Bruno Goulart
A inesperada derrota do governo Lula (PT) na eleição para a presidência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS abriu um novo flanco de tensão em Brasília. O senador Carlos Viana (Podemos-MG), candidato apoiado pelo PL e por parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), venceu o senador Omar Aziz (PSD-AM), que era o nome articulado pelo Palácio do Planalto em acordo com as cúpulas da Câmara e do Senado. O placar de 17 votos a 14, registrado na quarta-feira (20), foi considerado um “erro grave” pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e um recado claro das fragilidades da base aliada.
A expectativa do Executivo era consolidar o comando da CPMI com Aziz na presidência e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) na relatoria. A composição tinha o aval dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). No entanto, a base governista foi surpreendida pela articulação da recém-criada federação União Progressista, que uniu forças com a oposição e entregou a presidência ao bloco oposicionista. Viana, uma vez eleito, indicou para a relatoria o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), também crítico ao governo.
Excesso de confiança
Em análise ao O HOJE, o cientista político Lehninger Mota avaliou que a derrota se deveu a um “excesso de confiança” do Planalto. “O governo achou que, ao articular com os presidentes da Câmara e do Senado, a questão estava resolvida. Mas se esqueceu de negociar com a base mais ampla, com aqueles que efetivamente votariam. Esse erro estratégico gerou um grande prejuízo num momento em que as notícias vinham melhorando para o governo”, afirmou.
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Segundo Mota, a oposição deve explorar ao máximo o episódio. “Eles vão agarrar isso com unhas e dentes. Em um cenário de notícias favoráveis ao governo, essa CPMI pode ser o palco para reverter o jogo. É provável que a maioria das manchetes geradas a partir das sessões seja negativa para o Planalto”, disse.
“Bons momentos para Lula”
Apesar da derrota política, a deputada federal Adriana Accorsi (PT) minimizou o impacto da CPMI. Ao O HOJE, destacou que o governo atravessa um bom momento e que o presidente Lula mantém liderança folgada nas pesquisas para 2026. “O governo está em um excelente momento. O presidente Lula também. Ele aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas para reeleição e cresce em aprovação em todos os Estados, inclusive Goiás. Não estamos preocupados com a CPMI do INSS. Ela só vai refletir o trabalho que já está sendo realizado pela AGU [Advocacia-Geral da União] e pela Polícia Federal”, afirmou.
Accorsi lembrou que as fraudes no sistema previdenciário têm origem em gestões anteriores. “Essas irregularidades se consolidaram com o afrouxamento dos controles no governo Bolsonaro e foram finalmente interrompidas e desbaratadas no governo Lula. Cabe agora aprofundar responsabilidades, punir os reais culpados e blindar o sistema contra novos golpes”, pontuou.
A parlamentar ressaltou ainda as medidas já adotadas pelo Executivo. “O governo agiu rápido para reparar os danos. Em agosto, liberou R$ 1,08 bilhão para ressarcir de imediato 1,6 milhão de aposentados e pensionistas lesados. Culpados já estão sendo investigados e presos, e R$ 2,8 bilhões em bens já foram bloqueados”, disse.
Falhas reconhecidas
O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, também reconheceu falhas na condução da eleição. O parlamentar pelo Amapá admitiu que a capacidade de articulação da oposição foi subestimada e assumiu parte da responsabilidade pelo revés.
Ainda que a CPMI do INSS dificilmente alcance a dimensão da CPI da Covid, que desgastou o governo Bolsonaro em 2021, o episódio sinaliza risco de turbulência. Naquele momento, o isolamento social e as transmissões ao vivo deram grande repercussão às sessões. Agora, a conjuntura é distinta, mas a presidência da comissão nas mãos da oposição representa, na prática, a criação de um palco prolongado de questionamentos ao governo. (Especial para O HOJE)
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