As relações diplomáticas entre Brasil e Israel atingiram um patamar de tensão nesta terça-feira (26). O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de ser um “antissemita declarado” e “apoiador do Hamas”, em reação à decisão do governo brasileiro de retirar o país da Aliança Internacional para Memória do Holocausto (IHRA). A declaração, divulgada no X, foi acompanhada de uma montagem criada por inteligência artificial em que Lula aparece como marionete do líder supremo do Irã, Ali Khamenei.
Em sua publicação, Katz afirmou que a decisão aproxima o Brasil de “regimes como o Irã”, país que “nega abertamente o Holocausto e ameaça destruir o Estado de Israel”. O ministro declarou ainda que a medida representa “vergonha para o maravilhoso povo brasileiro” e disse acreditar que “dias melhores virão para a relação entre os países”. Katz relembrou que, quando foi chanceler, chegou a declarar Lula “persona non grata” após falas do presidente sobre o Holocausto.
A saída do Brasil da IHRA foi oficializada na última semana pelo Itamaraty. A justificativa do governo é de que a participação no organismo, iniciada em 2020, será substituída por mecanismos multilaterais de combate ao antissemitismo no âmbito das Nações Unidas. Lula, por sua vez, tem se posicionado de forma crítica à ofensiva israelense em Gaza.
Diante das declarações de Katz, o Ministério das Relações Exteriores reagiu de maneira dura. Em notas oficiais, o Itamaraty repudiou os ataques pessoais contra o presidente brasileiro e comentou sobre o ataque que ocorreu na véspera. “Espera-se do sr. Katz, em vez de habituais mentiras e agressões, que assuma responsabilidade e apure a verdade sobre o ataque de ontem (…) que provocou a morte de ao menos 20 palestinos, incluindo pacientes, jornalistas e trabalhadores humanitários”, diz o trecho de uma das notas.
Em outro comunicado destacou que “hospitais e unidades médicas gozam de proteção especial pelo Direito Internacional Humanitário” e que ofensivas contra essas estruturas podem configurar crimes de guerra, à luz das Convenções de Genebra de 1949. O Brasil também defendeu a realização de uma investigação independente e imparcial, sob coordenação das Nações Unidas, para apurar as responsabilidades pelo episódio.
O hospital Nasser, o maior em funcionamento na região sul de Gaza e último ainda ativo em Khan Younis, foi atingido por dois mísseis em sequência. Testemunhas relataram que a segunda explosão ocorreu poucos minutos depois da primeira, quando equipes de resgate e jornalistas já estavam no local. Essa prática, conhecida como “double tap”, é considerada uma violação grave das normas internacionais, pois tem como consequência atingir civis, socorristas e profissionais da imprensa.
Segundo autoridades locais, cinco jornalistas morreram no ataque. Eles trabalhavam para veículos como Reuters, Associated Press e Al Jazeera. O episódio também deixou dezenas de feridos. A Defesa Civil de Gaza informou que essa foi a 26ª vez que equipes de resgate foram alvo durante operações desde o início da guerra.
O Exército israelense confirmou o bombardeio, mas afirmou não ter tido a intenção de atacar jornalistas ou civis. Em nota, disse lamentar “qualquer ferimento entre pessoas não envolvidas”. Um relatório preliminar do próprio Exército mencionou a presença de uma “câmera posicionada pelo Hamas” nas proximidades do hospital, o que teria motivado a ofensiva. Ainda assim, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou o episódio como um “erro trágico”.
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