Bruno Goulart
A derrota sofrida pelo governo Lula (PT) na eleição para o comando da CPMI do INSS abriu uma crise imediata na articulação política e expôs a fragilidade de sua base parlamentar. Senadores que historicamente integraram a linha de frente em defesa de gestões petistas agora avaliam pular fora do barco antes que o desgaste eleitoral de 2026 recaia sobre eles. Eduardo Braga (MDB-AM), líder do partido no Senado, e Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente da Casa, sinalizaram nos bastidores que pretendem deixar a comissão, numa espécie de “debandada silenciosa” que atinge o governo.
A frustração foi tamanha porque havia um acordo alinhavado entre Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) para garantir a presidência da CPI ao senador Omar Aziz (PSD-AM), aliado direto do Planalto. Aziz, no entanto, perdeu para o oposicionista Carlos Viana (Podemos-MG), que colocou Alfredo Gaspar (União-AL) na relatoria. Em outras palavras: o governo confiou na articulação, mas a oposição trabalhou nas sombras e venceu.
Aliados?
O efeito imediato foi a desmobilização da base. Braga e Renan, que já não tinham entusiasmo com a CPI desde o início, passaram a considerar sua permanência insustentável. Como se diz por aí, “ninguém vai defender um governo que não se defende sozinho”. Em ano pré-eleitoral, o risco de se queimar em nome de um Planalto desarticulado é maior que o ganho político de manter a fidelidade.
A possível saída dos dois emedebistas representa um golpe na estratégia do governo. Eles são figuras centrais do Senado, com histórico de trânsito em todos os blocos políticos e peso suficiente para segurar embates duros. Se realmente deixarem a comissão, o lulismo perde escudos importantes e a narrativa da oposição tende a prevalecer com mais facilidade.
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Não se trata apenas de matemática parlamentar. É simbólico que até mesmo senadores que sempre jogaram na defesa de Lula considerem inviável bancar a atual condução política. A oposição, por sua vez, enxergou nessa brecha a oportunidade de transformar a CPI em palco de desgaste, a exemplo da comissão da pandemia, que deixou Jair Bolsonaro fragilizado em 2021.
Irmão de Lula
Entre os alvos da vez está José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), entidade citada no escândalo de descontos ilegais em aposentadorias. Requerimentos de convocação e até de quebra de sigilo já foram protocolados por senadores bolsonaristas e pelo relator Gaspar. O recado é direto: não haverá trégua e o Planalto será colocado contra a parede.
A liderança governista tenta reagir. Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, reuniu-se com parlamentares logo após a derrota, e Randolfe Rodrigues (PT-AP) assumiu pessoalmente a culpa pela falha na articulação. Ainda assim, nem mesmo a confissão de responsabilidade foi suficiente para conter a sensação de abandono entre aliados.
Ausências
O governo insiste que mantém maioria na CPI, mas o cenário é mais instável do que os números sugerem. Graças a um arranjo administrativo na Câmara, que colocou PT e PL no mesmo bloco, suplentes de direita podem substituir titulares governistas em votações, o que cria situações de surpresa. Em outras palavras: a qualquer ausência estratégica, a oposição pode avançar ainda mais.
Esse ambiente gera um dilema para Renan e Braga. Permanecer significa enfrentar um colegiado hostil, onde a agenda será ditada pela oposição, com risco de desgaste público. Sair significa deixar o governo à deriva, sem as vozes mais experientes para equilibrar o jogo. De todo modo, o sinal que enviam é inequívoco: Lula não tem hoje aliados capazes de blindar seu governo quando mais precisa. (Especial para O HOJE)
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