de onde saiu com rapidez em 2018. Porém, é prático, como já se rememorou em O Hoje: completou 70 em 2019, ano em que virou governador, e terá 77 na próxima campanha.
Ou seja, os demais que esperem: Zema e Tarcísio estrearam na política sendo governadores; Caiado tem idade para ser avô de Ratinho (44 anos) e de Leite (40).
Alguém aí se dispõe a colocar o guizo no pescoço do gato?
O post Bolsonarismo quer Senado forte e Tarcísio-Zema enfrentando Lula apareceu primeiro em O Hoje.