Viralizou a megaoperação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) em dez Estados brasileiros. E Goiás estava entre eles. A investigação vai contra o discurso da atual gestão do Estado, comandada pelo governador Ronaldo Caiado (UB-GO), que ressalta a eficiência das políticas de segurança pública de seu governo. O Estado foi destaque na área de segurança pública em 2024 e, de acordo com a comunicação institucional da gestão, a atuação preventiva tem sido uma marca do governo, que tem como objetivo desarticular facções, combater o tráfico de drogas, armas e atuar no uso estratégico de tecnologia e inteligência para identificar e neutralizar ameaças. Segundo a atual gestão, os roubos a instituições financeiras permanecem zerados em Goiás pelo segundo ano seguido.
Para o cientista político Lehninger Mota, o crime atual não se assemelha a atividades ilícitas que ocorriam antigamente. “Essa operação mostra, como o próprio nome diz, que o crime é organizado. O crime não é mais aquele crime de violência onde as pessoas entram em conflito portando armas. As fintechs estão em todos os lugares, elas possuem braços em todos os lugares por meio de empresas, de postos de combustíveis, times de futebol… É um crime arraigado.”
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Há cerca de três meses, no seu perfil de rede social, Caiado fez uma fala apelativa contra a atuação do PCC no País. “O Brasil está escondendo a verdade, não tem coragem de entender que nós estamos vivendo uma guerra não declarada. Não existe nenhuma instituição mais poderosa na América Latina que o PCC. Pode juntar todos os bancos brasileiros que [mesmo assim] não tem a capacidade que o PCC tem hoje. E o Brasil quer tratar tudo isso dizendo ‘não, é um roubo de celular’, ‘ah, é um roubo de uma carga de combustível’, ‘ah, é um roubo de uma área de apartamento’. Não é isso! É uma facção criminosa que tem o objetivo de comandar o País politicamente e administrativamente”, declarou o governador.
Ao O HOJE, a Polícia Civil de Goiás afirmou que já desenvolve ações permanentes de combate ao crime organizado. “A Polícia Civil de Goiás informa que desenvolve de forma permanente ações de enfrentamento ao crime organizado em suas diversas modalidades de atuação criminosa. A instituição, por meio de suas unidades especializadas e delegacias regionais, tem executado investigações e operações estratégicas que visam identificar, desarticular e responsabilizar integrantes de organizações criminosas que atuam tanto em Goiás quanto em outras unidades da federação”, ressalta a Gerência de Comunicação da Polícia Civil de Goiás / PCGO.
Complexidade das facções
Mesmo com êxito significativo relacionado à segurança, o governo estadual não foi capaz de evitar a inclusão de Goiás na lista de Estados investigados por serem campo de atuação do crime organizado, sendo tal crime um assunto frequentemente abordado pelo chefe do Executivo goiano, que demonstra repudiar ações de facções, sobretudo, no Estado. Todos os suspeitos da megaoperação integram um esquema bilionário de fraudes que envolve lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e tributária no setor de combustíveis, controlado pelo PCC, em Goiás e outros nove Estados brasileiros. Mota fala do orgulho que o governo estadual possui de ter reduzido a criminalidade em Goiás e destaca a complexidade das facções.
“Para combater o crime hoje, é necessário muita inteligência. Não é algo que se faz apenas por meio de policiamento preventivo. O Caiado se orgulha muito de ter reduzido bastante a criminalidade em Goiás, principalmente os assaltos e roubos a carros. Já o crime organizado é mais complexo”, pontua.
Compreende-se que o combate ao crime organizado é, prioritariamente, de responsabilidade do governo federal, tanto é que uma das principais autoridades que se mobilizaram contra a facção foi a Polícia Federal. Em território goiano, a ofensiva foi coordenada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em apoio ao Ministério Público de São Paulo e ao Ministério Público Federal. Também participaram a Receita Federal e a Polícia Militar.
Assim, torna-se evidente que, em relação a esse caso, a política de segurança Caiadista não foi eficiente de forma a prevenir ações do crime organizado que, na Operação do Carbono Oculto, movimentou mais de R$ 70 bilhões. “Para combater o crime hoje, é necessário muita inteligência. Não é algo que se faz apenas por meio de policiamento preventivo. O fato de ter criminosos do PCC no Estado de Goiás não descredibiliza o trabalho do Caiado na área de segurança pública, mas mostra que a questão do combate ao crime é muito mais complexa do que ele imaginava, que não basta apenas utilizar a ronda extensiva para combater o crime. A coisa é muito mais complexa e são necessários outros mecanismos de inteligência”, conclui Motta. (Especial para O HOJE)
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