A Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia, suspendeu nesta quarta-feira, 20 de agosto, todos os atendimentos médicos após um impasse envolvendo os anestesiologistas da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas de Goiás (Coopanest-GO) e a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Fundahc).
A decisão foi formalizada por meio de ofício assinado pelo diretor técnico da maternidade, Harley Ricardo Rodrigues, que determinou o encerramento das atividades assistenciais a partir das 19h, citando o Código de Ética Médica e a necessidade de resguardar a segurança das gestantes.
De acordo com o documento, a medida foi comunicada à Fundahc, ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), ao Ministério Público, ao Samu, à Polícia Civil e ao Corpo de Bombeiros, garantindo que todas as autoridades responsáveis tivessem ciência da situação.
Apesar da paralisação, a Fundahc informou que a maternidade segue atendendo casos de urgência e emergência, e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) enviou equipe para reorganizar os fluxos de atendimento no local.
A suspensão dos atendimentos na unidade de saúde ocorre em um contexto mais amplo de crise nas maternidades de Goiânia. Em julho deste ano, o Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara também registrou a interrupção de partos e cesarianas, diante da ausência de contratos e de dívidas acumuladas.
A prefeitura anunciou que encerrará, até o fim de agosto, os convênios de gestão com a Fundahc, transferindo a administração das unidades para organizações sociais (OSs) contratadas emergencialmente.
A Coopanest-GO detalhou que a interrupção foi motivada pelo não repasse de R$ 1.431.967,53 pela Fundahc, referentes a pagamentos devidos desde setembro de 2024. Os médicos anestesiologistas mantiveram os atendimentos por quase um ano, mesmo sem receber os valores, mas decidiram interromper as atividades diante da inexistência de qualquer proposta de negociação.
Os profissionais eram responsáveis por todos os atendimentos que exigiam anestesia e sedação, incluindo partos normais, cesarianas e procedimentos como curetagem.
A Universidade Federal de Goiás (UFG), vinculada à Fundahc, acusou a prefeitura de criar uma narrativa falsa para justificar a ruptura. Em nota, a instituição afirmou que não houve descumprimento contratual e que todos os repasses foram aplicados integralmente nas maternidades.
A UFG destacou ainda que as paralisações representam alertas sobre a insuficiência de recursos diante da falta de repasses da SMS, que acumula uma dívida de R$ 158,5 milhões desde 2018, principalmente durante a gestão do ex-prefeito Rogério Cruz.
Em resposta à situação, a Fundahc garantiu que a restrição de serviços na Maternidade Nascer Cidadão está sendo controlada e que os atendimentos deverão ser retomados. No entanto, a fundação ressaltou que ainda não recebeu respostas da SMS sobre a dívida existente e que não há planejamento claro para implementação de um novo modelo de gestão, cenário que gera insegurança entre os profissionais e impacta diretamente a estabilidade dos serviços de saúde.
A Secretaria Municipal de Saúde, por sua vez, afirmou que repassou mais de R$ 115 milhões à Fundahc em 2025 para a gestão das maternidades e destacou que o fornecimento de insumos e medicamentos é de responsabilidade da fundação.
A SMS ainda informou que mantém consultas ambulatoriais e assistência aos pacientes internados, e que gestantes com quadros não urgentes são redirecionadas à Maternidade Dona Íris, ao Hospital das Clínicas ou ao Hospital Estadual da Mulher. A secretaria ainda reforçou que a paralisação evidencia a necessidade de mudança no modelo de gestão das unidades.
O impasse afeta diretamente a população, sobretudo gestantes que dependem da maternidade para partos e procedimentos cirúrgicos. Especialistas e representantes da saúde apontam que a suspensão temporária dos atendimentos de anestesia compromete a segurança e a regularidade dos serviços, aumentando o risco de atrasos em partos e procedimentos de urgência.
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