Um saltitante Hugo Motta (Republicanos-PB) estava ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na hora em que a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal anunciava mais de 27 anos de prisão para seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). Cada qual em seu gabinete do governo, também permaneciam sob comando de Lula os quatro ministros e o presidente da Caixa Econômica indicados pela federação União Progressista (UPb), formada por PP e UB, o partido do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Motta, o saltitante, foi eleito presidente da Câmara com apoio de PL e PT se comprometendo a colocar em pauta o projeto de anistia para os envolvidos no 8 de Janeiro. Até ontem, nada, e ainda estariam dando satisfação ao STF descartando a possibilidade. E ontem mesmo, uma hora depois de a ministra Cármen Lúcia começar a ler o voto que oficializava a condenação de Bolsonaro, o Datafolha publicava a pesquisa definidora da permanência dos colegas de agremiação de Caiado na equipe de Lula. A aprovação do presidente passou de 24% para 35% e a reprovação, de 32% para 29%. Um salto gigantesco. Na aterrissagem, o presidente da UPb e do PP, o senador bolsonarista Ciro Nogueira, chegou a ameaçar de expulsão seus filiados ministros, mas até agora nada lhes aconteceu.
Quem quer saber de propósito?
A federação UPb tem um pré-candidato a presidente da República, é Caiado, já houve lançamento, está percorrendo o Brasil, divulga suas propostas durante entrevistas, enfim, cumpre o que se espera de alguém com um propósito. Mas esbarra na personalidade fraca dos colegas. Por mais frágil que seja a aliança UB-PP, e é, ela foi feita sob o argumento de retomar o País entregue à esquerda.
Quem quer saber disso? O ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), quer ser senador pelo Maranhão, um Estado entregue à esquerda, mais precisamente ao Partido Comunista do Brasil, em cinco mandatos do agora ministro do STF Flávio Dino (dois de deputado federal, dois de governador e um de senador). E o Maranhão continua sendo o Estado mais pobre do País, tem 676.028 CLTs e 1.197.658 Bolsas-Família. Fufuca vai encontrar porta larga ao lado do Bolsa-Família ou da CLT?
Mais um salto triplo de Lula
Por isso, vai se tornando difícil para Caiado aglutinar as lideranças do PP e até as de seu partido. O DNA desse pessoal é fazer tudo o que for preciso para sobreviver nas urnas. O que está sendo um desafio para o governador de Goiás, o julgamento de Bolsonaro e sete de seus auxiliares, o tempo todo foi triplamente bom para Lula. Além de mandar para a cadeia uma fornada de adversários, abafou a CPI do INSS e impediu de repercutirem os números ruins da gestão: R$ 59,1 bilhões de déficit em julho, pior resultado da década; dobrou o rombo nos Correios; trabalhadoras mães de 2 milhões e 300 mil crianças de até 3 anos não encontram vaga em creches.
Com a parte ruim neutralizada e a boa amplificada, Lula persiste na crença de que o saltitante Maia e o quinteto violado da UPb não o abandonarão. Por qual motivo o fariam? Basicamente, são seres anódinos, sem destaque nacional algum para temer a execração em aeroportos e rodoviárias (caso a demagogia os convença a alguma vez entrar em ônibus que não seja da CVC). O que querem é o poder, que só conseguem com emendas ao Orçamento. Aprovar anistia e deixar ministérios seriam demonstrações de loucura, muito mais que de fidelidade aos companheiros.
Milhares de cargos e ninguém quer largá-los
A oposicionista UPb tem milhares de cargos no Governo Federal. Os principais foram indicados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP), que colocou Waldez Góes no Ministério da Integração, e pelo presidente anterior da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que indicou Carlos Antônio Fernandes para a presidência da CEF.
Não existe sequer ambiente para forçar Lira e Alcolumbre a entregar os cargos de seus afilhados. E só há duas maneiras de eles obedeceram à decisão da UPb e entregarem os cargos: 1) se seus padrinhos mandarem; 2) se Lula pedir.
Então, está mais fácil o Maranhão passar São Paulo no ranking do desenvolvimento.
Desenvoltura de Tarcísio e pesquisa fura-olho movem o chão
O discurso duro do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no 7 de Setembro praticamente o catapultou à candidatura de presidente da República pela base bolsonarista. Os outros governadores da direita, Ratinho Jr. (PSD) do Paraná e Romeu Zema (Novo) de Minas Gerais, além de Ronaldo Caiado, se quiserem tentar, terão de contar apenas com as próprias pernas – nem partido para isso terão.
Caiado está penando no saco de ratos que é o UB e Zema é filiado a um nanico, mas o pior quadro é o de Ratinho. A desenvoltura de Tarcísio arrancou elogios da família Bolsonaro e, igualmente, do dono do PSD, Gilberto Kassab. O filho do apresentador do SBT é tido como o melhor governador da história do Paraná, porém, Kassab está interessado é na cadeira de Tarcísio – caso ele se levante dela para peitar Lula, Kassab será candidato a governador de São Paulo. Assim como o UB, o PSD conta com três ministros, o da Agricultura, Carlos Fávaro; de Minas e Energia, Alexandre Silveira; e da Pesca, André de Paula. Como UB e PP, o PSD finge que não é com ele e nem tchuns para entrega dos cargos.
Outro sinal estranho foi dado por institutos de pesquisa que passaram a incluir a opção Ronaldo Caiado para senador. O governador já descartou essa possibilidade, que seria ótimo para seu vice, Daniel Vilela. Limitado a Goiás, o senatoriável Caiado pegaria na mão de seu pupilo e o arrastaria pelos municípios. Até onde se conhece o governador, isso não ocorrerá: em 1989, ele se manteve firme mesmo sem partido, sem aliança, sem experiência, sem mandatos, sem nada nas pesquisas. Agora, que chega a ter 13% para presidente, é mais fácil Donald Trump mudar para Nova Iorque no Maranhão do que alguém convencê-lo de que ele está fora da briga. E nada fortalece mais um Caiado do que dizer que ele não dá conta de lutar.
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