O mercado náutico, antes associado a um universo restrito e elitizado, atravessa uma fase de democratização sem precedentes no Brasil. Impulsionado pela demanda por lazer ao ar livre no pós-pandemia, o setor vem atraindo novos consumidores por meio de modelos de acesso mais flexíveis, como aluguel de embarcações, propriedade compartilhada, consórcios e financiamentos. Essa transformação, aliada a inovações tecnológicas e a novas regulamentações, abre espaço para oportunidades de negócios em diversas regiões do país, incluindo Goiás, que aposta no turismo náutico e de pesca como motores de desenvolvimento.
De acordo com o estudo Global Boat Rental Market Outlook 2022-2032, da consultoria Future Market Insights, o mercado mundial de aluguel de barcos deve dobrar de tamanho até 2032. No Brasil, a indústria náutica emprega cerca de 150 mil pessoas por ano e possui potencial para crescer ainda mais graças às riquezas naturais e à diversificação de serviços.
Para Thalita Vicentini, diretora do Grupo Náutica, responsável pelos principais Boat Shows da América Latina, essa abertura de mercado é estratégica: “Essa modalidade de consumo favorece o crescimento da indústria, especialmente em países emergentes como o Brasil. Aqui, temos uma oportunidade imensa de expansão”.
Modelos acessíveis e novos perfis de consumidor
A flexibilização do acesso é o grande motor dessa mudança. Se antes ter um barco era sinônimo de altíssimo investimento, hoje o consumidor pode optar por modalidades mais acessíveis, como o aluguel pontual, as cotas náuticas (propriedade compartilhada) e a compra por meio de linhas de crédito e consórcios. Essa diversificação estimula o ingresso de novos públicos e aumenta o giro econômico do setor.
Segundo Vicentini, “a indústria inova a cada ano trazendo opções para todos os perfis e bolsos. O mar deixou de ser privilégio de poucos e ampliou sua participação”.
Sustentabilidade e a corrida pelo metanol
Entre as tendências que prometem transformar o setor está a adoção de combustíveis mais limpos, como o metanol. Segundo estudo da MarketsandMarkets Research, o mercado de navios movidos a metanol, hoje avaliado em US$ 4,2 bilhões, pode atingir US$ 30,9 bilhões até 2035 — um salto de mais de sete vezes em pouco mais de uma década.
A mudança é impulsionada por três fatores: pressão ambiental da Organização Marítima Internacional (IMO), alinhamento das empresas a práticas de ESG e vantagens logísticas do metanol, que é mais fácil de armazenar e manusear do que outras alternativas. Fabricantes na Ásia e na Europa já estão à frente dessa transição, mas o Brasil pode se beneficiar ao incorporar essa tecnologia em sua produção e operação náutica.
Nova regulamentação aquece turismo de experiências
Outro marco recente é a atualização da NORMAM-212 pela Marinha do Brasil, que autoriza estabelecimentos de aluguel de motos aquáticas a oferecer passeios guiados. A medida cria um novo nicho de mercado, permitindo que turistas sem habilitação náutica vivenciem experiências seguras, conduzidas por guias especializados.
Essa mudança democratiza o contato com a navegação e pode gerar impactos diretos no turismo, com aumento da demanda por instrutores, guias, manutenção e equipamentos. Regiões com águas navegáveis, como litorais, lagos e represas, tendem a ganhar com a inclusão dessa modalidade em seus pacotes turísticos.
Mercado náutico deve dobrar no mundo até 2032
Goiás mira protagonismo no turismo náutico
Goiás vem se posicionando como destino estratégico para o turismo náutico e de pesca esportiva. O estado é privilegiado por grandes lagos e rios navegáveis, como Paranaíba, Serra da Mesa e, principalmente, Corumbá IV, que se destaca pela navegabilidade e pela proximidade com Goiânia, Anápolis e Brasília.
Além disso, o Rio Araguaia, um dos mais piscosos do mundo, atrai campeonatos como Gigantes do Araguaia, Rainhas do Araguaia, Circuito Goiano de Pesca Esportiva e Tucuna Queen, apoiados pelo Governo de Goiás.
Segundo o presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral, eventos como o São Paulo Boat Show são vitais para divulgar o potencial do estado: “A partir do nosso posicionamento em feiras e eventos segmentados, podemos atrair novos investimentos e transformar a realidade de cidades que antes não se posicionavam como destinos turísticos”.
O objetivo é também fomentar negócios nos setores imobiliário, de marinas e de embarcações, gerando empregos e renda em cadeias produtivas que incluem hospedagem, gastronomia e comércio.
O engenheiro e diretor da Marina Itajaí, Carlos Gayoso de Oliveira, acredita que Goiás pode seguir caminho semelhante: “Com visão estratégica e união entre setor público e privado, regiões com potencial hídrico e turístico podem gerar empregos, atrair investimentos e transformar sua economia”.
Potencial bilionário
Nos Estados Unidos, a indústria náutica de lazer movimenta cerca de US$ 230 bilhões ao ano e mantém uma frota de mais de 11,5 milhões de embarcações registradas. No Brasil, o mercado ainda é modesto — vende menos de 2% do volume norte-americano — mas já demonstra excelência na produção e exportação.
Se alcançar proporções semelhantes, mesmo que de forma proporcional ao PIB, o setor poderia gerar mais de 1 milhão de empregos no país. Em Goiás, esse movimento poderia criar uma nova frente econômica, unindo turismo, esporte, lazer e negócios.
No cenário atual, as águas brasileiras e goianas estão mais convidativas do que nunca. A combinação de acessibilidade, inovação, sustentabilidade e políticas estratégicas pode transformar o Brasil — e Goiás — em protagonistas da navegação mundial nas próximas décadas.
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