O desempenho do setor de biscoitos, massas alimentícias, pães e bolos industrializados manteve-se em alta no primeiro semestre de 2025, confirmando a tendência de expansão registrada no ano anterior. De acordo com levantamento realizado pela NielsenIQ, a chamada Cesta Abimapi — que reúne esses produtos — faturou R$ 33,8 bilhões entre janeiro e junho, uma alta de 3,9% em relação ao mesmo período de 2024.
O resultado mostra a força de um segmento que tem se adaptado às transformações no consumo e às pressões de preços em um cenário de economia em recuperação. Segundo o presidente executivo da associação que representa o setor, apesar da melhora do emprego e do aumento da massa salarial, o consumidor está cada vez mais seletivo e racional ao comprar. “Há uma busca por equilíbrio. O shopper avalia mais, compara preços e busca alternativas que mantenham conveniência e qualidade sem comprometer o orçamento”, afirma.
Consumo e canais de venda
Um dado que chama atenção é a representatividade do atacarejo (Cash & Carry). Esse canal respondeu por mais de 30% do faturamento do setor no semestre, com preços médios 9% mais baixos em relação ao restante do mercado. A estratégia de compra em maior volume e valores reduzidos tem atraído consumidores que buscam praticidade, principalmente famílias de renda média.
Outro fenômeno observado é o crescimento das marcas menores e mais competitivas em preço, que avançaram em participação e giro, mesmo sem desbancar as líderes do setor. Para analistas, isso revela um consumidor mais aberto a experimentar novas opções, em especial diante de ajustes de orçamento.
400 mil toneladas comercializadas no semestre.
Bolos em alta
Entre as categorias monitoradas, os bolos industrializados foram o principal destaque do semestre. O segmento faturou R$ 1,4 bilhão, crescimento de 15,7% em valor e 8,3% em volume, com 32,6 mil toneladas comercializadas.
Dentro da categoria, o desempenho mais expressivo ficou por conta das misturas para bolos, em especial as opções tradicionais, que representam 75,8% da importância em volume e giro. Já no segmento de bolos prontos, o produto industrializado concentra 41% da participação. Esse crescimento indica uma tendência clara de consumo prático aliado a momentos de indulgência, já que o produto ocupa espaço tanto em refeições rápidas quanto em ocasiões de lazer.
Pães mantêm ritmo de expansão
Os pães industrializados também mantiveram trajetória positiva no semestre. O faturamento chegou a R$ 8,3 bilhões, alta de 7,8%, enquanto o volume avançou 3,5%, atingindo 400 mil toneladas.
O destaque ficou para os pães de hambúrguer e de hot dog, que cresceram em giro mesmo com aumento expressivo de preços — 13,2% e 7,2%, respectivamente. Para especialistas, isso ocorre porque esses produtos ainda figuram entre os mais acessíveis dentro da categoria, e são cada vez mais utilizados em refeições feitas em casa. “Os dados refletem o comportamento de quem busca economizar, substituindo refeições fora do lar por alternativas práticas e de menor custo dentro de casa”, avalia o presidente executivo da associação.
Massas sob influência do preço
As massas alimentícias tiveram crescimento de 4,2% em faturamento, movimentando R$ 7,7 bilhões no semestre, com 654,2 mil toneladas consumidas. As massas do tipo “caseiro” foram as que melhor responderam, crescendo em volume e giro sem alteração significativa de preço.
Em contrapartida, segmentos como “grano duro” e “ovos” apresentaram retração de vendas, reflexo do aumento do preço médio em 6,8% e 1,6%, respectivamente. Essa movimentação indica que, diante da inflação, os consumidores priorizam versões mais acessíveis, mesmo mantendo o hábito de consumo.
Biscoitos: substituto dos chocolates
No caso dos biscoitos, o desempenho foi mais moderado. O setor registrou faturamento de R$ 16,4 bilhões no primeiro semestre, alta de 1,1%, mas apresentou queda de 4,9% em volume, com recuo de 765,9 mil para 728,5 mil toneladas.
Apesar da retração, subcategorias como biscoitos cobertos e cookies ganharam espaço, indicando uma busca por prazer e qualidade a preços mais acessíveis. Segundo análise da NielsenIQ, esse movimento está diretamente ligado ao aumento do preço dos chocolates, que subiram 16,4% nas gôndolas no período. “O consumidor age racionalmente e encontra nos biscoitos uma possibilidade de substituição, conciliando sabor e economia”, observa o chefe de Pequenas e Médias Empresas para a América Latina na consultoria.
Panorama de 2025 e expectativas
Os números de 2025 se somam ao balanço positivo de 2024, quando a Cesta Abimapi cresceu 4% em volume. Pães industrializados, bolos e massas foram as categorias que sustentaram esse avanço, enquanto a farinha de trigo apresentou queda em faturamento, mesmo com alta no volume vendido.
Em 2024, os pães industrializados faturaram R$ 15,5 bilhões, alta de 8,3%, e cresceram 6,5% em volume. Já os bolos industrializados somaram R$ 2,64 bilhões, crescimento de 7,7% em valor e 2,3% em volume. O segmento de massas movimentou quase R$ 15 bilhões, crescendo 4% em faturamento e 4,9% em volume. Por sua vez, os biscoitos atingiram R$ 33,1 bilhões, com expansão de 2,1% em valor e 1,6% em volume.
O único setor em retração foi o da farinha de trigo doméstica, cujo faturamento caiu de R$ 5,3 bilhões para R$ 4,8 bilhões, uma queda de 9,6%, apesar do crescimento de 5% em volume. O desempenho foi afetado por condições climáticas e pela intensa segmentação do mercado, mas a expectativa da indústria é de recuperação em 2025, com ajustes de preços.
Um setor em transformação
Para os representantes do setor, os dados revelam a complexidade e a maturidade da indústria de alimentos no Brasil. O comportamento do consumidor reflete tendências distintas: de um lado, a busca por conveniência e indulgência; de outro, a necessidade de adequar o consumo à realidade financeira.
“O setor vive ciclos diferentes em cada categoria. Enquanto pães e bolos avançam em ritmo acelerado, as massas se ajustam ao movimento de preços, e os biscoitos mostram uma transição em que o prazer ainda é buscado, mas dentro de limites orçamentários. Isso reforça a importância de estratégias específicas para cada segmento, com foco em portfólio, diferenciação e eficiência na gestão”, resume o presidente executivo da entidade.
Com base nesse cenário, a expectativa é que o setor mantenha trajetória de crescimento em 2025, ainda que marcado pela seletividade do consumidor e por uma concorrência cada vez mais acirrada.
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